Muito curioso, ainda criança, Ishmael já demonstrava certa vocação para a futura profissão e ficava atento às conversas dos frequentadores daquelas mesas. Foi lá que um dia ouviu a história de uma personagem que, até hoje, não se sabe se é lenda ou se realmente existiu: Rita Quebra-Cama, famosa por ser a iniciadora sexual de muitos jovens na cidade de Pindaí, na divisa da Bahia com Minas.
Hoje, já passados cerca de 25 anos desde que Ishmael ouviu falar pela primeira vez daquela mulher, eis que ela inspirou o título do primeiro livro do jornalista, O Curioso Destino de Rita Quebra-Cama e Outros Contos, que será relançado hoje, às 19h, na Livraria Cultura do Salvador Shopping.
Vidente
“Depois que me formei em jornalismo, fui atrás da história dela e descobri que ela realmente existiu, embora talvez haja algo de lenda em torno das histórias dela. E eu gosto tanto do nome dela que ele, por si só, já renderia uma história”, revela Ishmael.
No conto que dá título ao livro, Queila Regina é uma mulher muito religiosa e de uma família muito tradicional. Filha do prefeito da cidade, tudo que ela quer é casar com um homem de bem e ser uma boa dona de casa. Mas um dia ela vai consultar uma conhecida vidente que lê, num copo d’água, o futuro das pessoas. “Mas lá ela se surpreende quando a vidente lhe diz que seu futuro é outro”, diz Ishmael, que, nesta história, faz referências a outro elemento que marcou sua infância: os circos mambembes que passavam pelo interior.
Todos os contos do livro estão ligados direta ou indiretamente ao universo sertanejo baiano. Numa outra história, A Pessoa é Para o que Nasce, um avô e um neto entram em conflito depois que o jovem, que foi morar na cidade, retorna para a roça com novos hábitos. “É uma alegoria para falar do embate entre a tradição e o moderno. Gosto de criar esses choques, essas tensões entre os personagens”, diz o autor.
Há ainda um toque de realismo fantástico num outro conto, Beato Conceição. “Nesta história, eu me inspiro naqueles milagreiros, as figuras messiânicas do sertão”, diz Ishamel. O tal Beato Conceição é convocado pela população de uma cidade para realizar o milagre da chuva na cidade que está à beira do colapso por causa da seca. Mas, para trazer a chuva, ele impõe uma condição: que o povo abra mão de seus bens mais luxuosos e os ceda aos que não têm. Surge aí uma nova situação de conflito narrada pelo autor.
Literatura
Nascido em Serrinha e filho de uma família humilde - seu pai é marceneiro prestes a se aposentar -, Ishmael não tinha muito acesso a livros e a biblioteca municipal era precária. Na escola, quase não havia livros para consulta. O jeito era recorrer a uma tia que morava perto dele, que recebia livros dos filhos que moravam em Salvador.
Foi ali que Ishmael teve contato com os autores que mais o inspiram, como Jorge Amado (1912-2001), Guimarães Rosa (1908-1967), Graciliano Ramos (1892-1953) e José Lins do Rêgo (1901-1957). “Aos treze anos, já havia lido tudo de Jorge Amado e até Grande Sertão Veredas”. lembra-se.
Amante também da poesia, Ishmael conseguiu na sua estreia literária o aval de uma de suas poetisas favoritas: Mabel Velloso, que assina a orelha do livro. “Ela disse que havia gostado muito dos textos e temos uma relação mútua de bem-querer”, diz o autor. As ilustrações do livro são de Juraci Dórea e o texto da contracapa é de Xangai, muito íntimo do universo do sertão.
Ishmael vai lançar em breve o livro no Rio de Janeiro e depois pretende ir a São Paulo. E já faz planos para dar continuidade à carreira de escritor, afinal uma outra editora já manifestou interesse numa nova publicação. “Mas desta vez, pretendo escrever um romance. Estreei com contos apenas para ganhar fôlego”.
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Redação iBahia
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