Viajar o mundo é um sonho distante para muitos, mas que está se tornando realidade para o jornalista Hailton Nunes. Em um ano, ele pretende percorrer 33 países, começando pela América do Sul e terminando na Oceania. São vários os desafios, principalmente o de arcar com as despesas. É por isso que, nessa viagem, a palavra de ordem é economia.
Para conseguir juntar dinheiro, o jornalista cortou custos de todas as formas: deixou de sair com os amigos, parou de ir ao cinema e comprar livros. Além disso, em março, resolveu voltar para a casa dos pais, em Camaçari.
Aos 26 anos, Hailton tinha dois empregos estáveis e morava sozinho em Salvador. Ele já pensava em fazer um mestrado no exterior, mas foi apenas neste ano que decidiu dar uma pausa na carreira e cair no mundo. “Percebi que a ideia do mestrado era só uma desculpa para viajar. Ainda sou jovem. Não me preocupo em não ter a garantia de um emprego. A minha profissão me permite trabalhar de qualquer lugar”, diz.
Hailton Nunes largou empregos, deixou de sair com os amigos e voltou para a casa dos pais: com a economia, juntou dinheiro para realizar o sonho de conhecer o mundo (Foto: Acervo Pessoal) |
O jornalista conseguiu juntar cerca de R$ 30 mil para a viagem. Contudo, ele admite que o valor não será suficiente para o ano inteiro, por isso pretende arrumar ocupações remuneradas durante o percurso. “Dá pra trabalhar por um tempo sem necessariamente ter um vínculo longo, como em hostels. Posso fazer trabalhos como freelancer também. Enfim, se eu tiver que trabalhar com qualquer coisa, eu faço. Não tenho problema com isso. Mas, se em algum momento a coisa apertar demais, volto pra casa”, avalia.
Início A volta ao mundo começou no dia 2 de setembro, quando ele chegou em Chuí, cidade uruguaia que faz fronteira com o Brasil, após três dias de trajeto. Em quase dois meses de viagem, o jornalista já visitou 27 cidades do Uruguai, Chile, Argentina e Bolívia. Até então,uma das experiências mais marcantes foi a visita às casas onde viveu um de seus poetas favoritos, Pablo Neruda – em Santiago, Valparaíso e Isla Negra, no Chile.
Por ser um grande fã de futebol, quando esteve em Buenos Aires, fez questão de ir aos estádios do River Plate e do Boca Juniors, os dois maiores clubes da Argentina. Além disso, pôde acompanhar de perto uma partida entre San Lorenzo e Racing. “Me encantei por essa experiência futebolística e não vejo a hora de pisar em um outro campo na viagem”, conta.
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Também como parte do projeto, Hailton criou o Reconhecendo Amigos, um blog onde documenta a viagem e divide a experiência com a família, amigos e outros mochileiros. “É algo bem pessoal que resolvi compartilhar, pois acho que posso ajudar outros viajantes. A gente aprende com as experiências dos outros. Muitos viajantes me ajudaram a fazer o que estou fazendo agora”. Apesar de estar viajando sozinho, diz que nunca fica completamente desacompanhado. “Sempre acabo conhecendo outras pessoas que estão viajando, quase nunca estou só. Tem muita gente que também viaja com rotas, aí a gente marca de se encontrar pelo caminho”, diz.Por onde passa, o jornalista vai conquistando novos amigo (Foto: Acervo Pessoal) |
Fitinhas A cada destino, o viajante faz novos amigos. Porém, isso significa também que é chegada a hora de se despedir daqueles que conheceu no destino anterior. “Às vezes, a relação de dois dias é mais profunda do que a de meses”, confessa ao admitir que dizer “tchau” é uma das suas maiores dificuldades.
É por isso que, como uma forma de presentear os amigos que faz pelo caminho, Hailton distribui fitinhas do Senhor do Bonfim. “Trouxe dois rolos para a viagem e estou dando para aqueles que têm tido importância nessa jornada. Quando os presenteio, explico o significado e também falo da Bahia, claro”.
EconomiaQuanto às despesas, Hailton programou gastar, enquanto estiver na América Latina, 20 dólares por dia. Com a queda do real, entretanto, os gastos já estão sendo repensados. Exemplo disso é que pretendia ficar três meses na Europa. Contudo, devido ao cenário econômico instável, encurtou o roteiro no continente pela metade, evitando as grandes capitais. Londres e Madri, por exemplo, vão ficar de fora. A viagem se concentrará nos países do Leste Europeu, como a Hungria, Romênia e Bulgária, que são mais baratos.
Para economizar ao máximo também com a hospedagem, fica em casa de amigos e utiliza o couchsurfing, opções gratuitas. Quando ele se hospeda em hostels, costuma não fazer reservas, já que não é possível negociar preços pela internet. Em vez disso, ao chegar na cidade de destino, faz uma pesquisa de preços caminhando.
Por falar em caminhar, este é outro costume que Hailton adquiriu durante a viagem. Para evitar usar ônibus de turismo, que geralmente cobram mais caro, ele prefere pedalar ou caminhar até os lugares. “Quando iniciei a viagem, era bem sedentário, comecei a andar de bicicleta aqui. Agora caminho muito, todos os dias. Faço bastante trekking”, diz.
Estrada da Morte, em La Paz, na Bolívia: destino desejado |
No passeio à Laguna Cejar – uma lagoa onde a centração de sal é tão alta que os corpos não afundam –, em San Pedro de Atacama, no Chile, Hailton fez o percurso de 18km do centro da cidade até o ponto turístico de bicicleta. “O que posso fazer de bicicleta, eu faço. Se eu fosse de tour, ia ser muito mais caro. Além disso, posso realizar as coisas no meu tempo”.
O jornalista admite ter aprendido a viver com o mínimo necessário. “Estamos acostumados com muito mais do que precisamos”, conta. Para evitar comprar roupas e ter que carregar na mochila o que não usa, por exemplo, ele começou a trocar peças com outras pessoas. “Eu chego em tendas de souvenires e pergunto se alguém ali tem interesse em trocar as roupas por algo. Tenho uma bermuda mesmo que até agora não usei, aí quero trocar por um casaco”.
Mesmo assim, ele diz que existem passeios dos quais não abre mão, mesmo custando um pouco mais. “Tem alguns lugares que eu não posso deixar de visitar, aí economizo com outras coisas. Em La Paz, na Bolívia, por exemplo, quero fazer a Estrada da Morte. O segredo é saber priorizar as coisas”, conclui.
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