Poucos são os que conversam abertamente sobre o hábito de visitar sites de conteúdo adulto, mas as estatísticas da internet não deixam dúvida: muitos fazem uso constante da rede para acessar pornografia. A estimativa é que o setor responda por cerca de 30% do tráfego de dados no planeta. No ranking Alexa, que lista as páginas web mais visitadas na internet, o PornHub, maior site pornô do mundo, ocupa a 30ª posição, logo seguido pelo Livejasmin, outro ícone do gênero. Milhões — talvez bilhões — de pessoas acessam vídeos com esse tipo de conteúdo, mas a maioria não imagina que está sendo rastreada na rede.
Um estudo realizado por pesquisadores da Microsoft e das universidades Carnegie Mellon e da Pensilvânia, nos Estados Unidos, revelou que 93% dos sites analisados repassam dados dos seus visitantes para terceiros, incluindo preferências sexuais. E nem os navegadores anônimos servem de proteção para a privacidade desses internautas ávidos por cenas quentes.
Informações sensíveis
Os pesquisadores analisaram os 22.484 sites pornográficos listados pelo Alexa no ranking de 1 milhão de endereços mais visitados da internet. Com a ajuda de um software, eles descobriram que, em média, cada site repassa dados de navegação para sete servidores de terceiros por meio de códigos. Ao todo, os pesquisadores identificaram 230 companhias e serviços recebendo essas informações, concentrados na indústria de publicidade digital. Com isso, essas empresas conseguem formar um perfil mais completo dos internautas, com informações íntimas sobre seus interesses eróticos, para oferecer propaganda quando eles visitam outros endereços na rede.
Segundo Timothy Libert, professor de Ciência da Computação em Carnegie Mellon, os rastreadores coletam o histórico de navegação, com as URLs que são visitadas. O problema é que, em muitos casos, apenas o nome do site já revela muito sobre os gostos sexuais dos visitantes. Na análise, 44,97% dos endereços sugeriam o gênero, orientação ou preferências sexuais. Como exemplo, citam nomes como “hdgayfuck.com”, “bestialitylovers.com” e “boyfuckmomtube.com”. Ao visitar sites desse tipo, internautas têm seus registros repassados para terceiros.
— Acreditamos que os dados de navegação em sites pornô são interpretados literalmente. Se alguém visitou um site com um tema sexual específico, um terceiro provavelmente assume que o conteúdo é correlato à identidade ou ao interesse sexual daquele usuário — diz Elena Maris, pesquisadora da Microsoft. — Entretanto, argumentamos em nosso estudo que tais suposições são perigosas, particularmente quando a atividade sexual é fortemente regulada.
Em onze países do mundo (Irã, Arábia Saudita, Iêmen, Nigéria, Sudão, Somália, Mauritânia, Emirados Árabes Unidos, Catar, Paquistão e Afeganistão), homossexuais podem ser condenados à morte, segundo a Associação Internacional de Gays e Lésbicas. Em outros 57 países, atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo podem ser punidos com prisão, em alguns casos com pena perpétua. Elena não comentou a situação em outros países, mas destacou que até mesmo nos EUA existem leis estaduais que permitem a demissão de um empregado por orientação sexual:
— Nossos resultados demonstram os altos riscos para pessoas em situação como essas, caso seus dados de visitas a sites pornôs sejam vazados.
Sites não alertam
A coleta dessas informações pode ter diferentes fins, mas as companhias que recebem esses dados são majoritariamente da indústria de publicidade. Elas reúnem o máximo de informações dos internautas para a oferta de anúncios direcionados, aqueles que aparecem num site, num buscador ou na rede social. Ao procurar por um tênis na internet, por exemplo, um internauta será inundado por anúncios de sapatarias. Os sites pornôs que ele visita também servem para formar perfis de consumidores. Um usuário de conteúdo adulto gay, por exemplo, começa a receber anúncios voltados para o público LGBT.
Poucos sites alertam os usuários, mesmo nas minúsculas letras das confusas políticas de privacidade, sobre a cessão de dados a terceiros. Dos 22,5 mil sites analisados, apenas 3.856 possuíam tais documentos. E a análise dessas políticas revelou que apenas 11% das 230 companhias que recebem informações são citadas.
— Definitivamente, é preciso que reguladores analisem a pornografia on-line de forma mais atenta — diz Libert.
Navegação de risco
Especialistas apontam riscos à privacidade de usuários de sites de conteúdo adulto
Para os internautas, não há muito a fazer. O uso do modo anônimo dos navegadores protege o histórico do browser, mas não dos rastreadores nos sites visitados. O estudo aponta que, na maioria dos casos, os sites pornográficos são pouco seguros. Apenas 17% das páginas analisadas possuíam proteção por criptografia, tornando mais fácil o trabalho de hackers interessados no banco de dados dos cadastrados. Entre 2012 e 2018, ao menos 12 sites pornográficos e de relacionamentos extraconjugais foram alvos de ataques.
— As pessoas acreditam que o modo de navegação privado protege do rastreamento, mas ele apenas limita que o histórico de navegação seja armazenado no computador — alerta Jennifer Henrichsen, pesquisadora da Universidade da Pensilvânia. — Isso oferece pouca ou nenhuma proteção contra o rastreamento de forma geral, que pode acontecer em muitos pontos enquanto você navega na web. Usar plug-ins para bloquear rastreadores pode melhorar a privacidade, mas o ecossistema é vasto, muda sempre. Então é incrivelmente difícil conseguir fugir dos rastreadores na internet.
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Redação iBahia
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