Espelho, espelho meu... Existe alguém mais bela do que Belle? Os fãs da animação da Disney de 1991 poderão dar a resposta a partir de hoje ao encontrar na tela do cinema as feições de Emma Watson, a Hermione da franquia “Harry Potter”, na versão carne, osso e efeitos especiais da protagonista de “A Bela e a Fera” tal qual imaginada pelo diretor Bill Condon. Se o interesse pelo primeiro trailer, que chegou a 92 milhões de acessos no primeiro dia, se confirmar nas bilheterias, ganharão força as adaptações com atores reais de “Dumbo”, com direção de Tim Burton, e “Aladdin”, de Guy Ritchie, previstas para o ano que vem; e ainda as de “Cruella”, com Emma Stone, “O Rei Leão”, de Jon Favreau, e “A Pequena Sereia”, de Lin Manuel-Miranda, ainda sem data de estreia. As vendas antecipadas de ingressos para “A Bela e a Fera” nos EUA já mostram números superiores às reinvenções de “Cinderela”, de 2015, e de “Mogli”, no ano passado.
"O desenho permite mudanças radicais de tom que não cabem em um filme com personagens de carne e osso. Não dá para sair da comédia de Gaston (Luke Evans) e LeFou (Josh Gad) e pular imediatamente para cenas de fato assustadoras, como o ataque dos lobos, ou filosoficamente mais sérias, como as questões que atormentam a Fera (Dan Stevens). A cola que une o desenho e o meu filme é a música. Ela foi a minha guia, a responsável por levar a história para a frente", afirma Bill Condon.
Vencedor do Oscar de melhor roteiro por “Deuses e monstros”, em 1999, indicado pela direção de “Chicago”, em 2003, e responsável pela adaptação do musical “Dreamgirls — Em busca de um sonho” para o cinema, Condon precisava de uma Bela capaz de cantar. O projeto inicial da Disney era o de criar uma versão não musical do desenho, para atrair também plateias masculinas. O diretor conta que a explosão de “Frozen — Uma aventura congelante”, em 2013, fez o estúdio dar o braço a torcer e apostar em sua visão de uma Bela e uma Fera cantantes e dançantes.
Emma, no entanto, jamais havia cantado em público, mas o diretor não se fez de rogado: a atriz, um óbvio chamariz para crianças e adolescentes que cresceram acompanhando a sabichona charmosa de “Harry Potter”, teria de topar fazer testes de elenco. E soltar a voz nos números hoje clássicos da trilha criada por Howard Ashman e Alan Menken, hits também no musical homônimo que ficou 13 anos em cartaz na Broadway, com adaptações em 20 países, incluindo o Brasil.
"O desenho tomou forma no ano em que nasci, há vinte e seis anos, e foi importantíssimo para mim em meus anos de pré-adolescência. Sabia todas as músicas de cor. Os ensaios e o treinamento constante de voz foram tão fundamentais para mim quanto a modernização que eu e Bill Condon fizemos de uma personagem já distante da princesa tradicional dos clássicos da animação", conta a atriz inglesa nascida em Paris, quando seus pais viviam na França.
Desenho-símbolo da chamada Renascença da Disney, quando o estúdio buscou se reinventar, na virada dos anos 1990, “A Bela e a Fera” já apresentava uma protagonista mais independente, cuja paixão pelos livros e a capacidade de ver além das aparências seriam cruciais para a transformação da Fera em príncipe.
Na nova encarnação do filme, o centro da história é o mesmo, com a missão de Bela em libertar o pai (interpretado por Kevin Kline), preso no castelo de um ser assustador. Uma mágica terrível fez com que os empregados se transformassem em objetos falantes, e o conto de fadas só termina quando a Fera encontrar um amor verdadeiro.
ORÇAMENTO DE MAIS DE US$ 300 MILHÕES
Mas, na versão de Bill Condon, LeFou se descobre gay, Bela vê a biblioteca da Fera como matéria-prima para seu trabalho de incentivar a leitura entre as meninas da aldeia, há um jovem bule skatista, e o monstro é uma criatura de fato fantástica, recriada com tecnologia de ponta e 100% digital, em um custo total de produção, incluindo despesas com marketing, de US$ 300 milhões. Para se ter uma ideia, o desenho original saiu pela bagatela — para os padrões de Hollywood — de US$ 25 milhões.
A transformação feminista da protagonista tornou-se motivo de polêmica nas redes sociais depois de Emma aparecer com parte dos seios à mostra em uma reportagem sobre o filme na revista “Vanity Fair”, intitulada “Rebel Belle”, ou “A Bela rebelde”. Para parte dos fãs, aparentemente, a atriz, em meio a declarações sobre direitos das mulheres e seu ativismo social, desde 2014 solidificado com o convite para ser embaixadora da agência ONU Mulheres, havia levado a heroína da Disney longe demais.
"Meu ativismo e meu trabalho andam lado a lado. E a Belle, quando criada, por uma das primeiras argumentistas-chefes da Disney, foi baseada em Katharine Hepburn (1907-2003). A intenção era, sim, fazer algo como uma princesa feminista. No DNA dela está a representação de uma versão muito mais ampla da ideia de nobreza, e foi isso que me guiou nessa nova encarnação da personagem que eu venero", explica a súdita da rainha Elizabeth II.
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