Quando Livia Suarez começou a praticar ciclismo em Salvador, ela não se sentia pertencente ao meio e não concordava com os direcionamentos e propósitos que os grupos de pedais tinham. Foi a partir desse incômodo que a baiana passou a encontrar outras mulheres negras que sentiam e pensavam como ela, e desenvolveu em 2015 um movimento de mobilidade representativo: La Frida.
"A La Frida foi criada através de um movimento de ciclistas negras aqui de Salvador, onde a gente começou a entender Salvador. Na verdade, eu já pedalava pela cidade e não me identificava nem com os grupos de pedais, não me identificava com as pautas, essas questões da roupa, a questão capitalista dos movimentos de bike".
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O projeto funciona de forma física no Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico da capital baiana, e originou em 2019 a criação de uma loja de bicicletas personalizadas e acessórios. Tudo pensado e desenvolvido para pessoas pretas, principalmente mulheres. Entre as várias atividades do movimento, estão pedaladas, cursos profissionalizantes de manutenção de bikes e ações culturais.
"A gente teve o trabalho de ensinar mulheres negras a pedalar, de promover pedaladas pela cidade, de promover cursos de mecânica, como uma forma de integrar a bicicleta com quem não tinha conhecimento. A La Frida é um movimento com ações, com projetos, tudo em pauta e incentivo de mobilidade de mulheres pretas", destacou.
Quando tudo começou, Livia já planejava todas essas coisas e sonhava grande. Em entrevista ao Preta Bahia desta semana, a afroempreendedora contou que é essa vontade de fazer ainda mais que a motiva e incentiva a estar em constante movimento pela causa. Dentro desse propósito, a marca lançará em dezembro deste ano um capacete para cabelos afros.
"Não havia um capacete para cabelos crespos, o diâmetro era muito pequeno, e as pessoas negras principalmente tinham muita dificuldade para ter um capacete adequado. Não cabia, não era o diâmetro adequado. A gente percebe que o perfil escolhido, o modelo, obviamente foi uma pessoa de cabelo liso e não de cabelo crespo", ressaltou.
A ideia surgiu em 2020, mas, diante da pandemia de Covid-19, precisou ficar guardada por um tempo. Livia conta que, além das dificuldades diante do cenário mundial, faltava profissionais especializados para a produção e dinheiro para custear tudo. Problemas que foram sendo resolvidos, e o equipamento de segurança saiu do papel para o mundo real.
"Para produzir um produto no Brasil, eu me deparei com muitas dificuldades. Primeiro, a falta de profissionais na área, segundo profissionais negros, porque a gente só queria profissionais negros fazendo esse capacete, e terceiro ponto dinheiro", disse.
Os capacetes foram todos produzidos em Salvador. Fato que Livia comemora e valoriza. "O produto já está pronto. Teve algumas modificações, porque a gente tinha que seguir algumas normas de proteção, e foi um produto fabricado totalmente na Bahia. Vai ter lá made in Salvador, made in Brasil, porque a gente fez questão de ter todos esses selos".
A pré-venda dos capacetes já aconteceu e eles ainda podem ser comprados. A comercialização é feita por meio do site do movimento La Frida. Além dos modelos já dispostos, dá para fazer pedidos por encomenda. O mesmo vale para as bicicletas e acessórios. Livia conta que o objetivo é sempre atender às necessidades e gostos das ciclistas.
"O objetivo basicamente é que as pessoas negras se sentissem contempladas nos meios de mobilidade da bicicleta. A gente entendeu essa dificuldade, esse não produto, e aí o objetivo é esse".
Também no site ficam disponíveis as outras ações do projeto. No momento, as pedaladas e as aulas para aprender a andar de bicicleta estão suspensas, mas devem ser retomadas. Tudo pode ser acompanhado na internet. Para o futuro, Livia pensa em expandir as ações e alcançar muito mais. E, para além disso, comemora os objetivos alcançados.
"Tudo que a gente fez foi de maneira coletiva, quanto o movimento, quanto a troca com o outro, nossas intervenções, aprendizado. Eu me sinto potente com essa troca".
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Alan Oliveira
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