O número 10 virou marca de craque depois que Pelé o utilizou desde a Copa de 58. A coisa passou a ser natural em todos os países: “a fera do time” tem que usar a 10 como ocorreu com Maradona, Platini, Roberto Baggio, Zidane, Messi e tantos outros. Mas depois de Pelé quem vestiu a 10 amarelinha nas Copas? Paulo Cézar Gomes relembra agora, em mais um texto do “Baú dos Mundiais":
"Quando houve a confirmação de que Pelé, com 34 anos e já consagrado como tricampeão do mundo no México, não iria disputar a Copa da Alemanha em 1974, ficou um grande vazio e uma dúvida no ar: quem vai vestir a 10 e encarnar em campo o que esse número mágico passou a representar para a nossa seleção?
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O sambista Luiz Américo pegou o mote e fez um samba que emplacou nas chamadas “paradas de sucesso”, como era chamada na época a lista das músicas mais tocadas no rádio e dos discos mais vendidos nas lojas.
A canção “Camisa 10” dizia em alguns trechos:
Desculpe seu Zagalo / Mexe nesse time que tá muito fraco (...)
A crítica que faço é pura brincadeira / Espírito de humor, torcida brasileira/
A turma está sorrindo para não chorar... (Tá devagar)
É é é.. camisa dez da seleção... laia, laia, laia
Dez é a camisa dele, quem é que vai ficar no lugar dele?
O bom é que tínhamos um ‘baita’ craque para ser o herdeiro da 10: Roberto Rivellino. Ele também havia sido campeão em 70 ao lado de Pelé, só que deslocado como falso ponta-esquerda e usando de maneira improvisada a 11. Ídolo no Corinthians e depois no Fluminense, era dono de uma das canhotas mais geniais e mágicas da história do futebol. Ídolo também do gênio Diego Maradona, que se inspirou desde menino no seu estilo, sendo um fã declaradamente confesso e assumido do craque brasileiro.
Rivellino foi o nosso 10 também em 1978 na Argentina. Era dono de um verdadeiro canhão na perna esquerda, o que o fez ganhar o apelido de “Patada Atômica”, expressão criada por Nelson Rodrigues. Riva era temperamental, explosivo, tinha sangue quente correndo nas veias, era filho dos imigrantes italianos seu Nicolla e dona Olanda. Sempre inquieto em campo onde era inegavelmente uma figura marcante, comandava os seus companheiros. Era exímio nos lançamentos perfeitos de 40 metros para os atacantes. Fazia golaços de placa, adaptou para o campo trazendo do futebol de salão o lindo 'drible elástico'. E foi um dos maiores cobradores de falta do futebol brasileiro em todos os tempos. Ai de quem ficasse na barreira...
Nas duas Copas seguintes (82 e 86) outro gênio vestiu a nossa 10: Arthur Antunes Coimbra, o Zico. Ídolo máximo do Flamengo. Encarnação da técnica, do carisma e da fina flor do futebol arte. Autor de gols que pareciam pinturas que faziam merecer eternas molduras. Infelizmente, ele não foi campeão do mundo com a seleção, coisa que conseguiu com o Flamengo na disputa do Mundial de Clubes em 1981 contra o Liverpool. O “Galinho de Quintino” foi um 10 que honrou a dinastia de Pelé.
Em 1990 a 10 foi de Silas, meia discreto e de futebol prático do São Paulo. Não foi um jogador brilhante. Era um dos destaques da equipe comandada pelo técnico Cilinho que ficou conhecida como “Os Menudos”, que tinha também entre outros, Müller, Pita, Careca e Sidney.
Em 1994, Raí foi o nosso 10. Irmão do gênio Sócrates que era o 8 na seleção e no Corinthians, tinha tudo pra ser um dos destaques da Copa em que fomos tetra nos EUA, mas perdeu a condição de titular e de capitão na equipe e Parreira já nos primeiros jogos. No São Paulo, foi protagonista no bicampeonato mundial em 92 e 93 quando o time paulista derrubou em dois anos consecutivos e finais inesquecíveis os gigantes do futebol mundial Barcelona e Milan.
Em 98, na França, e em 2002, no Japão e na Coréia, quando fomos penta, Rivaldo foi o nosso 10. Um senhor craque, sem dúvida. Magro, esguio e de uma habilidade sensacional com a perna esquerda. O pernambucano que começou nas divisões de base do Santa Cruz, seguiu depois para o Mogi Mirim, Corinthians, Palmeiras e brilhou na Espanha no Deportivo La Coruña e no Barcelona onde foi escolhido o melhor jogador do mundo em 1999. Juntamente com Ronaldo foi fundamental na conquista do nosso "quinto caneco" em 2002.
Na Copa da Alemanha em 2006 a camisa 10 foi de Ronaldinho Gaúcho. Para muitos, um dos jogadores mais hábeis da história do futebol, no que concordo plenamente. Com a bola no pé, parecia fazer aquilo que a foca de circo, faz com a pelota colada no focinho. Assim como Rivaldo, foi penta em 2002 e melhor do mundo no prêmio da FIFA no ano de 2005. Um craque digno de vestir a 10. Outro herdeiro com justiça da camisa mágica do Rei Pelé.
Na Copa da África do Sul em 2010, Kaká foi quem vestiu o manto dos craques. Assim como Raí, brilhou mais no São Paulo do que na seleção. Tinha habilidade e velocidade. Mas inegavelmente não teve o brilho dos camisas 10 das copas das anteriores.
Em 2014, no Brasil, e em 2018, na Rússia, a 10 foi de Neymar. Grande esperança do futebol brasileiro desde o jovem time do Santos quando despontou ao lado de Paulo Henrique Ganso, chegou cedo ao estrelato, ganhou o mundo indo pro Barcelona, PSG e está caminhando agora para a disputa de sua terceira copa do mundo, competição que ainda não conseguiu brilhar e nem levantar o título. É uma das nossas esperanças na Copa do Qatar.
Com a 10 da seleção olímpica, aí sim, conseguiu um feito até então inédito para o futebol brasileiro, a medalha de ouro em jogos olímpicos, foi aqui no Brasil em 2016. Tomara que consiga de novo esse ano, vestindo a 10 e nos ajudando a a conquistar o hexa. Pelé, o eterno Rei 10 estará, com certeza, vendo tudo e torcendo por isso"
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