Halder Gomes falou sobre seu novo filme, com estreia em Salvador prevista para esta sexta-feira (30) |
"Se você ouvir dois cearenses falando rapidamente, não vai entender nada (risos)" |
Halder Gomes - Há várias coisas. Aquele universo é o universo em que vivi. O personagem Valdisnei é um pouco o meu alter-ego - aquele pivetinho a quem não restava nada a não ser sonhar. E ele representa essa metáfora do que é fazer cinema independente, onde somos ao mesmo tempo diretor, produtor, roteirista e várias outras coisas até que o filme chegue à tela.
iBahia - Alguém de sua família possui algum vínculo com o cinema?
Halder - Não, ninguém. Na verdade, eu gostava muito de artes marciais e o cinema que havia no interior, coincidentemente, tinha muitos filmes chineses. Para mim, aquilo era fascinante.
iBahia - Como foi gravar um filme em 'Cearencês' e legendado em português? De onde veio essa ideia?
Halder - Se você ouvir dois cearenses falando rapidamente, não vai entender nada (risos). É quase um dialeto, e digo isso não apenas pelas palavras, pela maneira de falar... Percebo que recebemos produtos de lá [Sudeste] onde tentam representar os nordestinos sem compreender a dimensão continental que é o Brasil e o Nordeste em si, com toda a sua diversidade cultural. E, às vezes, ouvimos personagens falando um sotaque que não nos pertence. Então o objetivo foi manter a veracidade da nossa forma de falar. E, desde o início, sabia que teria de colocar legenda. iBahia - O longa trata de uma realidade e de um período relativamente distantes. A história ainda teria essa capacidade de se comunicar com as novas gerações? Halder - O interior do Ceará atualmente está desfigurado por conta da transformação econômica. O interior deixou de ser interior. Mas a linguagem do filme também corresponde muito ao modo de falar do cearense dos dias de hoje. A intenção é também comunicar com o público jovem. Existem muitas expressões faladas pelos personagens inexistentes na década de 70. E isso parece estar surtindo efeito, pois estamos conseguindo atrair três gerações de espectadores aos cinemas. iBahia - Como se deu a escolha dos atores? Halder - Em 2004, Edmilson Filho era membro da minha academia de Taekwondo. Era um atleta determinado, já tinha sido campeão brasileiro várias vezes. Mas tinha um forte talento para a comédia, chegando a ganhar um show de humor que revelou artistas como Tom Cavalcante e Tiririca. Então escrevi o roteiro já o tendo como protagonista. Em relação aos personagens secundários, o processo foi outro. Alguns atores estavam em mente desde o início, mas sabia que teria de buscar os outros fora do Ceará, pois não conseguiria encontrar ali aquele perfil que eu queria.
iBahia - Para além do recorde de bilheterias, você já está colhendo os frutos desses trabalho? O cineasta Fernando Meirelles, por exemplo, elogiou bastante... Halder - É muito gratificante para mim, porque minha história com o cinema não é convencional. Comecei como dublê de luta, não tive uma formação em cinema. Aprendi cinema fazendo. E por isso existia uma certa dificuldade por parte de algumas pessoas em aceitar a minha carreira; tudo o que eu fazia, mesmo sendo bem sucedido, sempre era alvo de algum questionamento. Agora, com os elogios de Fernando Meirelles, começam a olhar a minha história com mais respeito. Então, às vezes é necessário termos o lastro de um depoimento como esse para que olhem o nosso trabalho com maior seriedade. iBahia - E depois de 'Cine Holliúdy', tem algum novo projeto em mente? Halder - Tenho projeto de mais dois filmes com a Downtown. O primeiro já está definido, estamos, inclusive, trabalhando no roteiro; quanto ao outro, ainda irei apresentar argumentos para decidir como será realizado. Ambos terão a mesma pegada homorística, mas envolvendo ação. Tenho também um projeto autoral, que foge de tudo o que já fiz e tratará de um pintor no fim da vida. A coisa que mais gosto de fazer no mundo é pintar. Assista ao trailer do filme: [youtube 7allekyiCY8]
"Comecei como dublê de luta, não tive uma formação em cinema. Aprendi cinema fazendo". |
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