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Em 2014, a Cia Baiana de Patifaria comemora 27 anos de história nos palcos. Para celebrar a atual fase, a trupe relança, neste sábado (12), o espetáculo 'Abafabanca - Uma Delícia de Comédia', encenado originalmente em 1987. Grande sucesso de público, a montagem de estreia do grupo permaneceu por mais de um ano em cartaz, fato inédito no teatro baiano da época. Agora, ela volta com nova cara e elenco. Com textos adaptados de Miguel Falabella, Aninha Franco, Filinto Coelho, Luis Sérgio Ramos e da própria Cia, a peça ganhou diversas versões desde a primeira vez que foi apresentada. Na primeira, a direção era coletiva: Fernando Guerreiro, Luiz Marfuz, Hebe Alves, Paulo Dourado e Rita Assemany compunham o quadro de diretores do espetáculo. Em 1990, a peça passou a ser dirigida exclusivamente por Guerreiro. De lá pra cá, são 24 anos desde a última apresentação. Nesta nova versão do espetáculo, quem assina a direção geral é o ator Lelo Filho, com assistência de Odilon Henriques. O relançamento de 'Abafabanca' representa não apenas o resgate daquele primeiro momento da Cia Baiana de Patifaria, como também uma bonita homenagem ao "ex-patife" Moacir Moreno, falecido há exatas duas décadas. "Nós perdemos Moacir há 20 anos, mas essa energia criada lá atrás permanece e remete à alegria que Moreno tinha tanto no bastidor, porque ele era um verdadeiro
clown, quanto no palco", relembra Lelo durante conversa com o iBahia. Segundo o diretor, "reencontrar os textos de 'Abafabanca' agora, se torna uma novidade porque, embora seja uma remontagem, há novos atores fazendo essa peça pela primeira vez". A volta de 'Abafabanca' aos palcos baianos será marcada também por uma nova formação. Além de Lelo Filho, o elenco do espetáculo conta ainda com os atores Diogo Lopes, que já atuou em outras montagens da Cia como 'A Bofetada', 'Noviças Rebeldes' e '3 em 1'; Mário Bezerra, de 'Éramos Gays', 'Dom Quixote' e '+1 Filmes'; e Talis Castro, integrante do Clube dos H.I.E.N.A.S e parte do elenco de 'Pólvora e Poesia'. "Cada ator traz ingredientes novos, sua própria experiência de vida e visão de comédia, isso é muito importante, é uma soma", pontua Lelo. De acordo com o diretor, uma das principais alterações da recriação aconteceu na trilha sonora original do espetáculo. "Existe uma memória emotiva de músicas que não podiam sair, mas também tivemos que adaptar e atualizar essa trilha". "Agora, tem um pouco de pagode e arrocha, mas no sentido sempre irônico e irreverente que a companhia tem", conta. O formato da montagem também mudou com a nova leitura: "'Abafabanca' surgiu em 87 com um humor muito mais visceral e potente. Ela era mambembe no melhor sentido. Na época, estreamos com roupas e perucas emprestadas e hoje reutilizamos este acervo".
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Inspirado e atualizado a partir da versão de 1990, o espetáculo reúne esquetes de humor irreverentes e repletas de críticas ao mundo moderno. A primeira, assinada por Aninha Franco, chama-se 'Disque Orgasmo' e narra os delírios amorosos e sexuais de uma mulher que recebe a ligação de um operador da companhia telefônica, no meio da noite, oferecendo um novo e curioso serviço. 'Véu e Grinalda', adaptação de texto do ator e diretor Miguel Falabella, é a segunda esquete da peça. Uma sátira à cerimônia de casamento, a trama conta a saga de Bárbara, uma mãe alcoólatra, para organizar a festa de núpcias da filha Bebel. Na terceira esquete, assinada por Filinto Coelho, a personagem Alva retorna de Nova Jerusalém e é surpreendida ao encontrar o filho em casa acompanhado e bastante à vontade. A quarta, interpretada originalmente por Moacir, apresenta ao público a musa da Cia Baiana: a irreverente e divertida Patrícia Faria, que também atende pelo apelido de Pat Faria. Na esquete final, 'O Mingau', o grupo mergulha no universo do teatro do absurdo. Assinada por Luis Sérgio Ramos, a cena traz o dilema dos pais de Helga, divididos entre realizar um velório simples ou transformar a morte da filha em um grande evento social. Subtitulada 'Uma Delícia de Comédia', a montagem originou a pesquisa sobre o gênero de comédia desenvolvido pela Cia Baiana de Patifaria ao longo da sua trajetória de quase três décadas. No repertório da trupe, além de 'Abafabanca', constam mais seis conhecidos espetáculos: 'A Bofetada', 'Noviças Rebeldes', '3 em 1', 'A Vaca Lelé', 'Capitães da Areia' e 'Siricotico'. Para Diogo Lopes, o mais interessante em remontar a peça é notar o começo da Companhia Baiana de Patifaria. "O cru, a irreverência, a loucura...está tudo ali. Agora eu volto como um ator mais tranquilo". De volta ao universo do teatro, Mário Bezerra considera integrar a Cia. uma coroação: "Sinto como se estivesse subindo uma escadinha no aprendizado como ator. Isso para mim é a prova de que estou no lugar certo fazendo a coisa certa". Talis Castro, o mais jovem do grupo, tinha apenas um ano de idade quando a peça estreou. Nem por isso a emoção é menor. "A Cia. tem uma linguagem muito bem definida. Fazer parte desse espetáculo, onde passaram e estão artistas que eu tenho a maior admiração e respeito, está sendo um grande desafio para mim. Ao mesmo tempo, me sinto muito à vontade", ressalta o ator. Produzido e ensaiado no tempo recorde de cinco semanas, 'Abafabanca - Uma Delícia de Comédia' segue em temporada no Teatro ISBA até o mês de junho, aos sábados e domingos, sempre às 20h. Os ingressos custam R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Os convites para turnês no Brasil já começaram, mas não há nada definido por enquanto.
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Da esquerda para direita: Talis Castro, Diogo Lopes, Mário Bezerra e Lelo Filho (Foto: Divulgação) |
Curiosidades: Na Bahia dos anos 60, 'abafabanca' era um sorvete de frutas feito em cubas para gelo vendido em residências de bairros populares. Em 1987, mesmo ano de estreia da Cia Baiana de Patifaria, virou título de uma música do cantor e compositor Gerônimo, tocada em ritmo caribenho.
*Com orientação e supervisão de Márcia Luz