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BAHIA

Resultado do Enem reflete diferenças na educação na Bahia

Confira "abismo" que separa os estudantes do 3º ano de duas instituições no ranking das médias do Exame

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24/11/2012 às 9:44 • Atualizada em 02/09/2022 às 4:58 - há XX semanas
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Leonardo só tirou o casaco preto para aparecer fardado na foto: a sala de aula do Colégio Anchieta, na Pituba, é fria. Já os colegas Antônio e Helder abrem a janela para ventilar o espaço do Estadual Raymundo Matta, no Lobato. Porém, a diferença da realidade desses alunos — que começa nas fachadas das escolas — vai além de um mero fator climático.
Um abismo de exatas 9.850 posições separa os estudantes do 3º ano das duas instituições no ranking das médias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), divulgado anteontem pelo MEC.
A média das escolas baianas no exame de 2011 foi a sexta melhor do país (529,65) e o estado tem duas unidades entre as 100 melhores, ambas privadas — o Helyos (11ª), em Feira de Santana, a 108 quilômetros de Salvador, e o Anchieta (99ª) em 1º pela quarta vez na capital. No ranking nacional, antes de aparecer a primeira escola estadual baiana, há 105 privadas e cinco federais. O Raymundo Matta ocupa o posto 9.689 entre 10.076 colégios avaliados no país.
Na capital, Leonardo Siquara, 18 anos, sente-se “privilegiado” por estudar no Anchieta. Antonio Balbino, 18, e Helder Crisan, 17, tentam “ser espelho” para seus colegas, em meio às deficiências da instituição e também de comportamento dos pares.
Na reta final para encarar o vestibular de Arquitetura da Ufba, Leonardo atribui a boa posição no Enem às metodologias de ensino que seu colégio lança mão. “Sinto segurança muito grande diante de tudo que aprendo. A escola não me deixa em desfalque em nada. Fiz 83% do Enem e acredito que posso ser aprovado no vestibular”, disse.
Orgulhoso com mais um resultado favorável, o diretor do Anchieta, João Batista, creditou a posição de destaque aos investimentos na qualificação do corpo docente, à estrutura e “à busca pela excelência em educação”. “Temos um centro de educação continuada para professores”, ressaltou. Tudo isso tem um preço. Nesse caso, R$ 1.834 de mensalidade.
Na periferia
Em defesa da escola em que estudam, Antonio e Helder observam que a falta de interesse por parte de alguns alunos pode ter contribuído para o desempenho ruim do Raymundo Matta no Enem passado. “Ficamos decepcionados porque os alunos foram preparados pelos professores. Acho que fizeram a prova por fazer. Esquecem que devem dar o melhor. É currículo para a vida toda”, afirma Helder.
Os professores Antônio Augusto Costa e Roberto Costa lembraram que o contexto social dos alunos também teve influência no resultado. “Muitos são pais de família, trabalham e já deixaram de estudar há algum tempo. Estamos em uma escola de periferia e com uma clientela difícil. As condições favorecem a evasão e a queda no rendimento”, constatou Antônio.
Apesar disso, os professores queixam-se da falta recorrente de docentes contratados pelo estado. “A escola tem autonomia pra contratar, mas quem vai querer receber um salário de R$ 700 para ter carga horária maior que concursado?”, pergunta Roberto.
O professor Antônio afirmou que os alunos só se inscreveram no Enem 2011 por insistência sua. “Eu que fiz as inscrições deles. Trouxe as fichas e insistia para que dessem os dados. Dos 40 alunos, só 15 fizeram a prova. Não havia interesse de muitos deles, mas a nossa preocupação é fazer com que eles tenham condições melhores”.
Aluno do ensino médio custa R$ 2.600 por ano, diz secretário
O secretário estadual da educação, Osvaldo Barreto Filho, avalia como positiva a posição das escolas baianas na avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio de 2011. “No Nordeste, estamos na melhor posição e ficamos na frente de estados do Sul e do Sudeste”, afirma. Sobre a discrepância entre os colégios das redes estadual, federal e particular, o secretário acredita que esse resultado expõe a diferença entre as condições de financiamento e, consequentemente, de estrutura dessas instituições. “Fazer comparação em educação exige que seja entre iguais”, explica. Atualmente, um aluno do ensino médio da rede estadual da Bahia custa em torno de R$ 2.600 por ano, segundo Barreto. Sobre o Colégio Estadual Raymundo Matta, no Lobato, que é o 10º pior do estado, o secretário afirma que outras questões sociais interferem na educação. “Temos que considerar o ambiente social em que vivem esses estudantes. Nosso esforço é a melhoria da rede de forma integral, não que haja uma escola à frente da outra”, afirma. Para o próximo ano, o secretário acredita que a greve dos professores, que durou 115 dias, deve influenciar nos resultados.
Feira: turmas têm no máximo 35 alunos
O Colégio Helyos, em Feira de Santana, é o 11º melhor colégio do país e o primeiro baiano no ranking do Enem. O colégio tem posição de destaque desde que o Ministério da Educação começou a divulgar o resultado do exame. O segredo? “Não temos uma receita. Atribuímos a um trabalho cotidiano. A maioria dos nossos alunos está conosco desde a infância e estimulamos desde pequenos a dedicação diária aos estudos”, explica Patrícia Moldes, coordenadora pedagógica do ensino médio do Helyos, que fica no bairro Santa Mônica. De acordo com ela, as turmas são reduzidas com, no máximo, 35 alunos por sala no ensino médio.
Enem em números
529,6 Média das escolas baianas no exame de 2011 — a sexta melhor do país — atrás de RJ, SP, MG, DF e SC
433,7 Nota do Colégio Estadual Raymundo Matta no Enem 2011. Foi a escola de Salvador com a pior média
653,5 Nota do Colégio Anchieta no Enem 2011; a instituição ficou em 1º lugar na capital pela quarta vezMatéria original do Correio 24H Resultado do Enem reflete diferenças na rede pública e privada na Bahia

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