O Cinema de ação, gênero de agrado popular mas com sérias rixas com a crítica especializada, consegue entregar em poucas semanas do calendário anual de estréias algumas boas surpresas. A franquia Missão Impossível, série que resiste e se atualiza com competência ao longo das últimas duas décadas, é notável pela diversidade e ousadia das ferramentas que utiliza, tendo como grande trunfo para este resultado o rodízio de grandes diretores que ajudam a pensar e desenvolver sua arte.
O resultado é um filme que, apesar de possuir seu diferencial em relação aos seus predecessores, principalmente no que tange a textura de sua fotografia, admitindo a preferência já anunciada em seu penúltimo filme, Jack Reacher, ao abusar do contraste e de granular seus quadros, acabou por trazer o filme mais episódico da franquia. Digo episódico, pois Nação Secreta não consegue trazer a criatividade e a inovação adicionadas a cada nova fita da franquia, e sua própria premissa parece repetir em grande parte a proposta trazida em Protocolo Fantasma de deixar os agentes trabalharem como renegados por conta própria. Falta em personalidade o que sobra na tentativa de acertar a receita do bolo.O dever de cumprir todos os elementos obrigatórios para caracterizá-lo como um “filme de Missão Impossível” parece engessar suas possibilidades, e cada cena parece trabalhar com o intuito de riscar da lista de compras o que é jogado no carrinho. Máscaras absurdamente realistas, uma quantidade de mudanças de locações que daria inveja ao próprio 007 e um grande plano de invasão aparentemente impossível são marcas registradas e dão segurança tanto ao público quanto aos produtores de que não estão arriscando seus dólares no produto errado.Por outro lado, é bastante gratificante as homenagens feitas ao diretor que conseguiu trazer os melhores filmes de espionagem já visto em uma tela grande: Alfred Hitchcock. A cena de luta na opera de Viena se propõe e consegue trazer o tom majestoso do clímax de O Homem que Sabia Demais, onde o tiro a ser disparado pelo assassino, nos dois casos, só será efetuado em uma determinada nota marcada na partitura. O fato do espectador ser previamente avisado dos planos do homicida, agrega um imenso valor ao suspense construído e à montagem paralela quadruplamente efetuada com destreza neste momento. Destaco também o trabalho fantástico de edição de som, aliado a câmera submarina no momento da invasão ao cofre, onde o espectador parece ser levado pela correnteza juntamente com os personagens em cena.Tom Cruise (No Limite do Amanhã) retorna com seu típico vigor físico, provando que idade não é sinal de enfraquecimento. Suas cenas de ação são extremamente bem coreografadas e colocadas em prática com visível disciplina. Pena que o empenho do ator não pareça alcançar as searas mais profundas de seu personagem, e os momentos mais emotivos ou conflituosos que perpassam pela sua trajetória são marcados pelo seu estilo “canastrão”. Em dois momentos bem específicos este lado do ator fica extremamente claro, e os diálogos já expositivos do roteiro de McQuarrie são escancarados em tela por um “tom” (ha-ha-ha) visivelmente acima em suas réplicas.Mergulhado em um carisma transgênico, cirurgicamente trabalhado em laboratório, Missão Impossível: Nação Secreta passa longe de ser considerado um filme ruim. Com um roteiro e direção que, por mais que errem em certos pontos, provam seu devido valor no equilíbrio entre ação e humor. McQuarrie transpira um ar de C.D.F, que fez o filme como uma prova de História do Cinema, onde liga aos elementos da quadrilogia que antecede seu novo filme, a bagagem quase secular do Cinema de Espionagem, entregando um resultado que pode se resumir como “correto”. E talvez este seja seu maior problema.Assista ao vídeo das primeiras impressões
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