Por trás de cada avenida, rua e viela de Cajazeiras X há muitas histórias que talvez sejam desconhecidas por grande parte da população, mas que fazem parte de toda a construção desse bairro tão importante de Salvador. Quem passa pela Avenida Assis Valente, por exemplo, com certeza já avistou uma grande pedra, a Pedra de Xangô, que em 2017 foi tombada como Patrimônio Cultural de Salvador pela Fundação Gregório de Mattos.
O reconhecimento desse símbolo sagrado se deu a partir do chamado dos povos de terreiro de candomblé e tem como figura importante desse movimento a Mãe Iara de Oxum, que foi a idealizadora, em 2010, da Caminhada Pedra de Xangô.
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“Eu não sabia que iria tomar essa proporção toda. A gente se organizou em 2009 e começa oficialmente em 2010, no segundo domingo de fevereiro, a caminhada. Inicialmente com umas 30 pessoas, gritando Xangô, Xangô... É uma história muito longa. Hoje, esse monumento sagrado está tombado e tornou-se o Parque Pedra de Xangô, o primeiro parque temático dentro da nossa ancestralidade. Isso é forte!”, enfatiza Mãe Iara.
Com mais de 20 mil seguidores nas redes sociais, Mãe Iara, que também é iaolirixá em um terreiro de candomblé da região, destaca que toda essa visibilidade reforça que a luta do povo das religiões de matriz africana continua.
“A caminha faz essa situação toda. Agora, em 2013, vem caravana de outros estados e lotasse a Avenida Assis Valente, muito mais do que em 2020, antes da pandemia da Covid-19, chamando o povo de Axé para lutar pelo que é nosso”, diz a representante religiosa, que complementa dizendo: “Para mim, ter mais de 20 mil seguidores nas redes sociais só reforça que a nossa luta continua. Não é Mãe Iara, é a luta da nossa ancestralidade, do povo preto, do povo de Axé”.
Além de cultura e história, Cajazeiras X também é um celeiro de criatividade e humor. E foi utilizando dessas ferramentas que os jovens Yuri Santos da Silva e Wendel Muniz decidiram criar o perfil no Instagram Cajazeiras da Depressão.
Apesar do nome, a proposta inicial do projeto era levar informação e conteúdos divertidos sobre o bairro, mas ganhou uma grande visibilidade após a criação de formatos de realities com a comunidade, como o caso do Big Brother Cajazeiras. Atualmente, a página na rede social já conta com mais de 50 mil seguidores.
“Inicialmente, o projeto começou com Yuri, com uma proposta de mostrar o lado divertido do bairro, pois muita gente falava mal de Cajazeiras X. Através da página, a gente conseguiu dar visibilidade a muitas pessoas, inclusive a mim. Eu tinha um trabalho no meu Instagram pessoal e quando eu entrei para a página todo mundo começou a me associar ao Cajazeiras da Depressão”, relembra.
Wendel Muniz cita, ainda, o caso de pessoas que foram inseridas no mundo digital após a implementação da página do bairro. “Tinha outras pessoas que quando a gente chamou para os projetos, como os realities, não eram relacionadas com as redes sociais. A exemplo do srº Jair Leal, conhecido como Jair da Bike, que faz um trabalho sonoro de bicicleta no bairro, que tinha um perfil no Instagram, mas não movimentava, e hoje conseguimos possibilitar a ele, um senhor de 60 anos, estar no mundo digital”, finaliza.
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