Cabelos brancos, pele enrugada e ossos mais fracos. Essa imagem aparentemente frágil do idoso pode se tornar mero detalhe diante de pessoas da terceira idade - ou "a melhor idade" - que optam por afastarem de suas vidas situações comuns a vovôs e vovós brasileiros como doenças crônicas, solidão ou depressão, por meio de práticas saudáveis e uma vida social ativa. Indicadores sociais e demográficos, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), alertam que a estrutura etária do Brasil está mudando e que o grupo de idosos é, hoje, um contingente populacional expressivo, com cerca de 21 milhões de pessoas. O Censo 2010 comprovou que o envelhecimento populacional é um fato e fez a atenção do governo se voltar para ações que melhorem a qualidade de vida dessa parcela da sociedade. Os estudos mostram ainda que o número de pessoas idosas cresce em ritmo mais acelerado do que a quantidade de pessoas que nascem. Com isso, surge a preocupação: como chegar bem à terceira idade - etapa da vida de um indivíduo com mais de 60 anos?
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Para a vovó Lourdes só tem depressão quem não tem nada para fazer |
A soteropolitana Maria de Lourdes Fonseca Medeiros, 85, é um exemplo de como é possível envelhecer com qualidade. “Sinto prazer de dizer que cheguei nessa idade bem. Eu me sinto uma menina de 14 anos”. Para ela, a receita de uma vida longa e feliz está na troca de afeto entre as pessoas. “Eu amo muito e esse sentimento faz a gente feliz. O amor é um chamariz. Se você é uma pessoa azeda, afasta as pessoas. Procuro ser doce com a minha família. Assim vivo mais e melhor”, revela.Aluna da
Faculdade da Felicidade - espaço dedicado às pessoas que estão vivendo plenamente a maturidade, instalado na Barra, em Salvador -, Lourdes, ou “vovó”, como prefere ser chamada, é a personificação da alegria. A história de vida da simpática vovó é recheada de passagens curiosas. Com muita lucidez, ela conta que aos 17 anos foi para o convento realizar desejo de tornar-se freira. Aos 44, porém, decidiu abandonar o hábito para se dedicar às duas sobrinhas pequenas. Depois de 10 anos, conheceu o amor de sua vida e casou-se, mas seu marido morreu alguns anos mais tarde. “Aos 68 estava viúva, mas com muita vontade de continuar a viver. Foi quando conheci a faculdade”, conta.
— A receita de uma vida longa e feliz está na troca de afeto entre as pessoas (vovó Lourdes) |
Faculdade da Felicidade Com foco em pessoas da terceira idade, a Faculdade da Felicidade é uma prova de que o campo de trabalho com idosos é ainda muito vasto - e pouco explorado no Brasil - e pode render bons frutos. Fundada em 2005, a instituição baiana dirigida pela gerontóloga Maria Lúcia Carvalho Palmeira, 63, oferece cursos, atividades, reuniões e palestras voltadas a pessoas "que estão vivendo plenamente a maturidade e objetivam construir um novo projeto de vida com a sabedoria conquistada”. No total, são 120 alunos, que de segunda à quinta-feira, revezam-se nas diversas atividades disponíveis, que vão desde aulas de informática e línguas a cursos de teatro, dança de salão, tai-chi, canto, além de oficina de memória e fisioterapia, entre outros.
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Alunos da terceira idade também têm muito a ensinar aos professores |
A turma de idosos na Faculdade da Felicidade é praticamente igual a uma turma comum de faculdade. Conversas, brincadeiras e aprendizado permeiam as aulas da graduação. A diferença principal é que os professores também aprendem muito com a experiência dos alunos. “Estamos todos em constante troca de informações e isso é o mais importante”, conclui a diretora Lúcia.Lourdes conta que estar na faculdade é uma das coisas que mais fazem ela se sentir bem. “Acho muito bom ter um lugar onde podemos aprimorar nossos conhecimentos, trabalhar nossa memória e nos exercitar. Tenho muitos exemplos de pessoas que estão morrendo porque não se movimentam”, ressalta.A vitalidade da vovó é invejável. “Tenho uma agenda lotada”, brinca. “Me levanto às cinco horas da manhã todos os dias, faço o café, o almoço, ouço música, passo ferro nas roupas, vou no banco, leio, canto, vou na casa de amigas visitar, vou para a fisioterapia e venho para a faculdade”, completa a lista. Segundo ela, toda essa maratona diária impede que tenha maiores problemas: “costumo dizer que só tem depressão quem não tem nada para fazer”.
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Para Lúcia e Lourdes, o envelhecer está na mente |
A saúde do idoso A atenção à saúde dos idosos é importante para preservar a sua autonomia. O envelhecimento do organismo por si só já diminui a capacidade funcional do ser humano. As doenças crônicas tendem a acelerar este processo, principalmente, se não houver acompanhamento. “A dobradiça desgasta e o osso também, não é, minha filha? Com o idoso é assim também. É natural”, explica Loudes.Tanto a aluna vovó quanto a educadora Lúcia concordam que o envelhecer está na mente. “O tempo passa, mas a sabedoria fica e o aprendizado continua. Procuramos fazer com que esse passar de anos fique mais suave e agradável”, enfatiza a diretora da faculdade. O idoso tem muitas limitações, mas se cada um buscar pode transformar a terceira idade na “melhor idade”.
Sonhos e aspirações Para Lourdes, o futuro a Deus pertence. “Gosto de pensar que se Ele (Deus) me chamar hoje eu digo que tá bom aqui, mas se ele quiser que eu vá, eu vou”.
— O tempo passa, mas a sabedoria fica e o aprendizado continua (Lúcia Palmeira) |
E para quem diz que com o passar dos anos os sonhos vão diminuindo, a vovó revela seus planos. Ela ainda quer viver muito para dar tempo de conhecer todo o Brasil e ter aulas de informática. “Vou me dar, de presente de Natal, um computador. Vai ser ótimo! Imagine a vovó tecnológica?”, brinca.
Expectativa de vida O Censo 2010 do IBGE, mostrou que a expectativa de vida do idoso no país aumentou cerca de três anos entre 1999 e 2009. A nova expectativa de vida do brasileiro é de 73,1 anos. Entre as mulheres são registradas as menores taxas de mortalidade. Elas representam 55,8% das pessoas com mais de 60 anos. No período avaliado, a expectativa de vida feminina passou de 73,9 anos para 77 anos. Entre os homens, passou de de 66,3 anos para 69,4 anos.
Segundo o IBGE, a taxa de expectativa de vida no Brasil ainda é menor que a da América Latina e do Caribe (73,9 anos), só ficando à frente da Ásia (69,6 anos) e da África (55 anos). Na América do Norte a taxa fica em 79,7 anos.