"Ao mesmo tempo em que eu vou num hotel de luxo, eu estou numa comunidade periférica. A minha vida é esse trânsito mesmo, sempre foi isso, é quem eu sou", disse o empreendedor e publicitário que inspira jovens negros por onde passa.
Essa segunda edição do "Preta Bahia" traz um pouco da história e das conquistas de Paulo Rogério, co-criador da Vale do Dendê e de tantas outras iniciativas que têm feito a diferença para os baianos.
Negro Drama
Nascido e criado no Alto da Santa Terezinha, Subúrbio de Salvador, Paulo não foi apenas a primeira pessoa a ingressar no ensino superior da família, como também foi o primeiro do bairro.
A perspectiva de vida dele mudou por meio de uma fita K7 com o álbum "Escolha seu caminho", dos Racionais MC's. A partir daí, ele criou consciência política e, com isso, as escolhas e iniciativas passaram a impactar a vida de muitas outras pessoas.
Paulo se define como "sonhalista e conectólogo" e diz que "independentemente da minha profissão, eu acredito que os sonhos, os ideais e as conexões têm que acontecer," ao iBahia.
Ao olhar o passado, o empreendedor admite o conflito que há em ser um homem negro e bem sucedido. Carreira e esforços deram acesso a locais pouco ocupados por pessoas negras.
Segundo a mãe, Zenaide Nunes, desde muito novo Paulo gostava de brincar com mapas, apontar países e decorar capitais. Na época, ele não imaginava que seria possível conhecê-los pessoalmente.
"Era muito pouco provável que eu conseguisse chegar até esses lugares, dado o contexto de onde eu nasci, e a realidade que me cercava", lembra.
Hoje, depois de conhecer mais de 20 países, frequentar universidades prestigiadas mundialmente, conhecer líderes como o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, Paulo analisa que a história dele não é fruto da meritocracia.
"Eu sempre falo que minha vida é uma exceção que comprova a regra, a regra de que pessoas que têm o mesmo histórico que o meu não tenham essa mesma oportunidade que eu tive", avalia.
Back in Bahia
"Não trocaria Salvador por nenhum outro lugar do mundo. Porque eu vejo que Salvador tem um potencial muito grande. Então, no meu tempo de vida, eu quero contribuir com essa cidade, para as pessoas daqui", afirma o filho de Paulo Valentino.
A cidade e o estado em que nasceu são grandes paixões, e os objetivos do empreendedor está em poder colaborar para que o grande potencial da Bahia seja valorizado e utilizado em benefício dos baianos.
Essa meta tem sido concretizada por meio de criações, entre elas a Vale do Dendê, que no 6º ano de existência já investiu diretamente em mais de 200 empresas e já impactou mais de mil outras, de maneira indireta com consultorias e workshops.
A criação mais recente de Paulo, ou co-criação como prefere chamar, a Afro.TV, produtora de conteúdo com foco no recorte afro, já tem clientes como Netflix e Aeroporto de Salvador.
Com a Afro.TV, Paulo Rogério sonha em transformar Salvador em um polo de produção audiovisual.
"Pelo padrão, nós teríamos que ir para São Paulo. Mas a gente quer inverter essa lógica, queremos dar espaço para os produtores daqui. Mas ainda é um desafio. É muito difícil empreender no nordeste. Então, a gente segue nessa batalha", reflete.
'Sonhalista'
Outro ponto que Paulo Rogério defende é o patrimônio histórico de Salvador. "O Centro Histórico tem um potencial muito grande, que eu só vi parecido em Roma, Istambul, entre outras cidades icônicas no mundo", conta.
Para além dos espaços físicos, o "sonhalista e conectólogo" de Santa Terezinha diz que o capital humano da Bahia é a maior potência. "A nossa baianidade, que é esse jeito especial da gente lidar com os problemas, essa forma de estar no mundo de maneira diferente. A nossa cultura é o nosso diferencial", afirma.
Ao olhar para Salvador, o amor de Paulo pela cidade se distancia do romantismo e encara a realidade: "precisamos trabalhar a questão da violência, das oportunidades. Não dá para todo dia termos um jovem negro morto, esse tipo de coisa só poda o nosso potencial", lamenta.
Mesmo com noção do longo caminho pela frente, ele também não desiste de ser otimista. "Eu acredito que Salvador tem o potencial de se transformar na capital da criatividade e da cultura do Brasil, quiçá da América Latina. Nossa essência como povo é muito rica e única. O mundo hoje está buscando o que a Bahia tem”, conclui.
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Redação iBahia
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