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ESPORTES

Edvaldo Valério: o bronze em Sidney não foi suficiente

Ex-nadador conta os bastidores da medalha do passado, mas está desacreditado quanto ao futuro do esporte, principalmente na Bahia

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23/05/2011 às 12:25 • Atualizada em 29/08/2022 às 18:13 - há XX semanas
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A Bahia largou o futebol e adotou a natação como esporte preferido nas Olimpíadas de Sidney, em 2000. É que um baiano de apenas 22 anos se meteu entre os medalhões Gustavo Borges e Fernando Scherer, o Xuxa, além de Carlos Jayme, outra jovem promessa à época, e conquistou a medalha de bronze no revezamento 4 x 100. Mais de uma década se passou e a medalha caiu no esquecimento. Para Valério, que se aposentou em 2009 por falta de apoio, entre outros motivos, a sua conquista poderia ter contribuído mais. Hoje, vendo os rumos que a natação tem tomado nos últimos tempos, principalmente no seu estado, o ex-nadador diz com tristeza: "não vejo como as Olimpíadas do Rio podem melhorar esse quadro".
'Bala' se aposentou em 2009 por falta de patrocínio - Foto: Rafael Sena/iBahia
Na foto acima, Valério segura a medalha do 1º lugar em um Circuito de Natação, em Aracaju. No dia da visita do iBahia a sua casa, a olímpica estava emprestada a um amigo cuja filha está começando na natação. "Emprestei para dar uma motivação a menina, mas já estou preocupado", riu. Confira a entrevista:Quando você começou a se interessar pela natação? Meu pai era esportista amador, participava de corrida rústica. Ele optou por me colocar em algum esporte e escolheu a natação. Comecei a nadar com três anos de idade. Fui tomando gosto, mas tinha muita dificuldade. Meus pais contavam com ajuda de outros pais de atletas para me manter. Aos oito anos eu comecei a despontar em categorias menores, conquistando títulos baianos e regionais. A coisa começou a crescer e fui campeão brasileiro com 15, 16 anos, não lembro. A partir daí, comecei a acreditar que poderia chegar em uma Olimpíada. O que passava em sua cabeça nas Olimpíadas de Sidney?Eu estava mais como admirador dos caras. A gente viajou um mês antes para a adaptação e treinávamos muito juntos. Eu era o primeiro a entrar na piscina e o último a sair. Eu era novo e não imaginava que estaria representando tanta gente na região. Porque a natação, principalmente na Bahia, é difícil. A realidade aqui é triste, com muitos clubes sociais falidos. Em algum momento você achou que dava para conquistar uma medalha?Quando nos classificamos para as Olimpíadas de 2000, ficou claro que éramos favoritos. Mas nunca levei fé que aquilo poderia acontecer. Quem mais acreditava era meu técnico - Sérgio Silva, hoje presidente da Federação Baiana de Natação - ele sempre tentou mostrar pra mim que era possível. Mas, com aquele lance de ficar com os pés nos chão, eu nunca sonhei muito. Mas acabou dando tudo certo. Caí em quinto e deixei em terceiro. Então sua participação foi fundamental...Mas revezamento é revezamento. É a soma dos quatro tempos. Se eu tivesse caído em primeiro e o Gustavo Borges fechando, ele poderia fazer o mesmo. Os nossos tempos foram próximos. O melhor tempo dos quatro foi o do Gustavo. O meu foi o segundo.Sente falta de 2000?Sim, do ambiente de treinamento, dos amigos. Tenho amigos em todo os estados do Brasil. Das viagens que fiz pelo mundo, coisa que a natação me proporcionou. Conheço praticamente todos os estados do Brasil e todos os continentes do mundo por causa da natação. Você ainda tem contato com o Gustavo Borges e o Xuxa?Não. Eles têm a vida atribulada deles, os compromissos. Sempre nos falamos quando rolava competição, mas nunca tivemos proximidade de ligar um para o outro. Nunca tivemos esse contato próximo. A sua medalha trouxe algum benefício para o esporte no estado?Trouxe, mas muito pequeno para o que ela poderia ter proporcionado. A Bahia tem potencial para revelar atletas. Veja você o Allan do Carmos, a Ana Marcela Cunha. Enfim, a Bahia sempre revelou atletas a nível mundial. Mas o apoio não acompanha esse crescimento. Minha medalha poderia ter contribuído muito mais. Eu hoje estou muito preocupado com cenário esportivo baiano, principalmente com a natação. A salvação é a natação escolar, que vem crescendo. Qual o cenário da Bahia hoje em se tratando da natação?Nós não temos piscina olímpica em Salvador. A que temos é em Valença, muito distante. Por isso, não podemos sediar nenhuma competição oficial aqui em Salvador. A Fonte Nova foi demolida e derrubaram também o Complexo Olímpico, o Balbininho. Ficaram de construir outro complexo, mas não sei em que ponto isso está. Mas o fato é que perdemos a única piscina olímpica que tínhamos e não temos outra no lugar. É prejuízo para os atletas. Eu mesmo saía aqui de Itapuã para ir nadar lá na Fonte Nova. Muita gente está deixando de praticar a natação por não haver onde.Falta apoio para o esporte?Isso é visível. Fiz minha preparação para as Olimpíadas aqui em Salvador, no clube do Baneb, com profissionais daqui. Mas no fim da carreira tive que sair para treinar com tranquilidade. Passei quatro anos fora nadando por clubes. Dois em Porto Alegre e dois em Belo Horizonte. Depois voltei e vi que não teria condições de treinar em alto nível em Salvador. Então parei em 2009. Muitos atletas baianos treinam em outros estados porque a Bahia não oferece esse apoio. É difícil ver um atleta de ponta treinando em Salvador. Então você parou só por falta de patrocínio?Não só isso. Meu ciclo tinha se esgotado. Meu corpo pedia descanso. Vida de atleta profissional é muito desgastante. Já nadava há 28 anos, quase um tempo de aposentadoria. Participei de algumas competições aqui depois de 2009, mas nada que me motivasse. Se houvesse patrocínio, eu poderia pensar em voltar. Mas se tivesse tranqulidade, sem me preocupar se dá ou não para participar de algumas competições. Eu estou com 33 anos. Alguns nadadores se aposentaram bem mais tarde. Com as Olimpíadas de 2016 no Rio, alguma coisa deve mudar, não?Não quero ser um cara polêmico, mas muita gente está nessa euforia de que as coisas vão melhorar. Tivemos o Pan em 2007 e o que ficou? Está tudo sucateado. O Complexo Aquático Maria Lenk tem que ser reformado, não tem capacidade de abrigar competição. O COI (Comitê Olímpico Internacional) já disse que é inviável a utilização do Complexo para as Olimpíadas. Foi tudo mal planejado. Um dinheiro gasto que não serviu para nada. Teremos aquela euforia instantânea, e depois? Vai ficar como o Pan? A última vez que fui no Complexo Aquático vi uma piscina vazia, abandonada.E como estão as promessas da natação baiana?Tudo continua do mesmo jeito de dez anos atrás. A Bahia sempre revelando atletas de grande potencial, mas a dificuldade para apoiar esses atletas é muito grande. Não tem também o apoio das escolas, de tentar flexibilizar horários, coisa que nos EUA é muito fácil. Por isso eles abandonam o esporte porque tem que estudar. Não há esse equilíbrio. Quem são os nadadores baianos com chances de medalha em 2012, em Londres?Na piscina é complicado. Na maratona aquática, Allan do Carmo tem grance chance de ganhar. Allan é o atleta mais próximo. Ana Marcella também, mas ela se prepara em São Paulo. Temos que olhar Allan com mais carinho. É um menino bom, do bem. Conheço os pais dele. É um menino que está buscando seu espaço. As empresas precisam olhar para ele com mais carinho. Quem é Edvaldo Valério hoje?Me dedico a terminar a faculdade de Educação Física. Já estou cursando há seis anos porque mudo de estado sempre por causa do atraso. Se for contar o tempo, já é um curso de medicina. Falta mais ou menos um ano e meio para me formar. Também trabalho dando aula na AABB (Associação Atlética Banco do Brasil). Trabalho também com iniciação. Estou muito contente com essa trajetória que escolhi. Talvez daqui a alguns anos eu me torne técnico.

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