Uma modalidade terapêutica vem mostrando bons resultados no sul da Bahia. A musicoterapia, como o próprio nome indica, é uma forma de tratar os pacientes através da música. A técnica utiliza formas diversas de expressões musicais para promover o bem-estar dos pacientes. Em Ilhéus, atividades musicoterapêuticas acontecem de forma gratuita para idosos na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).
A musicoterapia auxilia no tratamento de condições de saúde, como ansiedade, estresse, transtorno do espectro autista, dor crônica, Alzheimer, AVC, entre outros. Na UESC, a ação é voltada para idosos ativos, sem uma demanda específica, mas que buscam trabalhar questões de autoestima, identidade e geração social. As práticas acontecem toda terça-feira, das 10h às 11h30.
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A atividade acontece através da Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI), projeto que, há mais de 20 anos, promove diferentes atividades voltadas para o público idoso, como curso de educação afetiva, de espanhol, terapia corporal, xadrez, computação, e também a musicoterapia, através do coro terapêutico.
O coro terapêutico era um coral com fins sociais e artísticos até 2022, mas que se voltou para a prática de musicoterapia com a chegada de Alana Magalhães, pedagoga e pós-graduada em musicoterapia pela Faculdade de Candeias. “Quando eu entrei, eu coloquei em prática o método coro terapêutico, mudando um pouco a finalidade do coral, agora, com fins terapêuticos e não pedagógicos, ou de outro sistema”, conta a musicoterapeuta em entrevista ao iBahia.
O coro terapêutico é um método desenvolvido pela musicoterapeuta Cláudia Zanini, que foi professora da graduação em musicoterapia da Universidade Federal de Goiás (UFG) durante muitos anos.
Apesar de poder contemplar todas as idades, Alana conta que a modalidade surgiu com a ideia de reunir pessoas idosas para cantar juntas, tornando a voz um veículo de expressar sentimentos e emoções, além de promover interação social. “Importa mais, no coro terapêutico, o processo do que o produto. Embora a gente ensaie e apresente, todo o processo de encontro, de conversas, de interações, de demandas que surgem, que a gente precisa elaborar juntos, a ajuda mútua, isso também é parte do coro terapêutico”, explica Alana.
O projeto iniciou em novembro de 2022, com poucas pessoas. Em 2023, já contava com 40 participantes, e o número se mantém neste ano.
“A maior parte são mulheres, idosas, mas temos alguns homens também (...). Também fazemos, às vezes, encontros extras em outros espaços, com essa ideia de ir ao encontro do outro. Tem integrantes que já não podem ir até a UESC, dada a distância. Então, a gente vai até ele e faz um ensaio no espaço onde ele mora, para levar essa interação para além dos muros da UESC”, afirma a pedagoga.
A musicoterapeuta conta ainda que são diversos os benefícios e resultados observados atrás da prática. “Nós já fizemos algumas pesquisas com o grupo, e encontramos, como resultado, a melhora do bem-estar geral em relação à interação social; à saúde física, mental, social e espiritual, social [...]. A elevação da autoestima também foi um resultado encontrado nessa pesquisa. Muitos relataram até mesmo alívio de dor física. A música tem esse potencial de ajudar no alívio da dor, e nessa pesquisa em especial, nós aplicamos uma técnica de musicoterapia receptiva chamada banho sonoro. Nessa técnica, eles relataram o alívio da dor”, relata.
Além disso, Alana fala sobre o resgate de identidade promovido pela musicoterapia, um benefício importante para a estimulação da memória. “Com a música, a gente resgata memórias também, e junto às memórias de pessoas, de lugares, de momentos, a gente está resgatando também a identidade, a dignidade e elevando a autoestima”, diz.
O espaço também é uma oportunidade de expressão de sentimentos e emoções, segundo a profissional. “Ao expressar sentimentos e emoções, nós também elaboramos alguns sentimentos que, durante a vida, por alguma razão não puderam ser elaborados, mas quando surgem na musicoterapia, a gente acolhe [...]”, diz Alana.
Musicoterapia em Ilhéus: saiba como participar das sessões gratuitas
As inscrições para o projeto são gratuitas. Para participar, o candidato precisa ter no mínimo 50 anos completos ou a completar até março do ano corrente, e levar xerox dos seguintes documentos à sede da UNATI:
• RG;
• CPF;
• Comprovante de residência;
• Título de Eleitor;
• 1 foto 3x4.
Cada pessoa pode escolher até cinco cursos, que são distribuídos durante a semana, durante a manhã e tarde. A UNATI fica localizada no térreo do Pavilhão Adonias Filho da UESC, na Rodovia Ilhéus/Itabuna, km 16.
Lei que regulamenta musicoterapia foi implantada neste ano
A musicoterapia é um método relativamente novo, que chegou ao Brasil na década de 1970. Neste ano, os profissionais da área conquistaram um importante marco: a regulamentação da profissão musicoterapeuta, no dia 11 de abril.
A Lei 14.842/24 representa um avanço na área da saúde e terapia, ao reconhecer a importância da música como uma ferramenta terapêutica em contextos médicos, educacionais e profissionais.
“A regulamentação da lei proporciona que, agora, não qualquer pessoa possa atuar como musicoterapeuta, mas aquele profissional que passou por uma pós-graduação, que ainda vai ser aceita até completar cinco anos da regulamentação, e depois só vão ser aceitos profissionais formados em graduação”, explica a profissional.
Além da oferta na pós-graduação, hoje, no Brasil, existem universidades federais e estaduais que têm a musicoterapia como graduação, além de faculdades particulares. O método também já se faz presente no Sistema Único de Saúde (SUS). A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) também já aceita a musicoterapia, de modo que alguns planos de saúde têm a obrigatoriedade de oferecer tratamento de musicoterapia para pessoas com autismo.
No Brasil, existem associações regionais e estaduais de musicoterapia. A União Brasileira das Associações de Musicoterapia (UBAM) reúne várias destas associações e forma uma grande união brasileira, atuando como um órgão representativo que defende a modalidade em todo o Brasil.
Aqui na Bahia, a Associação Baiana de Musicoterapia (ASBAMT) representa os profissionais baianos e de Sergipe. “São conquistas que representam os musicoterapeutas da sua região, e ajudam a alavancar e a conseguir leis estaduais para garantir o direito à musicoterapia”, finaliza Alana.
Brenda Santos
Brenda Santos
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