“Passar uma tarde em Itapuã, ao sol que arde em Itapuã”. A canção ‘Tarde em Itapuã’, dos grandes artistas Toquinho e Vinícius de Moraes, é uma das produções que fizeram história no mundo da música e imortalizou a tradição desse bairro tão importante de Salvador. Famosa pelas belezas naturais, entre os séculos XVI e XVII, a localidade começou a ser formada a partir de uma vila de pescadores que exploravam a pesca da baleia, para produzir óleo refinado, o qual era utilizado na iluminação pública do centro urbano.
Segundo o historiador Rafael Barros, que também é morador do bairro, nesse período, a caça às baleias na Baía de Todos os Santos era muito valorizada por causa da matéria prima que provinha dos mamíferos.
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“Havia-se um investimento para que as pessoas escravizadas fossem pescar no bairro, para poder levar essa matéria-prima para toda Salvador, já que ela abastecia lamparinas, servia como argamassa para construção de casas, entre outras coisas”, contou Barros.
Com a diminuição no número de baleias que habitavam na região, os pescadores foram cada vez mais povoando a região.
Uma outra curiosidade envolve o nome do bairro. “Tem gente que diz que significa ‘pedra que ronca’, por conta de uma pedra que, durante a maré vazante, fazia um ronco muito alto, principalmente durante as noites. Também tem um outro ponto que diz que pode ser ‘pedra mais à frente’”, destacou Rafael.
Um dos espaços mais conhecidos em Itapuã é o Parque Metropolitano do Abaeté, inaugurado em 03 de setembro de 1993, situado dentro de uma área de proteção ambiental, com cerca de 12 mil metros quadrados, e onde se encontra a Lagoa do Abaeté.
A região também foi morada do poeta, dramaturgo e compositor Vinicius de Moraes e do cantor, instrumentista e também compositor Dorival Caymmi. Inclusive, a casa na qual Vinicius viveu com a atriz Gessy Gesse segue no mesmo lugar, próximo ao Farol de Itapuã. Atualmente, o espaço é um restaurante, pousada e memorial denominado de Casa di Vina – fazendo referência ao nome que os amigos apelidavam Vinícius.
Ainda falando sobre cultura, toda quinta-feira que antecede o Carnaval de Salvador o bairro é tomado por uma multidão na secular Lavagem de Itapuã. A festa começa ainda durante a madrugada, quando os moradores saem pelo bairro em um Bando Anunciador, convidando a comunidade para a festa. A celebração dura todo o dia na orla que liga o bairro de Piatã a Itapuã. Na programação, há diversos atos como missas e cortejos.
Como é possível identificar, arte e tradição predominam no bairro. Prova disso são as manifestações culturais que surgiram na região, como o bloco afro Malê Debalê, o grupo As Ganhadeiras de Itapuã, a Festa da Baleia, entre outras.
Apesar de ser conhecido pela variação gastronômica, pela representatividade da cultura negra e pela praia encantadora, alguns moradores afirmam que a insegurança no bairro vem manchando a história dessa tradicional região. A comerciante e moradora Josenice Carrascasa detalhou que os consecutivos assaltos estão afastando turistas e, consequentemente, impactando na economia do bairro.
“Por várias vezes já fui assaltada aqui, com arma, e sem a possibilidade de fazer nada, ficando acuada. Então eu acho que o poder público deveria olhar mais para Itapuã, colocar mais equipamentos de segurança que possam facilitar o nosso dia a dia. Aqui a gente trabalha com medo”, frisou.
E finalizou dizendo: “Um lugar que já foi cantado em verso e prosa hoje está assim. Então o poder público precisa fazer alguma coisa. Se fizer uma pesquisa, todos os comerciantes daqui vão dizer que trabalham inseguros”.
Sobre a insatisfação de Josenice, a Polícia Militar informou que o policiamento em Itapuã é realizado pela 15ª CIPM, que emprega viaturas em rondas e abordagens com objetivo de prevenir o cometimento de delitos na região. Segundo o órgão, a área conta ainda com o apoio de equipes da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT)/Rondesp Atlântico. Já sobre a instalação de câmeras de segurança, a Secretaria de Segurança Pública disse, por meio de nota, que elas estão instaladas em diversas regiões da cidade, mas que não são revelados por questão de estratégia.
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