Nove anos depois vender mais de 4 milhões de ingressos e de faturar mais de R$ 36 milhões com o drama espírita "Nosso lar" (2010), o diretor Wagner de Assis volta a investir no segmento espiritual com "Kardec". Com Leonardo Medeiros no papel título, o longa conta a história do criador do espiritismo, o francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), que depois adotaria o famoso pseudônimo de Allan Kardec. A produção entrou em cartaz nesta quinta-feira em 430 salas, o que indica uma aposta no retrospecto de Assis e no potencial desse tipo de história.
— Não acredito em espiritismo como gênero. Gênero é cinebiografia, drama... Se fosse assim, então, temos que chamar “Ghost”, “O sexto sentido”, “Os outros” de filmes espíritas? Eu acredito em histórias bem contadas — diz Assis, em entrevista ao GLOBO.
Ambientado na Paris da primeira metade do século XIX, "Kardec" começa quando Rivail encerra sua carreira como professor no sistema de ensino francês e decide se aposentar aos 50 anos de idade. O filme foi rodado há um ano e teve uma semana de filmagens em Paris e quatro em locações no Rio. Todas as cenas na capital francesa tiveram intervenção digital para apagamento das modernidades, mas uma presença constante é a da Catedral de Notre Dame, que foi quase destruída por um incêndio de grandes proporções no dia 15 de abril.
— Filmar em Paris era uma decisão ousada, mas era importante. E eles (os produtores) toparam, para a nossa surpresa. A catedral é muito simbólica da cidade, quase como personagem do filme. Imagina a nossa surpresa com o incêndio — fala o diretor, que não abre o orçamento do filme, mas cujo teto de captação na Ancine foi de R$ 9,5 milhões.
Educador progressista, Rivail era um dos discípulos do pedagogo suíço Johann H. Pestalozzi e abandonou a profissão por se sentir incomodado com a interferência da Igreja Católica na educação francesa. Era um período de turbulência política na França, que viu o golpe de 1851 por fim à Segunda República e iniciar o Segundo Império em favor do autoritário Napoleão III.
Nesse cenário, Rivail e sua mulher, Amélie Gabrielle Boudet (Sandra Corvelloni), acabam se interessando por uma moda da época, em Paris, a das mesas mediúnicas. Ele começa, então, a fazer pesquisas em torno do fenômeno para tentar provar que nem tudo é picaretagem. Essa transformação acontece quando ele tem 53 anos e finalmente adota o pseudônimo de Kardec, que seria o nome de uma de suas antigas encarnações.
— Eu filmei esse papel com 53 anos — diz o ator Leonardo Medeiros, que não declara a própria religião, mas diz ter crescido em uma família espírita. — Ele, que era um cientista, se dispôs a abrir o horizonte e analisar de maneira racional um fenômeno que viu acontecer na sua frente. Tenho admiração e me sinto igual a ele nesse sentido. Mas não tenho a mesma tenacidade e curiosidade, embora também tenha visto essas coisas acontecerem na minha própria casa quando era criança.
"Kardec" teve como base a biografia de mesmo nome do escritor e jornalista Marcel Souto Mayor, autor também da biografia do médium Chico Xavier e que também deu origem a um longa. O livro, diz o autor, traz uma visão objetiva de como foi a vida de Rivail, e o filme escolheu o melhor recorte possível para contar a história do criador da doutrina espírita:
— Gosto muito do recorte do filme porque é muito preciso e fiel. Pega o momento em que um professor cético se transforma em um missionário. E é também uma história de superação e de combate ao materialismo puro. Isso tudo num mundo muito deprimido, como é o mundo em que vivemos hoje — diz Marcel.
Veja também:
Leia também:
AUTOR
Redação iBahia
AUTOR
Redação iBahia
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade