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SALVADOR

Lei que proíbe venda de bebidas após 22h em postos muda hábitos

Lei municipal nº 8.258, que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nos postos a partir das 22h, entrou em vigor este mês

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27/05/2012 às 13:44 • Atualizada em 28/08/2022 às 12:47 - há XX semanas
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Tá de bobeira em casa, sem fazer nada, ‘os parceiro’ chama, vou pro posto! Vê a mulherada, tomar gelada, largar meu som, tô no posto! Êta tá bombando, não tem polícia pra embaçar, to no posto! Cornetas de trio e bichos papões vão batendo, to no posto! Toma aê pagodão, chão! A negona no chão, chão! Desce no swingão, chão! Sacanation negão, chão! Nem parece o início de uma reportagem. E não é mesmo. Mas vale cada palavra. Poucas músicas de pagode conseguem retratar tão bem uma realidade. A letra Hit do Posto, da banda A Bronkka, traz à tona o universo das festas espontâneas nos postos de gasolina de Salvador. Talvez nem os integrantes do grupo saibam, mas esse tipo de manifestação simplesmente acabou de uma semana para cá. Motivo? A lei municipal nº 8.258, que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nos postos a partir das 22h, entrou em vigor este mês. Uma lei seca que praticamente acaba com as “festas de largo” que eram realizadas nesses locais. Noite de quinta-feira, falta pouco para as 22h. À essa altura o Hiperposto, na avenida ACM, já estaria bombando. O vendedor Fernando Aragão ainda não sabe da nova lei. Estranha o movimento fraco. Liga o som de seu Corsa, mas não chega a estarrar. Bebe uma long neck de 51 e várias Skols com quatro mulheres que não param de dançar. Costuma finalizar a noitada no posto, mas gosta tanto das festas ali que às vezes passa a noite inteira. “Vim desde cedo para entrar madrugada adentro bebendo no posto. Bem que eu vi que tava meio vazio”. A medida pegou ele e muita gente de surpresa. Fernando, a namorada e três amigas nem acreditam que dentro de alguns minutos não teriam mais acesso às bebidas. “É sério? Só queria dizer que eles acabaram com a nossa principal diversão. É no posto que as meninas se assanham de verdade”, afirma Fernando, justificando sua decepção. Ao mesmo tempo, todos sabem que não faltam alternativas. “Porreta isso. A gente sai daqui e vai para as barracas do Imbuí então”, diz Silvana Ferreira, 24 anos, a mais empolgada das quatro. O CORREIO visitou dez postos de combustíveis na capital baiana. Alguns simplesmente deixaram de ser 24h e passaram a fechar as lojas no horário em que a lei determina a proibição. “O que pagava os nossos custos de abrir na madrugada era a venda de bebidas. Agora não tem mais por quê”, disse Luciano Gonçalves, um dos funcionários do próprio Hiperposto. Todos os que se mantêm abertos 24h respeitam a nova lei à risca. Usam lacres, fitas adesivas e até cadeados nas geladeiras. O engenheiro João Alves, 57 anos, “bateu com a cara” no freezer do Posto do Namorado, na Pituba, antes um dos mais movimentados da cidade. “Não soube dessa lei, não. É um absurdo. Mas vou comprar minha cerveja no supermercado aqui perto”, desdenhou. Vários clientes à procura de bebidas também são vistos nos postos Chaminé, no Rio Vermelho, e Novo Bairro, também no Itaigara.
Silêncio e portas fechadas substituíram o barulho
EspetinhoPassa da meia noite de quarta-feira no Posto Chame-Chame, rua Sabino Silva, Barra. Noite de jogo do Vitória. Um dos principais pontos boêmios de Salvador parece um cemitério. Desde as 22h, o Bar Espetos e Crepes, que funciona na área do posto, não serve os chopps famosos na região. Torcedores desavisados mudam rapidinho para o bar mais próximo. Dos poucos lugares de Salvador que antes atravessava a madrugada aberto, agora só serve para um happy hour. Os mais de dez barris de chopp que eram vendidos em uma noite caíram para quatro. O Espetinho, como é conhecido, é a prova de que não apenas as lojas de conveniência são enquadradas pela lei. Basta estar no espaço do posto. “O bar da esquina está aberto. Qual o sentido da lei? O barulho? Os bares também fazem barulho”, reclama a gerente, Regina Santos. Os garçons começam a recolher tudo. “Deu meia noite agora. Antes a gente ia até 4h”, disse um garçom. Com o fim das bebidas nos postos, não tem mais A Bronkka no som. E nem a bronca dos vizinhos. “Voltei a dormir tranquila”, comemora Ana Oliveira, que mora em um prédio próximo ao Espetinho. Autor do projeto de lei, o vereador Paulo Câmara explica a motivação. “Em Diadema (SP) os bares não vendem bebida depois de 22h. A cidade deixou de ser a mais violenta do país. Em Londres, terra dos pubs, ninguém bebe a partir de 0h”. Por coincidência, o CORREIO encontrou o escocês Patrick Hunt, que mora em Londres, tomando uma gelada no Posto Centenário. “Essa lei de Londres acabou há uns 20 anos”, entregou. Prejuízos, demissões e liminarO Sindicato do Comércio de Combustíveis da Bahia (Sindicombustíveis-BA) entrou com pedido liminar na Justiça para tentar reverter a lei 8.258. A assessoria do sindicato, porém, não tem informações sobre em que nível está a ação. Certeza mesmo só dos prejuízos. Alguns estabelecimentos, como o posto Ponto Novo, na Paralela, já demitiram funcionários. “Saiu uns três colegas e agora a gente fecha 22h?”, disse uma funcionária, que preferiu não se identificar. Quem ainda não demitiu ameaça reduzir os quadros. “A gente vai pagar nossa mão de obra como?”, perguntou Regina Santos, gerente do posto Chame-chame. Quanto aos desempregos, o vereador Paulo Câmara, autor do projeto, emenda com outra pergunta. “O que vale mais, uma vida ou um desempregado? Isso é desculpa de quem só quer lucrar”. O vereador critica o desvio de função dos estabelecimentos. “Em primeiro lugar, posto é para vender combustível”. Câmara acredita que esse é um primeiro passo para que bares e restaurantes deixem de vender bebidas tarde da noite. “Essa lei é só o início de algo maior. A ideia é proibir todos os estabelecimentos de vender depois de meia noite. Quer beber, beba em casa”. Polêmica e divisão de opiniõesA lei que proíbe a venda de bebidas começa a render discussão. Os argumentos contrários e a favor são diversos. “A lei tem que proibir de dirigir alcoolizado. Se não quer que eu dirija bêbado, fiscalize com blitz”, criticou o técnico em radiologia Luciano Dias, que tomava seus últimos goles antes de a máquina de chopp do Posto Chame-Chame ser lacrada. “Se o pessoal faz barulho demais nos postos, chama a Sucom. Cria-se a lei para suprir a deficiência dos órgãos de fiscalização?”, indaga o fisioterapeuta Manuel Costa, 30. Autor do projeto de lei, o vereador Paulo Câmara diz que o problema é a facilidade de acesso a bebidas em postos. Câmara afirma que 97% das pessoas que consomem bebidas alcoólicas nesse tipo de estabelecimento vão com o próprio carro. A limitação do horário reduziria os acidentes de trânsito. “O cara chega de carro, compra facilmente, bebe a noite toda e vai embora de carro”. O vereador também afirma que os casos de poluição sonora, violência física, além de tráfico e uso de drogas nos postos são corriqueiros.

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