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Em "Diário do Farol: onde as palavras se revelam inadequadas", um homem de 60 anos (Amarílio Sales) autoexilado numa ilhota deserta, onde constrói um farol, relata uma vida abominável para confirmar a sua existência. Filho de um fazendeiro (Daniel Becker), ele conta uma infância de surras e humilhações. A partir da morte da mãe (Nayara Homem), o pai a mata para se casar com a cunhada, ele passa a ouvir a voz materna sussurrando-lhe vingança. Enviado ao seminário, o personagem, que não revela seu nome, passa a criar intrigar e prestar favores sexuais para sobreviver ao ambiente permeado de corrupção e, assim, alcançar seus objetivos. Quando conclui os estudos religiosos, é enviado à paróquia de Praia Grande e começa a se relacionar com as noivas da cidade, entre elas a jovem esquerdista Maria Helena (Tatiane Carcanholo), que rejeita seus apelos amorosos. Desprezado e com desejo de ir à forra, ele se infiltra, durante a Ditadura Militar, num grupo subversivo para encontrá-la. Ao entrar nesse universo como delator, descobre o prazer nas torturas. Considerando-se acima do bem e do mal, ele espalha um rastro de destruição e não poupa ninguém para fazer valer a sua vontade. Como aconselha João Ubaldo Ribeiro na epígrafe do romance: “Não se deve confiar em ninguém”.