Sinopse: Temendo as ações de Superman, Batman desafia o incompreendido herói. Com Batman e Superman lutando entre si, uma nova ameaça, Apocalypse, é criado por Lex Luthor. Cabe a Superman e Batman deixarem de lado suas diferenças, juntamente com a Mulher Maravilha para parar Lex Luthor e Apocalypse, salvando Metropolis. Batman Vs. Superman – A Origem da Justiça é um filme monumental e, para seu azar, tudo relacionado à obra reproduz tal escala, incluindo-se erros. Não sendo apenas uma continuação, mas o ponto de partida para todo um universo cinematográfico – este com aproximadamente uma dezena de filmes interligados – e com a árdua tarefa de conectar tudo visto em Homem de Aço ao mesmo tempo em que apresenta novos e icônicos personagens à sua frágil mitologia de uma só tacada seria não apenas difícil, mas quase impossível. Após três anos de espera cá estamos, e o resultado, não surpreendentemente, reflete a estratégia equivocada da Warner Bros. em querer forçar às custas de qualquer bom-senso algo que assemelha-se (ou sirva de entrada para) a galinha de ovos de ouro da atual indústria cinematográfica: Os Vingadores e seus membros individuais, a maioria encabeçando franquias que rendem na casa dos bilhões. Não que a culpa seja do estúdio, afinal, todo, produtor em Hollywood (esteja ele por trás de robôs cretinos, carros desgovernados ou monstros clássicos completamente removidos de suas origens) sonha com esse tal universo de super-times ficcionais tão caro a fanboys ou desavisados. Para “azar” da Warner, dona da DC Comics, sua rivalidade com a Marvel surge quase como um dever de nascença, e um filme da Liga da Justiça num mundo em que você deve todas as explicações do mundo a CEOs e investidores é inevitável. Então chegamos a Batman Vs. Superman, cortando todos os caminhos trilhados pelos executivos da Disney/Marvel ao longo de quase uma década e apertando a mente de todos com uma das campanhas de marketing mais caras da história do cinema. Até secretárias do lar em pontos de ônibus e ascensoristas cansadas de shoppings já sabem que ninguém menos que Batman e Superman sairão na porrada. Primeira vez de dois ícones juntos para o bel prazer de muitos, mas não todos. Crossover por crossover, a bagunça carnavalesca que poderia ter sido Os Vingadores transparece aqui em diversos momentos. Acumulando tramas e subtramas sem um antecessor que lhe confira muita legitimidade e filmes futuros que ainda são completas incógnitas, Batman Vs Superman é convicto no que está fazendo, mesmo que em diversos momentos pareça não saber o que está fazendo, contando mais com o respaldo de figuras consagradas dos quadrinhos, mas sem possuir totalmente os alicerces cinematográficos ou lógicos para que funcionem de forma convincente em carne-e-osso. O problema, obviamente, é o excesso. De tudo. Como continuação de Homem de Aço – um filme equivocado e questionável em vários níveis – BvS surge preguiçoso e perdido, jogando Lois Lane em enrascadas o tempo todo apenas para que Superman salve-a, e inventando para ela uma inútil trama em Washington tão previsível dentro de um longa já inchado ao ponto do espectador um pouco mais exigente perguntar se não seria mais fácil de vez negar qualquer tentativa de convencer-nos que estamos vendo algo relacionado ao longa de 2013. A vida como Clark Kent no Daily Planet é um porre, com Perry White (Lawrence Fishburne) exigindo coberturas esportivas enquanto nosso sofrido super-herói está mais interessado no vigilante de Gotham City. Utilizando apenas no meio do filme uma curta montagem interessante e que discute de forma provocativa seu papel na Terra, o Superman de Snyder permanece torturado, mas não o suficiente para que crie empatia. Ainda assim, como peça de tabuleiro, sua função é um pouco mais clara que a de seus adversários. Apostando no óbvio de mostrar os pais de Bruce Wayne sendo assassinados, sim, mais uma vez, ad eternum, e não indo muito além disso para justificar suas motivações como vigilante noturno além de pesadelos mal concebidos num exemplar perfeito de preguiça em desenvolver personagens, o Batman vivido (competentemente) por Ben Affleck não passa de um símbolo do qual nada sabemos e que o filme não se preocupa o suficiente em apresentar apenas como “vítima” vingativa dos atos do Superman no primeiro filme. Supostamente cansado e abatido de uma vida de lutas contra o crime, uma das maiores crateras de roteiro do longa é como diabos o Cavaleiro das Trevas pode ser tão mal estabelecido como símbolo naquele mundo, e sendo tratado quase uma novidade inédita e completamente surgida do nada por Clark Kent. Tentando imitar a estrutura do filme, voltemos a falar do que falávamos antes, pois não temos lá muito foco. Ok, continuação de Homem de Aço. Procura-se um vilão, acha-se o maior nêmesis do Super: o Lex Luthor de Jesse Eisenberg é um dos maiores trunfos de BvS, carregando o fardo de quase movimentar as maiores reviravoltas (AKA plot points fuleiros) do filme. Em termos de vilão, não vemos um tão inusitadamente carregado e absurdo desde o Coringa, e o histrionismo quase cômico de Eisenberg no papel e entrega das falas mais importantes do filme em variações de tom, por vezes ameaçador, por vezes ridículo, serve como contraponto para um mundo sisudo e calculado para ser, praticamente, sem vida. Pena que seu tempo em tela não é maior, pois temos algo especial e que, mesmo num personagem também mal construído, serve como contraponto revelatório, capaz de entregar falas significativas sobre poder, subjugo e deuses sem soar forçado justamente pelos óbvios distúrbios inerentes ao Luthor visto em tela. O problema é quando tudo isso se junta (ou quando fica evidente que quase tudo no filme é desconjuntado), a exemplo da Mulher Maravilha (Gal Gadot) que mal passa de uma bond girl sub-utilizada e que surge aqui e acolá apenas como um anúncio de franquias futuras e o mais puro fan service sem medo de assumir-se como tal. A Trindade, surgida na batalha final contra o monstrengo Apocalypse, está lá porque queriam que estivesse, e não há outra palavra a usar além de “vergonhosa” para descrever como somos apresentados aos futuros membros da Liga da Justiça. Bagunçado até mesmo na forma como o filme chega ao seu título, tanto na construção de ódio mútuo quanto na própria luta entre dois dos maiores heróis ficcionais de todos os tempos, nunca temos um chão firme o suficiente para BvS sustentar-se, e a forma como o antagonismo é resolvido será debatida por anos a fio, mas assim como o homicídio cometido por Superman ao final de Homem de Aço, não de forma positiva. Servindo como punheta nerd em diversos momentos e aproveitando-se sem muito critério de alguns dos momentos mais icônicos dos dois personagens-título, é difícil pensar em sequências memoráveis e que despertem vontade de ser revistas. Resta o design de produção acertado, algumas boas atuações num elenco competente e quase desperdiçado, além de um Alfred (Jeremy Irons) que pode ser o mais irreverente de todos até hoje. Quanto à ação, Snyder decepciona pela segunda vez seguida, ainda que controle seu instinto gamer em fazer algo menos cagado do que a câmera chacoalhante vista no filme anterior. A primeira cena do Batmóvel em ação é mal decupada e uma bagunça visual, enquanto um certo “pesadelo Wayniano” serve mais como desculpa para enfiar porrada e tiro num filme, relativamente, parado e cheio de conceitos interessantes – mas que nunca são desenvolvidos. A batalha final contra o Apocalypse e que todos já aguardavam é, exatamente, o que se espera: volume alto, sem inspiração e servindo também como fan service escroto que levará um personagem a um destino já aguardado e que para nada serve além de forçar emoções onde não há nada além de reviravolta calculada e um gancho que atrapalha mais do que ajuda o que virá no futuro. Apesar dos erros (e são muitos) é um filme que vale a pena ser assistido. O universo DC, quase por default, é infinitamente mais provocativo e interessante que a adorável e inofensiva Disneylândia da Marvel. O potencial está aí. Resta compreender a sua grandiosidade e aproveitá-lo.
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