Gritos de protestos ecoam das ruas brasileiras pelas mais diversas bandeiras desde o dia desde 6 de junho. Inspirados por esses movimentos, centrais sindicais de todo país convocaram para hoje as classes trabalhadoras em torno do Dia Nacional de Lutas com Greves e Paralisações, em que duas bandeiras dividirão o mesmo espaço nas cidades.
De um lado, o movimento espontâneo surgido após o protesto do passe livre estudantil de São Paulo em guerra contra os R$ 0,20, desvinculado a partidos e sem organização centralizada. O mesmo que deu origem às ondas de manifestações ligadas aos reajustes no transporte público, e que, aos poucos, canalizou insatisfações das mais diversas, da qualidade do ensino à corrupção.
Do outro, o do que convocou a greve geral de hoje, estarão os sindicatos, associações estudantis e movimentos sociais, que têm ligações históricas com os partidos políticos mais à esquerda. Um grupo que foi hostilizado na espontaneidade da marcha, mas que agora busca tomar a dianteira das manifestações populares.
A chamada voz das ruas, que ganhou espaço na mídia e na pauta dos governos, principalmente durante a Copa das Confederações, iniciou seus movimentos sem pautas específicas de reivindicações fora do transporte público.
Foi inicialmente atacada pela repressão policial, mas ganhou a simpatia popular ao ser apartada dos grupos cuja única bandeira era a baderna, em parte responsável pelo saldo de ao menos seis mortos.
Em resposta, a presidente Dilma Rousseff (PT), quase uma semana após o início dos atos, fez pronunciamento propondo cinco pactos pela nação. No mesmo rastro, o Congresso aprovou medidas da agenda positiva.
Para o professor e pesquisador de comunicação e política da Universidade Federal da Bahia Wilson Gomes há uma diferença entre as ações de hoje das centrais sindicais e as manifestações anteriores. “Nos movimentos recentes, havia uma insatisfação contra as instituições políticas e as reivindicações eram universalizadas. A de amanhã (hoje) é bem diferente. Não é contra o governo, e sim, para pressioná-lo, para se obter alguma coisa. O chamado fogo amigo. A pauta tem toda uma característica de uma movimentação de trabalhadores. É uma relação histórica”, explica Gomes.
Reivindicações
As centrais sindicais pintaram sua bandeira com nove reivindicações, fora as pautas de cada categoria: redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução de salários; fim do projeto da terceirização do serviço público; fim do fator previdenciário; 10% do PIB para a educação; 10% do orçamento da União para a saúde; transporte público de qualidade; valorização das aposentadorias; reforma agrária e fim dos leilões de petróleo.
“Mais de 50 mil trabalhadores foram às ruas no dia 6 março e foi entregue uma pauta de reivindicações à presidente, mas pouca coisa avançou. É por isso que estamos voltando às ruas, para pressionar o governo e o Legislativo”, disse Cedro Silva, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na Bahia. Ontem, confirmaram participação nos protestos policiais, petroleiros, agentes de saúde e motoristas de ônibus.
“Estamos lutando, principalmente, para rever a carga horária dos rodoviários, porque nunca teve tanto acidente de ônibus com vítima como agora”, afirmou o diretor do Sindicato dos Rodoviários da Bahia, Daniel Mota. Comerciários, bancários, operários da construção civil, metalúrgicos, petroquímicos de Camaçari, professores, médicos e profissionais da área de saúde preveem paralisações.
Divergências
Para o cientista político Jorge Almeida, da Ufba, as centrais sindicais foram forçadas a protestar pelas circunstâncias das ruas, onde os movimentos emergiram do cidadão comum, sem vínculo partidário: “Tem um pouco uma tentativa dessas organizações mais tradicionais de canalizar as mobilizações no sentido de não criar problemas com o governo e quem sabe até ajudar. Não é que todos os movimentos sejam governistas e estejam nessa intenção, até porque muitos participaram do Movimento Passe Livre. Tem essa contradição: da mesma forma que o outro não tinha uma direção muito clara, esse também não tem, mas tem uma presença muito mais forte de movimentos tradicionais”.
CRONOLOGIA DOS PROTESTOS PELO PAÍS
06/06 - Tarifa em São Paulo
Contra a elevação da tarifa de ônibus, metrô e trens em São Paulo, manifestantes entraram em confronto com a PM e bloquearam vias. Grupos desencadearam as primeiras cenas de vandalismo no centro da capital paulista.
13/06 - Protestos se espalham
Três atos organizados pelo Movimento Passe Livre, em São Paulo, terminaram em confronto com a polícia e deixaram um saldo de destruição. Mais de 50 pessoas foram detidas. No Rio de Janeiro, começaram a acontecer protestos, incluindo outros temas além do preço da tarifa.
15/06 - Vaias na festa
No dia da abertura da Copa das Confederações, em Brasília, teve início uma série de confrontos de manifestantes com a polícia nas cidades-sede da competição. Os atos sempre começavam tranquilos, mas ao chegar perto dos estádios havia confrontos. A presidente Dilma Rousseff foi vaiada pelo público dentro do estádio. Depois, sua popularidade caiu mais de 20 pontos.
16/06 - Apoio mundial
Em apoio aos manifestantes que ocuparam às ruas em meio à repressão, dezenas de protestos de solidariedade foram organizados pelo mundo.
17/06 - No topo do poder
Em Brasília, um grupo de manifestantes invadiu a cúpula do edifício do Congresso Nacional.
18/06 - Pressão
Pressionadas pelos movimentos nas ruas, cinco capitais decidiram reverter o aumento das tarifas de transporte público.
20/06 - Salvador
Capital tem atos pacíficos que terminam em violência. Vários locais da cidade foram palco de confrontos entre a PM e vândalos infiltrados nas manifestações. No mesmo dia, protestos realizados em Brasília levaram 20 mil pessoas às ruas e foram marcados por invasões e depredação a prédios.
21/06 - Dilma na TV
Em cadeia nacional, presidente pede pacto pelo transporte.
23/06 - Tensão
Dilma convoca prefeitos e governadores para reunião extraordinária e discute soluções para a crise.
24/06 - Respostas às vozes
Em reunião com governadores e prefeitos, Dilma propõe cinco pactos. No pacto pela educação, prometia direcionar 100% dos royalties do petróleo para a educação, mas, em votação no Senado, o índice ficou em 75%. No pacto pela saúde, propôs a importação de médicos estrangeiros e aumento da infraestrutura da rede pública. Na última segunda-feira, lançou o programa Mais Médicos. Outro pacto propunha mais responsabilidade fiscal nos estados e municípios para que o país tenha maior estabilidade econômica e controle da inflação. No pacto pelo transporte público, Dilma destacou que o governo já desonerou impostos do setor e pediu que prefeitos e ministros fizessem o mesmo, além de anunciar R$ 50 bilhões em mobilidade urbana, priorizando o metrô. Um dos pactos mais polêmicos apresentados pela presidente foi o anúncio da convocação de plebiscito para uma nova constituinte, mudada depois para uma proposta de plebiscito sobre a reforma política válida já para 2014, ideia enterrada anteontem pela Câmara.
25/06 - Ecos no STF
Presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa ecoou o discurso dos manifestantes por menos partidos políticos e defendeu participação do povo nas decisões.
26/06 - Morte em Minas
Em Belo Horizonte, grupo entra em confronto com a PM perto do Mineirão, onde o Brasil jogava. Um estudante morreu ao cair de um viaduto.
27/06 - Carta ao prefeito
Cerca de 3 mil manifestantes, em ato do Movimento Passe Livre em Salvador, entregaram carta ao prefeito ACM Neto.
28/06 - Infiltrados na mina da PM
Polícia mudou a tática para combater vândalos que se infiltraram nos protestos. Em Salvador, na região de Cajazeiras, a PM caminhou de mãos dadas com manifestantes. Ao longo da última semana de junho, o Congresso Nacional criou uma agenda positiva para votar pautas que estavam nos pedidos dos manifestantes. Dentre elas, a derrubada da proposta que tirava o poder de investigação do Ministério Público.
01/07 - Caminhões na estrada
Sob suspeita de agir a mando dos patrões, caminhoneiros encerraram manifestações que bloquearam as estradas por quatro dias. Eles pediam redução do preço do óleo diesel e isenção nos pedágios. Governo criou câmara para discutir os rumos do setor de cargas.
02/07 - Sinais de fraqueza
Em várias cidades do país, as manifestações perderam força. Em Salvador, no dia da comemoração da Independência no estado, o povo foi às ruas em protesto pacífico contra os políticos. Entidades sindicais se uniram aos atos pedindo melhores condições de trabalho para os servidores.Matéria original do Correio*: Após protestos populares, mobilização de sindicatos acontece no país inteiro
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