Implantar aparelho irregularmente pode dar cadeia, diz Conselho

Não importa se é só na base da ‘brodagem’, ou se não tem maldade: quem coloca um aparelho ortodôntico e não é um cirurgião-dentista está cometendo um crime, de acordo com o artigo 282 do Código Penal. “É exercício ilegal da profissão, com uma pena que pode levar de seis meses a dois anos de prisão. Mas quem compra não comete o crime, é apenas a vítima”, explica o coordenador de fiscalização do Conselho Regional de Odontologia da Bahia (Croba), Ramsés Ventura.

Implantar aparelho irregularmente pode dar cadeia, alerta Conselho (Fotos: Arte Correio)

Segundo ele, as pessoas que cometem esse crime instalam aparelhos sem conhecimento técnico e científico, e podem causar danos irreversíveis à saúde dos ‘pacientes’. “Eles acham que isso não vai trazer nenhum tipo de lesão para as pessoas, mas os danos existem”, garante Ventura. Justamente por isso, ele diz que o Croba intensificou as ações de fiscalização para reduzir esse tipo de procedimento. O problema é que a maior parte das pessoas que atuam no ramo praticam as ações delituosas em sua própria residência – o que dificulta o acesso das equipes de fiscalização e até da própria polícia. Em novembro do ano passado, a entidade conseguiu que a Justiça emitisse um mandado de busca e apreensão, o qual resultou na prisão de Wellington Santana dos Santos, 30, que se passava por dentista em Itapuã. “Ele fazia esse tipo de atividade, como colocar aparelhos, e foi preso em flagrante. Antes de atuar em Itapuã, ele trabalhou no Nordeste de Amaralina”, conta Ventura. A propósito, qualquer pessoa pode denunciar ao Croba alguém que estiver fazendo exercício ilegal da profissão de dentista (inclusive, anonimamente). Basta enviar um e-mail para [email protected] ou ligar para 3114-2527. Uso indevido entorta e provoca queda de dentes, dizem dentistas Cáries, perda óssea, queda de dentes, retração da gengiva, problemas de mastigação. Esses são apenas alguns dos riscos que um aparelho falso pode causar, de acordo com os dentistas ouvidos pelo CORREIO. Os danos vão desde a transmissão de doenças infectocontagiosas, “porque as pessoas não esterilizam o ambiente”, até a retenção de resíduos de alimentos. “Futuramente, com o acúmulo de bactérias, as pessoas podem ingerir as bactérias, que podem cair na corrente sanguínea e levar a uma doença chamada endocardide bacteriana, que leva à morte”, alerta o coordenador de fiscalização do Conselho Regional de Odontologia da Bahia (Croba), Ramsés Ventura.Além disso, por conta do tensionamento causado pelo aparelho, é possível que o dente fique “solto” na boca – preso apenas pelo próprio acessório. “Os dentes amolecem e quando a pessoa tirar o aparelho, eles vão sair junto”, ilustra Ventura. Para o diretor científico da Associação Brasileira de Ortodontia da Bahia, André Wilson Machado, professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), a moda dos chavosos está associada ao status econômico. “O investimento no sorriso é alto. Essa fatia da população está buscando isso. Só que é um absurdo porque pode fazer um mal à saúde da pessoa que é muito maior do que o status de estar de aparelho”, pondera. Os que mais procuram são os adolescentes mesmo, já que a maioria dos adultos não se interessa pelas cores fluorescentes, segundo Machado. “Na verdade, não é um tratamento. É um piercing, só que com milhares de consequências”, completa.