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SCREAM FESTIVAL - 5ª EDIÇÃO

'ScreamCast': Chiara Ramos e Ubiraci Pataxó refletem sobre ancestralidade e busca por justiça

Jurista e líder Pataxó conversaram sobre as noções de justiça, o enfrentamento contra narrativas subalternas e a ocupação de espaços

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Redação iBahia

17/01/2023 às 17:16 • Atualizada em 17/01/2023 às 22:05 - há XX semanas
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Em novo episódio do ScreamCast, a jurista Chiara Ramos e o líder indígena Ubiraci Pataxó, discutiram sobre ancestralidade e a busca por justiça frente às imposições de poder. Ambos estiveram presentes na 5ª Edição do Scream Festival, que ocorreu em novembro de 2022. [Veja a entrevista na íntegra acima].

A conversa começou com uma explicação da palavra iorubá Abayomi, que tem forte conexão com ambos.

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"Abayomi é sobre encontro preciosos. É uma palavra iorubá que traduzindo significa isso. É um encontro conosco mesmo, com cada um na sua individualidade, com a nossa ancestralidade, e também os encontros que a ancestralidade orquestra para seguirmos juntos em projetos emancipatórios. Abayomi tem um poder muito grande do feminino", destacou Chiara.

Na tradição indígena do líder Pataxó, Abayomi também tem um próprio sentido.

"Esse movimento, esse encontro, não é só da gente. Não fala só da nossas roupas, da nossa pele, da nossa língua, das nossa culturas. Fala tudo que se apresenta em nós e que vem antes de nós. Tinha que ser aqui", destaca Ubiraci.

Em seguida, Chiara e Ubiraci refletiram sobre as noções de justiça dentro sistema e fora dele. A jurista destacou o movimento das mulheres, em especial das mulheres negras, como agentes do rompimento das estruturas de opressão.

"Nós, dentro do sistema de justiça, enquanto juristas negras, enquanto mulheres negras no sistema de justiça, nós somos água, infiltradas nesse sistema, nessa matriz. E água, ela tanto bate até furar quanto ela contorna. Água flui, água se infiltra nas fissuras e como essa água, nós nos infiltramos nessas fissuras para romper com estruturas de opressão, romper com estruturas de dominação e dizer que a justiça ela está em todo lugar", reflete a jurista.

Chiara também afirma que é a partir desse processo que é possível se fazer justiça, além de possibilitar que as narrativas sejam ouvidas a fim de contribuir para a construção de um país mais justo.

"Quando um grande CEO ou um grande executivo de uma grande empresa se atenta a inclusão social, está se fazendo justiça. Então, não se faz só justiça no direito e no judiciário. Se faz justiça fluindo", afirma. "As nossas narrativas não são só subalternas, as nossas narrativas são narrativas que podem contribuir para a construção de um país mais justo", afirmou.

Ubiraci Pataxó também refletiu sobre a luta contra as tentativa de dizimar a povo indígena, e como isso atinge os sistemas de poder.

"Houve-se um tempo que tentaram dizimar a gente. E talvez a nossa presença, infiltrados em diversos lugares causa mais medo em quem nos vê, nos escuta, principalmente quando estamos com nossos trajes de gala. É muito tempo tentando nos matar, é muito tempo tentando ceifar não só a nossa presença, mas tudo que nos cerca como sagrado. Hoje a gente bebe de fontes que nos fortalece, nos renova. […] estamos espelhados pelo mundo", disse a liderança indígena.

O encontro dos dois também resultou em uma mensagem especial para os ouvintes.

"Eu gostaria de dizer, para as pessoas, principalmente para as pessoas negras e indígenas, que nós precisamos mais uma vez nos aquilombar, nos aldear, reencontrar com nossa identidade. Sair desse processo de adoecimento que a sociedade nos coloca para que a gente possa resgatar essa potência, esse amor. Resgatar esse sentido ancestral de ser quem é", afirmou a jurista.

Ubiraci Pataxó reafirmou o local das mulheres, a partir de uma fala de Tandara Pataxó.

"50% do mundo são mulheres e os outros 50% são filhos dela. Quando você se dirigir a uma mulher, imagine que você teve a honra de vir de um útero […]. Quando pensar em levantar a voz, se dirigir, levantar um punho, ou aprisionar de alguma maneira o feminino, lembre-se de que você está desconhecendo quem você é. Se eu não sei quem eu sou, dificilmente eu vou saber o que eu preciso fazer e para onde o que eu quero ir. […] Se você está se sentindo sozinha, está longe dos seus, volte para casa", afirmou.

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