Projetar uma história vivenciada no sertão da Chapada Diamantina para o mundo. É esse desafio do diretor Aldri Anunciação, responsável pela adaptação teatral do fenômeno literário 'Torto Arado'. A obra do escritor baiano, e colunista da jornal Folha, Itamar Vieira Junior, venceu o prêmio Jabuti - tradicional prêmio literário do Brasil - e conta a história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia. Elas sofrem um acidente de infância e vivem em condições análogas à escravidão em uma fazenda.
O ator, dramaturgo, roteirista e também apresentador da Rede Bahia concedeu uma entrevista, com exclusividade, para o portal iBahia e contou detalhes sobre a construção da obra no cenário teatral.
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Recontar a trama criada por Itamar é um grande desafio. Mas, Aldri tem experiência e maturidade de sobra para dar conta dessa história tão conteporânea. Isso porque ele é autor do sucesso 'Namíbia, Não!', texto que originou no longa-metragem Medida Provisória, dirigido por Lázaro Ramos.
Mas ainda assim, ele destaca a importância da construção da peça neste momento e contexto social do Brasil. "É um livro muito importante para o nosso momento. Ele fala de um assunto que é muito caro, nesse exato momento de mudança do país. É muito legal a gente tá fazendo é esse projeto aqui na Bahia, minha família é do Recôncavo, minha família é de roceiros, né? Então assim, eu acho que é bonito isso tá sendo feito por pessoas envolvidas com essa questão, do sentido até familiar mesmo, essa coisa de lugares de fala. E forjar isso, num lugar como uma Bahia é muito importante...tá vindo daqui da Bahia, tá vindo do lugar, basicamente ali, do ladinho da onde a história acontece, onde as referências surgem", explicou o ator.
A produção da peça é de Fernanda Bezerra, diretora da Maré Produções Culturais. E também da Melanina Acentuada Produções, conduzida também por Adri. Sobre a responsabilidade de destacar a história, o apresentador se sente honrado.
"É uma honra poder fazer adaptação da obra para o texto teatral e ainda conduzir a direção. Acho que para mim, é uma honra muito grande, um desafio também. Mas, eu confio muito os nossos ancestrais, nas minhas avós, nos meus roceiros todos, que estão com a gente...não só de mim, mas também de todo mundo que tá envolvido nessa equipe ,que a gente não pode nem falar muito", disse.
Adri contou ainda que está atento aos detalhes do livro e aplicação deles na peça. Isso porque o imaginário literário da obra depende da vivência de cada pessoa, inclusive do próprio autor Itamar. Em análise, a diferenciação desses olhares, ele explicou:
"Então, numa linguagem a gente usa mais o diálogo, na outra a gente usa mais ação (cinema), a outra a gente usa mais a narrativa do autor falando pelos personagens, né?! Então, cada lugar tem sua especificidade. Eu sei que a narrativa do romance é uma, ela muito com o imaginário do leitor. E no teatro ela ganha materialidade, já passa por um olhar de uma equipe.Então, tem que dialogar um pouco também com o imaginário da plateia que já leu o livro."
"O maior desafio, eu acho, do 'Torto Arado' pro teatro vai ser equalizar esses imaginários. O imaginário de Aldri, o diretor; o imaginário do público, que leu; e o próprio imaginário do Itamar, porque ele tem uma expectativa também de enxergar seus personagens dele no palco. Então, esse é o maior desafio. Como é que eu equilíbrio isso."
Estreia
O diretor fez suspense quando o assunto foi elenco. Por hora, ele relatou que a peça vai circular por várias capitais do Brasil e que a estreia é garantida aqui em Salvador. A data e o local ainda estão sendo ajustados, mas a previsão é de que tudo aconteça no primeiro semestre de 2024.
"Ele tinha várias possibilidades de estreia no Brasil, né?! Em vários lugares...a gente preferiu estrear na Bahia, especificamente em Salvador, que tá ali do lado coisa acontece. Então, a gente acha que tem que estrear em Salvador por conta realmente da onde é que essa história nasce, por conta dos realizadores essa história, das pessoas que vão estar envolvidas são pessoas daqui, entendeu? Todos contando a sua própria história. E daqui a gente faz, turnê nacional".
Ao final da entrevista, o diretor da peça deixou uma mensagem para os baianos e espectadores sobre a adaptação. Por aqui, a gente espera com ansiedade o desdobrar dessa história nordestina e essencialmente baiana.
"A gente tá com muita muita atenção nessa adaptação, nesse cuidado, podem contar que a gente vai se esmerar o máximo para cuidar da imaginação de vocês, em relação à leitura, né? Vocês vão ter contato com isso presencialmente no teatro, mas eu diria que esse é o desafio, de tentar reduzir isso numa imagem simbólica metonímica de presença de palco."
Mayra Lopes
Mayra Lopes
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