Com um talento inquestionável, Woody Allen é um dos cineastas mais festejados do mundo e também sinônimo de muita polêmica. Envolvido há alguns anos em escândalos e denúncias de assédio sexual, o americano teve seu contrato com a Amazon rompido em 2018, o que adiou a estreia do seu mais novo filme ‘Um Dia de Chuva em Nova York’, lançado somente na semana passada. A decisão do estúdio de divulgar o longa animou os fãs do diretor, que, infelizmente, se depararam com uma produção aquém da costumeira genialidade woodyaliana.
O filme conta a história de um melancólico jovem, interpretado pelo sempre excelente Timothée Chalamet, cuja namorada, uma jovem estudante de jornalismo (Elle Fanning), vai a Nova York entrevistar um badalado diretor de cinema e acaba sendo assediada por ele, pelo roteirista e até por um ator aleatório que aparece no meio da confusão. Só esse enredo já rende treta suficiente e explica o motivo do filme demorar tanto para ser lançado. Mas foquemos na parte técnica!
Os filmes de Woody Allen são marcados pelos rápidos e interessantes diálogos, pelo humor ácido e por personagens marcantes. Esses elementos estão presentes em ‘Um Dia de Chuva em Nova York’, porém em pequenas doses. De maneira recorrente, o filme se torna um monólogo entupido de devaneios do protagonista, deixando a história arrastada e sem brilho. As interações dele com a namorada são mais vivas, mas ainda bem abaixo da média, nada comparado a ‘Blue Jasmine’ ou ‘Vicky Cristina Barcelona’, por exemplo. Humor ácido é o que realmente está em falta nesse lançamento, o que mais decepciona em se tratando de Woody Allen.
Em contrapartida, é preciso elogiar as atuações do núcleo duro do filme. O casal de protagonistas é simplesmente sensacional, com destaque para Elle Fanning, que fez seu melhor trabalho no cinema. Jude Law, Liev Schreiber e Selena Gomez completam o grupo que consegue dar cor ao longa. Mas a personagem principal mesmo é a cidade. Neste filme, o diretor está ainda mais apaixonado por Nova York e dá à Big Apple um protagonismo como nunca antes visto. A metrópole não é só um cenário, mas a grande força que define a tomada de decisões dos personagens e, claro, embeleza o filme e deixa a fotografia de Vittorio Storaro digna de indicação ao Oscar.
‘Um Dia de Chuva em Nova York’ não chega perto dos grandes clássicos de Woddy Allen, mas merece ser visto. Pelo conjunto da obra, pela história e importância desse grande diretor para a sétima arte e por Nova York, vá ao cinema.
*Heyder Mustafá é jornalista e produtor cultural formado pela UFBA, editor de conteúdo da GFM e Bahia FM, apresentador do Fala Bahia e apaixonado por cinema, literatura e viagens.
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