A agenda de shows de Virgílio é invejável. Nesse ano, ele vai fazer mais de 20 shows no período das festas juninas e ainda tem empresário na fila de espera. Vai ter dia com três shows por noite. Já no clima do São João, no início desta semana, o cantor lançou a música "Tô com saudade de você", do compositor Black Anderson, de Santo Antônio de Jesus. O clipe da música, com participação do forrozeiro cearense Alcymar Monteiro, está disponível no YouTube. A música é um forró romântico e a aceitação tem sido excelente, diz a produtora do cantor baiano.
Ícone do forró na Bahia, Virgílio nasceu em Santiago de Iguape, distrito de Cachoeira, no Recôncavo Baiano. A paixão pelo gênero musical vem desde a infância, quando no período do São João, Virgílio ficava na porta de casa com o rádio de pilha do pai, ouvindo o Trio Nordestino, enquanto seus colegas ficavam nas ruas de Santiago do Iguape soltando fogos de artifício e pulando fogueira.
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“Eu sonhava ser cantor, de forró", lembra. O tempo passava e o filho de Seu Aurélio, pescador, e de dona Maria Natividade Lisboa, marisqueira, só pensava nisso. Dona Maria teve 18 filhos. A vida naquela época era difícil, Virgílio lembra das madrugadas em que saía para pescar com Seu Aurélio. Houve uma época em que os Lisboa se mudaram para Salvador, mas Seu Aurélio se recusou a deixar Santiago de Iguape, apesar do apelo dos filhos.
Até chegar a cantar forró, Virgílio passou por três bandas: a "Supersom", "Circuito Fechado" e "Made in Bahia". Ele cantava de tudo: axé, MPB, imitava Maria Bethânia, Gal Costa, Caetano Veloso. Cantava até em inglês, mesmo sem dominar o idioma! No repertório não faltava a "Banda Chicago" e não é que o povo gostava! Ah, no repertório tinha também música de duplo sentido, porque estava na moda na época.
“Luís Caldas estava estourado com Fricote, uma parceria com Paulinho Camafeu, e eu cheguei com Neguinha do Borocochô, de Geraldo Pita", conta. Virgílio lembra dos versos: “O que tu tem neguinha / Conta pra mim / Você parece que tá assim, assim, assim…" Foi sucesso, emplacou rapidinho e o sonho de ser forrozeiro foi aos poucos se aproximando.
Os convites começaram a fluir, uma oportunidade aqui, outra ali, quando surgiu o convite para puxar o Bloco Tiete Vips no Carnaval de Salvador. Virgílio viu ali uma excelente oportunidade, gravou uma fita cassete com Surra de Cacete, também de Geraldo Pita – o mesmo compositor de Neguinha do Borocochô - e levou para o radialista Cristóvão Rodrigues, da Rádio Itapoan. Cristóvão cumpriu a promessa que tinha feito a Virgílio de ajudá-lo. O que Virgílio e Cristóvão não esperavam era que a Polícia Federal entrasse em cena.
"Vivíamos o período da ditadura e a censura federal foi pra cima da Itapoan e mandou tirar a música da programação". Avisado por Cristóvão, Virgílio não perdeu tempo e foi à Polícia Federal falar com a delegada que o havia censurado. O cantor recorda com riqueza de detalhes o encontro com a delegada, quando implorou para que ela suspendesse a censura. Para convencer a policial, ele contou toda sua história de luta, de menino do interior que sonhava em ser cantor de forró. Virgílio fez um drama e conseguiu sensibilizar a delegada. "Ela pensou, pensou e foi taxativa: então mude a letra e coloque porreta no lugar de cacete" (risos). Ele fez a mudança, regravou a música e ficou tudo certo.
Altos e baixos na carreira de Virgílio
Quando pergunto sobre os altos e baixos da carreira, Virgílio lembra das pessoas que o ajudaram nessa jornada musical: Cristóvão Rodrigues, Manolo Pousada, Binha, Dida, Baby Santiago, Carlos Borges. Virgílio lembra do tempo que não tinha roupa nem sapato para se apresentar na tevê. Por falar em sapato, a primeira vez em que ele calçou um sapato foi para se apresentar na televisão.
O cantor fala que até hoje quando entra em um shopping e vê um tênis All Star de cano longo lembra de quando chegava na Tv Itapoan todo acanhado por causa da roupa simples que estava usando. Ele já fazia sucesso, mas ainda não ganhava dinheiro para se vestir como gostaria. Era recebido pelo jornalista Carlos Borges que dizia: "isso é jeito de artista se apresentar na tevê?" E mandava trocar a camisa com Dida, que fazia parte da equipe do artista.
Uma boa lembrança foi a amizade que fez com Carlinhos Brown. Os dois se conheceram na porta da WR. Carlinhos frequentava a casa de Virgílio, sentava no chão e mostrava as composições dele para o amigo. Nessa época, Brown tinha um jipinho e andava nele pra cima e pra baixo. Entre as músicas dele gravei Yayá Maravilha e Dez litros de licor, um hino. Brown escreveu: “Eu já tomei mais de dois litros de licor pra ver se esqueço o sabor do teu amor. É São João e eu aqui tão só te procurando...".
Tive o prazer de receber Virgílio em minha casa para essa entrevista. Ele foi muito gentil em vir até aqui conversar comigo e meus vizinhos devem ter se deleitado com a voz do cantor, afinal ele encerrou a entrevista cantando Yayá Maravilha, de Carlinhos Brown. "Minha Yayá, eu vim te ver. Pro bem do meu olhar. Minha Yayá seu nego quer. Seu dengo…." Ah!! Virgílio abre um sorriso e me conta que Carlinhos Brown dizia que ele era o maior cantor da Bahia.
Wanda Chase
Wanda Chase
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