Um dos mestres modernos da surrealidade, Quentin Dupieux alcança em Realité uma espécie de maturidade. Sem deixar de lado seu espírito anárquico, mas realizando uma obra mais centrada nas suas habituais desvirtuações de linguagem, temos aqui uma demonstração de cinema extremamente provocativa sobre a natureza do entretenimento, os limites entre (adivinhe) realidade e ficção/imaginação e até que ponto somos capazes de nos sabotar para alcançar nossos objetivos, sejam eles estéticos ou não. O tipo de filme que dá um tapa no cérebro do espectador e ri das sequelas.
–08. FAULTS (EUA, Dir. Riley Stearns)Um grande filme de estreia e mais um excelente exemplar de cinema independente estadunidense num ano cheio de destaques. Faults merece um lugar alto na lista de melhores do ano pela sua incrível ambição em tratar de temas complexos como religião, controle mental e manipulação utilizando algumas poucas locações e apoiado num elenco numericamente limitado, mas acertando num design de produção sofisticado e no talento de seus intérpretes. A simples história de um desprogramador religioso lidando com uma jovem envolvida num culto toma rumos inesperados, e quanto menos for dito sobre um dos filmes mais surpreendentes de 2015 melhor será a experiência.
–04. KUMIKO, A CAÇADORA DE TESOUROS (EUA, Dir. David Zellner)Fargo está em alta, como é possível constatar pela ótima série homônima exibida atualmente. Kumiko é um filme cuja trama não gira apenas ao redor do filme dos irmãos Coen, mas parece incorporar parte do espírito absurdo da dupla para narrar a jornada de uma japonesa que encontra uma VHS contendo o longa em questão e acha se tratar de um mapa para um tesouro. Se a premissa absurda parece não sustentar um longa, tudo é salvo na forma como David Zellner conduz sua trama, dependendo muito mais da fragilidade de sua protagonista e intepretação fenomenal de Rinko Kikuchi, num longa que termina brincando com as noções do espectador quanto a sua personagem enigmática, mas pela qual torcemos continuamente enquanto nos perdemos junto a ela numa versão deturpada de país das maravilhas.
–02. A GANGUE (Ucrânia/Holanda, Dir. Miroslav Slaboshpitsky)Como podemos te convencer a assistir um filme mudo interpretado inteiramente por mudos praticando/sofrendo atos de violência, sexo, extorsão, prostituição, aborto e algumas das cenas mais perturbadoras de 2015? Se a frase anterior não te assustou e despertou interesse você terá chances de testemunhar não apenas um dos longas mais provocativos do ano, mas também uma experiência cinematográfica única sobre as dores (físicas e mentais) da juventude, constantemente beirando a brutalidade e sem qualquer vestígio de comiseração por qualquer tipo de deficiência ou pelo espectador. Indicado, também, como antítodo para Star Wars.
–01. THE LOBSTER (Reino Unido, Irlanda, França, Grécia, Holanda, EUA Dir. Yorgos Lanthimos)Dente Canino é um clássico moderno e um dos grandes representantes do provocativo cinema grego, trazendo humor bizarro aliado a uma crítica social voraz e entretendo quase na mesma medida em que causa estranhamento. Seis anos depois seu diretor nos apresenta The Lobster, seu primeiro filme em inglês, trazendo estrelas mundialmente conhecidas no elenco e contando não uma história de amor, mas criando uma parábola surrealista e absurda sobre o amor em si em tempos atuais. A premissa, como sempre, é uma galhofa: pessoas solteiras são obrigadas a hospedar-se num hotel e, caso não consigam achar um par dentro de 45 dias, serão transformadas num animal de sua escolha. É, também, suficiente para que espectadores menos aventureiros torçam o nariz. Mas nada há a ser feito, pois, mais uma vez, Lanthimos cria um universo próprio e inigualável, de profundidade literária repleta de regras e detalhes estapafúrdios que refletem o nosso mundo real e nossas fragilidades como humanos, invariavelmente, falhos. Apesar de um terceiro ato corrido e um final que deixará muitos desapontados, The Lobster é uma obra muito maior do que aparenta ser, firmando Yorgos Lanthimos como um dos cineastas mais importantes da atualidade.
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