Os colecionadores de figurinhas voltaram às ruas após o lançamento do álbum oficial da Copa do Mundo de 2022. O momento de apreciar cada pacotinho aberto e cromo colado é único para os amantes de futebol que passam de geração em geração o hábito de colecionar.
Cada um tem suas estratégias e manias para completar. Colecionadores se reúnem em diversos pontos do Brasil, como o advogado tributário Rafael Ujvari, que traz esse hábito desde muito cedo:
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— Eu nasci em 1991, e o meu pai fez o álbum da Copa de 1990 para mim logo quando soube que minha mãe estava grávida — conta Rafael que, desde 1994, coleciona e completa seus próprios álbuns, na companhia do pai e do avô, além de ajudar seu afilhado nessa tarefa.
O estímulo por parte de seu avô Istvan Ujvari, falecido aos 94 anos, foi mantido até a Copa do Mundo de 2018. O ato de completar os álbuns era uma forma de contribuir com sua saúde, conforme recomendações médicas, para auxiliar na coordenação motora e fortalecer a memória.
Como tradição, Rafael, que é de Itapuí, interior de São Paulo, tem a mania de comprar pacotes lacrados de 50 figurinhas, pois sente que a probabilidade de vir cromos brilhantes é maior, e sempre fazia encontros na casa de amigos para troca de cromos.
Parceria com museu
O valor social de estar em confraternização na hora de trocar figurinhas é algo apreciado pelos colecionadores. Leandro Machado, paulistano de 34 anos, é idealizador de um grupo no Facebook desde 2014, que conta com 53,7 mil pessoas, e combina pontos de trocas espalhados pela capital, além de trocas virtuais por todo o Brasil, combinadas via WhatsApp.
— Eu organizo vários encontros para trocar figurinhas desde 2012. Já fizemos no vão livre do Masp, por exemplo, e no Pacaembu, onde temos uma parceria com o Museu do Futebol, que começou em 2017. O museu fornece um espaço com mesas e cadeiras semanalmente para nós — conta Leandro, que tem acervo de 25 mil cards relacionados a futebol, desde os anos 1990.
Leandro acredita que a melhor forma de completar o álbum é fazendo trocas, sobretudo pelo fato de estar rodeado de pessoas com o mesmo objetivo:
— Esse álbum tem exatamente 670 figurinhas, recomendo que compre entre 600 e 700 figurinhas e saia por aí para trocar. Ir aos encontros, ver o pessoal, completar o álbum de alguma criança é muito legal, essa é a graça do negócio.
Machado também destaca a hipervalorização de determinadas figuras, popularmente conhecidos como “brilhantes ou prateadas”. A figurinha “Legend” do Neymar, por exemplo, chegou a ser anunciada por R$9 mil no Mercado Livre, mas a dica é: aguardar e esperar o melhor momento para vendê-las, visto que após o Mundial, o preço no mercado de colecionadores aumenta, pois, a dificuldade para consegui-las são maiores, sendo possível arrecadar cerda de R$500 por apenas uma prateada.
Contudo, a tarefa de completar a coleção está mais cara a cada Copa do Mundo. O valor do pacote de figurinhas subiu 100% entre um Mundial e outro, chegando aos R$ 4. Rafael e Leandro buscaram economizar ao longo do ano para conseguirem alimentar suas paixões.
— A gente percebe que já vai elitizando cada vez mais o futebol. O amor só sobrevive se você tiver condição de comprar, mas percebe-se que a cada Copa do Mundo são menos pessoas que estão dispostas a fazer esse investimento — diz Tiago Herani, estudante de jornalismo e criador de conteúdo para redes sociais sobre futebol.
Sentimento especial
Em média, é preciso investir cerca de R$550 para ter o álbum completo este ano. Mas para Tiago, o prestígio emocional compensa o preço a ser pago. Colecionador desde 2010, o estudante começou este álbum com sabor de saudade, pois esse pode ser o último Mundial de alguns craques como Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo.
— Tem um sentimento especial nessa Copa como um todo. Estamos falando de Cristiano Ronaldo e Messi, dois grandes nomes na história, e do Neymar, um grande símbolo para nós. Saber que eu completei o álbum desde 2010 com esses craques e fui até a última Copa com eles é bem gratificante.
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Agência O Globo
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