
Depois de algumas frustações com a modelagem, tamanho e aspecto de roupas que normalmente são vendidas em lojas de varejo, os baianos Hisan Silva, de 24 anos, e Pedro Batalha, de 25, decidiram criar uma marca com peças sem gênero, ajustáveis e sustentáveis - a Dendezeiro.
"O que a gente buscava a gente não achava nas lojas. A gente não achava roupas que coubessem em tamanhos diferentes, a gente não achava roupas que falassem sobre essa pluralidade. A gente não se via naquela imagem, a gente, enquanto pessoa preta, não se via fazendo parte daquilo. Então, a medida que a gente foi superando e se aproximando cada vez mais, entendendo as demandas do mercado, entendendo as nossas demandas pessoais, a gente entendeu. E assim surgiu a Dendezeiro", contou Hisan.
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O trabalho começou em 2019 com uma jardineira e, 3 anos depois e várias outras peças pensadas e produzidas pelos dois e equipe, os sócios já conseguiram realizar sonhos que previam para no mínimo uma década.
"A gente tinha as nossas metas. Daqui a 5 anos a gente vai fazer alguma coisa, daqui a 10 anos a gente vai fazer tal coisa, daqui a 15 anos a gente vai fazer tal coisa. E com nosso trabalho, nossos esforços, nossa resiliência, a gente conseguiu reduzir o tempo das coisas. Sonhos que a gente tinha com a expectativa de 10 anos, a gente conseguiu realizar em 3", disse Hisan.

Entre as conquistas, estão parcerias com empresas renomadas, como o Instagram e Converse, a presença na São Paulo Fashion Week deste ano, além de terem a marca figurada nas capas de duas edições da revista Vogue Brasil, sendo uma delas vestindo a cantora Juliette.
O destaque mais recente vai para uma coleção criada em colaboração com a rede de lojas C&A, que foi lançada nesta semana em várias partes do país e já deu o que falar entre as pessoas que acompanham as novidades do mundo da moda.
As peças, que podem ser encontradas em 30 lojas da rede no Brasil e no aplicativo de compras em todo o mundo, integram o projeto Identidades, que conta com a participação de outras marcas que têm atuações parecidas.
Em entrevista para a reportagem da editoria Preta Bahia desta semana, os sócios revelaram como tem sido a repercussão entre o público.
"O resultado foi maravilhoso. Em pouco tempo já esgotou muita coisa. E a gente viu muita marcação, muita gente mandando mensagem, dizendo que foi correndo para o shopping para poder comprar, para poder fazer parte daquilo também. Isso, para mim, foi o que mais valeu a pena. A gente conseguir compartilhar o sonho da gente, nossa identidade, nosso princípio do que a gente acredita enquanto moda, dessa vez com o Brasil inteiro", disse Pedro.

Essa realização profissional é algo que os baianos, nascidos e criados em bairros populares de Salvador, não esperavam quando tudo começou. O projeto foi ganhando força conforme a própria existência se consolidava entre os consumidores e os críticos.
"Todo caminho que a gente trilha, tudo que a gente conquista, a gente celebra, e, em seguida, a gente pensa: E o próximo passo? Para onde a gente vai agora? Como é que isso foi? Para onde a gente vai? O que a gente quer fazer? Porque a gente entende que o mundo é muito maior do que o universo do que a gente vive atualmente, do que Salvador, do São Paulo. O mundo é muito maior do que Brasil", contou Pedro.
Nesse processo, Hisan e Pedro também se especializaram para administrar, criar mais peças e fazer o negócio prosperar. Os sócios, que são formados em produção cultural, fizeram cursos para determinadas atividades e contrataram profissionais para outras.
"A gente procurou estudar tal coisa, hoje a gente tem uma equipe contratada para poder cuidar de determinadas partes. A gente foi aproximando, cada vez mais, esse dons que a gente já tinha de forma autodidata e foi profissionalizando, e aproximando outros profissionais para ela [Dendezeiro] continuar expandindo", explicou Hisan.

A experiência enquanto consumidores, ajudou os afroempreendedores a montar estratégias para o negócio. Durante o bate-papo, Hisan explicou que não é somente a roupa e a ideia. Para os dois, o produto vai além das peças produzidas e vendidas pela marca.
"A gente gosta de brincar que a roupa é a última coisa que a gente vende. Antes disso, a gente tem toda nossa comunicação, toda nossa fotografia, todo nosso audiovisual, toda nossa interação de arte, direção criativa, que também é um produto, e é pensado também como a gente mostra esse corpo para as pessoas nas nossas campanhas", brinca Pedro.
"Desde o Primeiro momento, a gente entendia que as campanhas, o visual, era algo muito importante, porque para gente, enquanto pessoa preta, até quando o produto existia no mercado, a gente não conseguia se ver dentro do produto, porque não existia a imagem", completou Hisan.
Os sócios contam que parte da inspiração para as coleções parte da Bahia, assim como o nome da marca. "Quando a gente se questionou que nome a gente colocaria na Dendezeiro, uma coisa que passou na nossa cabeça foi: 'Quando a gente estiver no Japão, na Europa, na China, seja lá onde a gente vá parar primeiro, que referência é que a gente quer que as pessoas tenham de onde a gente veio, sobre o que é que a gente fala, sobre o que é que a gente é?'. E a gente pensou em primeiro lugar que é a Bahia ", revelou Hisan.
Até então, as roupas exclusivas da Dendezeiro são vendidas somente no site da marca. E, apesar das peças serem ajustáveis, a preocupação e o cuidado com os clientes na hora da escolha move a empresa.

"É um lema da gente, uma coisa que a gente sempre fala, é que a roupa não foi feita para você abraçar ela, mas ela é feita para ela abraçar você. Você já tem identidade, você já tem seu conteúdo, você já tem sua cabeça, você já tem seu corpo. A roupa serve como uma linguagem que você utiliza pata poder falar", explica Hisan.
"Quando a gente se depara, por exemplo, com a maioria das roupas do varejo, a gente tem a sensação de que a gente está disputando com a roupa muitas vezes. Porque ela dá, às vezes, na parte da cintura, mas no quadril fica de uma forma, na coxa fica outra. A gente não tem o corpo uniforme. A gente sabe que do P ao GG tem uma infinidade de copos, e, para além disso, existe uma diversidade de biotipos também", completa Pedro.
Para o futuro, a expectativa dos baianos é crescer ainda mais e ajudar outras pessoas com as mesmas dificuldades que eles na hora das compras.
"Eu acho que o nosso sonho de constrói a parte do momento em que a história vai sendo contada. Então, a partir do momento em que a gente conta a nossa história, e vivencia, e avança no nosso trabalho, ali é uma parte do sonho que está sendo construído, é uma parte do nosso objetivo", disse Pedro, que seguiu comentando:
"O que eu quero é que as pessoas se sintam cada vez mais movimentadas e tocadas pela nossa pela nossa forma de enxergar o mundo, pela nossa forma de enxergar a moda. Como a gente consegue tocar o mundo em escala global com o nosso trabalho, e o que vier através disso é uma consequência que vai surgir no processo".

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Alan Oliveira
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