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Pop Bahia e o feminismo negro: como Larissa Luz e Luedji Luna se destacam na cena musical

Entenda como Larissa Luz e Luedji Luna levam para a cultura pop os embates do feminismo negro

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Marcelo Argôlo

08/03/2023 às 18:00 • Atualizada em 08/03/2023 às 18:11 - há XX semanas
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					Pop Bahia e o feminismo negro: como Larissa Luz e Luedji Luna se destacam na cena musical
Luedji Luna e Larissa Luz, artistas que pautam o feminismo negro no pop baiano (Fotos: Henrique Falci Chaves | Caio Lírio)

“Um espaço vazio, um espaço que se sobrepõe às margens da ‘raça’ e do gênero, o chamado ‘terceiro espaço’”. É assim que Grada Kilomba define a condição da mulher negra no seu livro Memórias da Plantação. A escritora portuguesa traduz nessa frase uma percepção compartilhada pelas mulheres militantes do feminismo negro, que veem suas especificidades invisibilizadas tanto no movimento de mulheres, pois se constrói a partir da perspectiva da mulher branca, quanto no movimento negro, que se embasa da experiência do homem negro.

Na música pop da Bahia, Larissa Luz e Luedji Luna são duas das principais artistas que exploram essa questão nos seus trabalhos. Neste Dia Internacional da Mulher, convido-o para se aprofundar no trabalho dessas cantoras e compositoras que levam para a música uma proposta de enegrecimento do movimento de mulheres e de feminização da luta antirracista. Ambas têm apontado caminhos e conquistado um lugar de referência com um trabalho que aposta na abordagem de temas como empoderamento, liberdade sexual feminina, beleza da mulher negra e diversidade das vozes de mulheres negras.

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Larissa Luz e o Território Conquistado na música pop

No trabalho de Larissa Luz, essas questões estão mais evidentes nas canções do seu segundo álbum, Território Conquistado, lançado em 2017. Meu Sexo e Bonecas Pretas são as faixas que melhor sintetizam essa aproximação da artista com o feminismo negro. Na primeira, ela constrói uma imagem de mulher empoderada, dona do próprio corpo, e que usufruiu da sua liberdade sexual.

Aliada à sonoridade eletrônica, a música é um bom exemplo de como o Pop pode ser dançante e, ao mesmo tempo, provocar reflexão. Não é difícil perceber nos shows de Larissa durante a execução desta música um arranjo na plateia em que os homens se retraem e as mulheres dançam com mais expressividade. É uma forma de perceber pequenas, passageiras, mas insistentes fissuras que podem ser promovidas na estrutura através da cultura pop.

É como a própria artista me contou numa entrevista que fizemos em fevereiro de 2021: “acho que a gente subestima o público quando diz que o Pop precisa ser raso. O Pop não precisa ser fútil, precisa ser uma coisa que você possa se divertir, dançar, se entreter, mas que possa também pensar, questionar, acessar conhecimentos críticos” .

Já a canção Bonecas Pretas se debruça sobre o tema da representatividade negra nos brinquedos infantis. Aqui há uma forte relação com a crítica do feminismo negro ao discurso clássico sobre a opressão da mulher, pois, como bem diz Sueli Carneiro, ele não é capaz de reconhecer a experiência histórica diferenciada das mulheres negras .

A letra traz uma proposta de desconstruir um padrão eurocêntrico de representação feminina e propor um espaço para que meninas negras possam criar identificações e imaginar possibilidades de ocupar espaços de poder e visibilidade.

Luedji Luna e as múltiplas vozes de mulheres negras

No trabalho de Luedji Luna a relação com o Feminismo Negro aparece muito fortemente no segundo álbum, o Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água, e vem junto com elementos do candomblé, em uma proposição atualizada do entendimento da ancestralidade. A artista cria no trabalho um quadro de referências de mulheres negras com o objetivo de ampliar a representatividade e recusar o lugar de única representante da condição de mulher negra.

Conceição Evaristo declama o poema A Noite Não Adormece nos Olhos das Mulheres, de sua própria autoria; a poeta e compositora Tatiana Nascimento recita o poema Quase em meio à canção Lençóis, uma composição de Luedji e da escritora mineira Cidinha da Silva; a artista ainda interpreta o clássico Ain’t Got No, eternizado por Nina Simone; e ainda há a faixa Ain't I A Woman?, título do discurso proferido pela abolicionista e ativista dos direitos das mulheres afro-americana Sojourner Truth, nos Estados Unidos, em 1851 que virou, ainda, o nome de um dos livros de bell hooks.

“A ideia da representação é importante, mas ela é muito reduzida. Não sou capaz de representar um conjunto diverso, plural, cheio de especificidades, cheio de complexidades. Sou uma mulher negra, cis, baiana, filha de pai e mãe preto. Então, sempre fiz música tendo em mente que esse lugar da representação, às vezes, é um bastão que nos passam quando a gente fica famosa, quando ganha certa visibilidade”, afirmou Luedji em uma entrevista que me concedeu também em fevereiro de 2021.

“Represento, primeiro, a mim mesma, a minha história, mas tenho a compreensão de que, talvez, a minha experiência contemple uma experiência de uma coletividade, porém, ainda assim, eu faço questão de trazer outras vozes comigo. Nós somos múltiplas, somos variadas, somos um monte; não sou a única do rolê e não vou ser a única”, concluiu.

Larissa Luz e Luedji Luna são exemplos de como a cultura pop pode ser uma ferramenta para a luta do feminismo negro. Então, no Dia Internacional da Mulher, é importante reconhecer o valor delas para a cena de música da Bahia. O trabalho das duas artistas conseguem promover reflexões sobre questões de gênero, raça e ancestralidade de forma interseccional e certamente terão um lugar de destaque na história da música da Bahia e do Brasil.


				
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