A Re-Ocupação de Arte Indígena Antirracista leva a Salvador uma exposição, encontros e debates com renomados artistas, além de uma mostra de cinema, na quinta-feira (3) e sexta (4).
O evento, que conta com a maior exposição de arte indígena feita na Bahia e uma das maiores feitas no Brasil, integra um projeto de pesquisas internacional de cultura antirracismo na América Latina.
Leia também:
O objetivo da ação é visibilizar a arte indígena e a dimensão antirracista trabalhada por um grupo de artistas indígenas que, neste semestre, estão vinculados como pesquisadores visitantes no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos (IHAC), da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
As atividades públicas serão feitas lugares que carregam enorme importância histórica na capital baiana como o Museu de Arte Sacra, a Sala de Arte Cinema do Museu Geológico, Biblioteca Central da UFBA e Academia de Letras da Bahia. [Veja a programação completa no final da reportagem]
Além de Salvador, nesta mesma semana ocorre também como parte desse projeto internacional algumas ações semelhantes em Bogotá, na Colômbia.
O projeto é sediado na Universidade de Manchester, na Inglaterra, e financiado por uma bolsa do Conselho Britânico de Artes e Humanidades, e é composto por outras três universidades que produzem pesquisas em conjunto: a Universidade Federal da Bahia, pelo professor Felipe Milanez, do IHAC, que coordena o projeto no Brasil, a Universidade Nacional San Martin, em Buenos Aires, na Argentina, e a Universidade Nacional da Colômbia, em Bogotá.
O evento vai contar com trabalhos com potências fortíssimas de artistas indígenas consagrados como Arissana Pataxó, doutoranda na Escola de Belas Artes, da UFBA, e pesquisadora assistente do projeto CARLA, Yacunã Tuxá e Vitor Tuxá, que são estudantes da UFBA, Gliceria Tupinambá, Graciela Guarani, Olinda Yawar, Juliana Xukuru e Ziel Karapotó, que estão como pesquisadores visitantes na UFBA, Denilson Baniwa, Gustavo Caboco e Naine Terena, que colaboram com o projeto CARLA, e a artista Irekran Kaiapó, viúva do grande líder indígena Paulinho Paiakan.
As obras da exposição resultam de pesquisas ao longo do semestre, de reflexões sobre o racismo, o colonialismo e a perspectiva de diferentes visões de mundos, de forma a contribuir para a construção de uma nova sociedade e de transformações sociais a partir das reflexões indígenas contra o racismo.
“Os artistas tiveram total liberdade de criar, pensar as marcas do colonialismo e provocar uma discussão sobre como o racismo atinge a população indígena e ajudar o público a imaginar um outro país, uma outra sociedade”, disse o professor Felipe Milanez, coordenador do projeto CARLA no Brasil e co-curador do evento junto das artistas indígenas.
"O projeto CARLA é a enunciação de algo novo, e que já não pode passar despercebido. É a convergência de um movimento dos últimos anos em que estamos a ocupando esses espaços hegemônicos por meio da arte, evidenciando o racismo sobre nós, que é entendido de forma geral pela sociedade que nós indígenas não sofreríamos racismo – o que não é verdade”, afirma Ziel Karapotó. Para ele, “o projeto CARLA tensiona essa situação. E essa exposição vem projetar paisagens que evidenciam o racismo. Por meio das obras, vem afirmar: os indígenas sofrem racismo e devemos tornar essa discussão pública para o enfrentamento ao racismo em todas as suas dimensões.”
O evento promete fazer com que Salvador, após essa re-ocupação de arte indígena antirracista, seja uma cidade mais aberta para se encontrar com os povos indígenas da Bahia e do Nordeste.
“As obras estão lindas. São trabalhos geniais e de grande beleza e sofisticação estética, com críticas profundas sobre a história corrente do Brasil que visa apagar a presença indígena. São obras que, por serem inovadoras e trazerem abordagens inéditas, vão surpreender todos e todas que vierem assistir, acompanhar, participar das atividades”, contou o professor da Ufba.
Com essa abertura à reflexões indígenas, o grupo de artistas indígenas espera que Salvador possa ter mais espaços para as artes indígenas e reconhecer a beleza da arte originária e a potência crítica do pensamento indígena.
Veja a programação completa do evento
Quinta-feira (03/01):
Biblioteca Central da UFBA
Manhã: Pintura mural por Glicéria Tupinambá: "TUPINAMBÁ YBAKA - O céu Tupinambá"
MUSEU DE ARTE SACRA
14:00 Igreja- Solenidade de abertura: Reitor, Pró-Reitor de extensão, Diretora do Museu, Diretor do IHAC, Representante da Universidade de Manchester, Coordenação do Projeto
16:00 início do percurso da performance com Ziel Karapoto e Olinda Yawar
17: 00 conclusão da performance na área externa.
17:00 Visita exposição ( visitação rotativa com 10 pessoas por vez)
18:00 encerramento das atividade no MAS
SALA DE ARTE CINEMA DO MUSEU GEOLÓGICO
Cinco cenas da luta indígena antirracista
19:00 Sessão de filmes: Laço/Naine Terena (4 min); Colheita Maldita/Denilson Baniwa (11 min); Paola/Ziel (22 min); Ibirapitanga (15 min)/Olinda; Xe ñe’e - Graci Guarani ( 7 min)
20:00 Debate com artistas
Sexta-feira (04/01):
MUSEU DE ARTE SACRA
14:00 Refeitório- Cartografias de artistas indígenas no Nordeste: pesquisas, levantamentos, debates e construção de redes. Com Ziel Karapotó, Juliana Xukuru, Arissana Pataxó e Yacunã Tuxá. Mediação Felipe Milanez
15:00 Refeitório - Roda de diálogo com artistas: estética em perspectiva antirracista com Graciela Guarani, Juliana Xukuru, Yacunã Tuxá, Célia Tupinambá, Olinda Yawar, Ziel Karapotó. Mediação Arissana Pataxó.
ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA
Narrativas indígenas antirracistas
19:00 Mesa de encerramento: Lucia Sá (Univ. Manchester), Pedro Mandagará (UNB), Olinda Yawar, Graciela Guarani e Yacunã Tuxá. Mediação: Felipe Milanez
Leia mais sobre Bahia no iBahia.com e siga o portal no Google Notícias.
Veja também:
Redação iBahia
Redação iBahia
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!