Gonçalo Júnior, um dos premiados do 53º Prêmio Jabuti |
Gonçalo Júnior - Veio como jornalista, mas logo uma se juntou a outra. Desde a faculdade o jornalismo investigativo, denunciativo e também a pesquisa histórica sempre me atrairam. Todos os meus livros, embora digam que eu escrevo principalmente sobre histórias em quadrinhos, o que é uma interpretação muito superficial e incompleta do que eu faço, na verdade têm dois focos: história da imprensa e a história da censura. Muito mais do que contar a história de como surgiram determinados gibis, eu faço um panorama do mercado editorial e procuro contextualizar abordando o período da censura vivido pelo Brasil. Tudo que fiz está focado nisso.
iBahia - Qual foi o seu primeiro livro publicado?
Gonçalo Júnior - O meu primeiro livro foi sobre a televisao (O país da TV 2001), voltado para a censura no Brasil e a memória da televisão brasileira. São entrevistas longas, com pessoas que contribuíram com a história da TV brasileira como, Walter Avancini, Dias Gomes, Armando Nogueira, entre outros.
iBahia - Conte um pouco sobre o livro “Alceu Penna e as Garotas do Brasil”, que te colocou entre os vencedores do 53º Prêmio Jabuti.
Gonçalo Júnior - No final do ano passado o site da revista Elle escolheu este livro como a melhor obra de moda de 2010. Então ele já vem me rendendo reconhecimento. Foi um caminho tortuoso para eu conseguir fazer este livro porque eu não sou pesquisador de moda. Li milhares de revistas de moda da época e fiquei reescrevendo durante cinco anos. É um livro que faz com que o leitor chore no final. Ele tem o que chamam de gran finale. Alceu Penna foi um modista e ilustrador muito importante. Sofreu um derrame e ficou semi paralisado, sem poder desenhar. Ele era homossexual, muito discreto, e sempre viveu de forma muito reservada. Não cobrava pelos trabalhos que fazia e por isso terminou os seus dias enfrentando sérias dificuldades financeiras. Eu cheguei até ele a partir do meu interesse por artes gráficas. No começo da carreira, Alceu era um importante cartunista da revista Cruzeiro, tinha uma coluna semanal chama As Garotas, sobre a liberdade e a emancipação das mulheres, e lançou Millôr Fernandes na imprensa, entre outros feitos. Depois se tornou modista requisitado pelas famílias mais chiques do Brasil. O filme 'Uma Professora Muito Maluquinha', escrito por Ziraldo, foi em homenagem a Alceu Penna.
iBahia - Qual a importância profissional e pessoal de estar entre os vencedores do Prêmio Jabuti?
Gonçalo Júnior - Se você me perguntar se eu esperava esse prêmio, eu digo que não. Os meus livros trazem personagens marginalizados, pessoas muito comuns, que não são conhecidas pelo grande público, e consequentemente, nunca fui um bom vendedor, embora meus livros tenham sido publicados por editoras famosas como a Companhia das Letras, Conradi, Devir e Ediouro. Isso explica, em parte, eu ter publicado 19 livros por 15 editoras diferentes. Os livros não vendiam e eles não queriam publicar outros, então eu ia caçando outra editora que se interessasse pelo meu trabalho. iBahia - Escrever sobre personagens pouco conhecidos foi uma escolha?Gonçalo Júnior - Eu nunca me preocupei em escrever sobre personagens que ajudassem a vender, que fossem me dar projeção ou notoriedade e o Prêmio Jabuti veio como uma grande surpresa.
iBahia - Então quais foram os itens analisados para que o livro fosse premiado, na sua opinião? Gonçalo Júnior - Eu sou uma pessoa completamente obcecada por informação. Uma coisa que muito me orgulha é que nenhum livro meu foi criticado por superficialidade. Quando publico um trabalho, tenho a tranquilidade e a certeza do dever cumprido. Imagino que eles tenham lido e se emocionado com o final. É realmente um personagem incrível.
iBahia - Quais as expectativas após a conquista do prêmio?
Gonçalo Júnior - Espero que agora eu sofra menos para publicar meus livros. O primeiro livro que tentei publicar, esperei oito anos por um editor. E mais, levei 27 nãos! Para saber se eles, pelo menos, liam os livros, eu colava levemente as 20 primeiras páginas e todas as cópias voltavam coladas... Então a minha conclusão era de que meu trabalho não era avaliado e isso fazia com que eu continuasse tentando. Foi um longo deserto para que eu chegasse até aqui.
iBahia - Você é baiano, nascido em Salvador? E quando e por que se mudou para São Paulo?
Gonçalo Júnior - Eu nasci numa cidadezinha chamada Guanambi – a 796 km de Salvador - , em 1980 fui para Salvador para estudar. Fiz o colegial, segundo grau e faculdade na capital. Me mudei para São Paulo em 1997, acompanhando a minha esposa, também jornalista, que passou no teste para Folha de São Paulo. Na época eu trabalhava na sucursal da Gazeta Mercantil de Salvador. Não foi uma ida exclusivamente para tentar publicar meus livros. Eu vou no ritmo de Zeca Pagodinho: a vida vai me levando.
iBahia - Já tem um novo livro em vista?
Gonçalo Júnior - No futuro imediato espero conseguir publicar a biografia do sambista baiano Assis Valente. É um personagem que fez parte da minha infância, presente na nossa casa no Natal, com a música Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel e no São João, com a música Cai cai Balão.
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