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ÓPRAÍ WANDA CHASE

Veja bastidores da vida de Gal Costa sob olhar da jornalista Wanda Chase

Artista morreu no dia 9 de novembro e a jornalista contou segredos da vida da 'gaúcha' na Bahia

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Wanda Chase

10/11/2022 às 19:16 - há XX semanas
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					Veja bastidores da vida de Gal Costa sob olhar da jornalista Wanda Chase
Foto: Julia Rodrigues / Divulgação

Uma das vezes que entrevistei Gal Costa foi na festa de inauguração do quiosque de acarajé de Keka de Oxóssi, no Jardim Brasil, região localizada no bairro da Barra, em Salvador. Gal e Keka eram amigas e irmãs de santo, iniciadas no Terreiro de Mãe Menininha do Gantois. Quando estavam em obrigação, dormiam na mesma esteira, conta Keka com a voz embargada, cheia de saudade.                            

Me debrucei sobre meus arquivos e revi nesta quinta-feira (10) a entrevista, que foi ao ar no programa Rede Bahia Revista em 2012, na TV Bahia. No material, Gal reforçou a amizade com Keka e contou, animada, que depois de morar 20 anos no Rio de Janeiro, decidiu voltar à Bahia. Já fazia 9 anos que ela estava vivendo em terras soteropolitanas.

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"O que mais me encanta aqui é o povo. Os homens e as mulheres olham pra gente e sorriem. Isso é muito bom. A Bahia é linda! Você vai andando assim e na esquina você vê o mar”, explicou a cantora que faleceu no dia 9 de novembro de 2022.

Gal ainda me disse que quando subia ao palco sentia o canto como uma missão. “A música tem uma capacidade de tornar a vida das pessoas melhor. Eu tenho andado o mundo todo e muita gente me fala:  não entendi uma palavra do que você cantou, mas você tocou meu coração”, explicou a artista.


				
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Foto: Reprodução / Google Street View

Ao ser perguntada sobre qual o lugar mais gostava em Salvador, respondeu: "Itapagipe." Boas lembranças dos dias que pegava o Elevador Lacerda e ia com a mãe visitar uma tia que morava lá. E ainda tomava um sorvete de tapioca na Sorveteria da Ribeira. 

Esses trechos mostram a humildade de Gal Costa e a rapidez do tempo. Sou fã dela desde a minha juventude. Sou setentona como ela, este mês faço 72, cinco anos de diferença de uma das cantoras mais importantes do Brasil. E na minha primeira juventude (estou falando sério, não ria) me apaixonei pela voz da baiana.

Uma mulher linda, charmosa, cheia de atitude, que cantava canções lindas de compositores que eu nunca tinha ouvido falar. Só quando cheguei aqui, em 1988, conheci um por um, menos Dorival Caymmi.  Mas Capinam, Roberto Mendes, Gerônimo Santana, Caetano Veloso, Gilberto Gil tive o prazer e a honra em conhecê-los. Musicalmente falando, foram esses aí que escreveram e produziram músicas gravadas por Gal. Agora, nos bastidores, sabemos que tem outros poetas que produziram para a cantora.

Musicalidade

Ouvi muito rádio na minha juventude, sempre gostei de música. Aprendi com minha mãe que cantava muito para mim e meus irmãos. Isso foi importante para eu fazer a minha “playlist”. Aos poucos fui formando o time das minhas e dos meus cantores e cantoras preferidas, e Gal foi uma delas. Aquela voz cristalina, afinada, que parecia entrar na nossa alma, mexeu com as minhas emoções. Era aquilo que eu também queria ouvir.

Cada vez que ouço a voz de Gal me transporto para outro lugar, o lugar do amor, do acolhimento, das paixões. É uma voz suave, doce, firme. Gal nos presenteou e inspirou muita gente ao cantar profissionalmente, inclusive seu primo, o cantor Ricardo Chaves.

Ele lembra da convivência com Gracinha, como Gal era chamada pela família e amigos mais chegados. Embora ela tenha ido morar no Rio, os dois nunca perderam o contato. Quando a cantora voltou para Salvador e foi morar em uma casa no Rio Vermelho, no Morro da Paciência, eles ficaram mais próximos. Ela e Ricardo se visitavam com frequência.


				
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Foto: Arquivo CORREIO

“Um dia estávamos falando sobre carnaval, aí, do nada, surgiu a ideia e perguntei: vamos lá no trio comigo. Topa? Ela ficou naquela, não tenho experiência de cantar em trio, faz muito tempo que não brinco carnaval. De repente aceitou o convite”, disse Ricardo Chaves para mim.

Eles foram para o estúdio, ensaiaram e no domingo de carnaval lá estava Gal, puxando Os Corujas (na época o nome do Bloco era no plural). Gal gostou tanto que cantou em vários pontos do percurso do Campo Grande. Fez um repertório top, cantou vários sucessos: 'Sorte', 'Festa no interior' e 'Balancê'. O povo se esbaldou. Quem estava nas varandas dos prédios correu pra rua e foi atrás do trio elétrico com a Gracinha. Foi um dia inesquecível!

O compositor e cantor Gerônimo Santana teve uma música gravada por Gal, a famosa É d’Oxum. Gerônimo soube pela gravadora. “A gravação ficou linda, foi na década de 80. A minha aproximação com ela foi a partir daí. Sempre foi muito amável comigo. Todas as vezes que nos encontrávamos, ela me perguntava se eu tinha música pra ela e eu, descaradamente, nunca mandei. De qualquer maneira foi uma grande amizade que fiz“, disse Gerônimo.


				
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Foto: Reprodução

Quem imagina que um dia o compositor Antonio Carlos Capinam foi produtor e quase empresário de Gal Costa, hein? Embora triste com a perda, Capinam conta entre risos um fato que já rendeu boas gargalhadas dos artistas daquela época. A história é a seguinte: Gil e Caetano estavam no exílio. Eram tempos difíceis pra trabalhar. E eis que Capinam se juntou a Jards Macalé, Paulinho da Viola e Gal para produzir e vender os shows. Só que o poeta, autor de 'Soy louco por ti America', não entendia nada de nada de produção e ainda vendia os shows, era o empresário da banda. Que responsabilidade pra quem não tinha a mínima experiência no ramo! 

Gal era maravilhosa. Uma voz … os homens enlouqueciam diante de tanta beleza e talento. Na próxima edição, vamos contar mais histórias da deusa Gal.


				
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