Tempero deixado pelo Rei: São João de 2023 será 1º sem Zelito Miranda

O amargor do São João neste ano em nada terá a ver com o sabor do álcool em um licor bem forte. O gosto vem da saudade de um dos maiores ícones da festa para a cultura nordestina, que em 2023, após mais de 40 anos de carreira, não estará presente para levar o famoso 'Forró Temperado' para alguns dos 417 municípios baianos.

O primeiro São João após o fim da emergência sanitária global de Covid-19, será também o primeiro São João sem Zelito Miranda, que faleceu em agosto de 2022, aos 66 anos, em decorrência de problemas no pulmão.

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A estrela do 'Rei do Forró Temperado' segue brilhando após a sua passagem, e para marcar a importância de Zelito para a cultura baiana, o artista foi escolhido como o homenageado do ano no São João da Bahia, que tem como tema 'O Forró Mais Temperado do Brasil'.

Em entrevista ao iBahia, o forrozeiro Del Feliz falou sobre a importância de Zelito Miranda para a cultura. "Zelito Miranda tem uma simbologia para todos nós, porque ele começou um movimento de forró em Salvador, eu diria que depois do Trio Nordestino, nós tivemos um marco de um surgimento de um novo momento do forró em Salvador a partir de Zelito", declarou o artista.

Para Del, que além de parceiro musical do artista, era amigo pessoal de Zelito, o 'Rei do Forró Temperado' deixou a marca dele dentro e fora dos palcos pela essência.

Em 2023, Del foi o responsável por dar continuidade a um dos maiores projetos deixado por Zelito, o 'Forró no Parque', criado pelo artista junto a esposa, Telma Miranda. "Zelito sempre foi uma referência de muita alegria, de muito sorriso, mas também de arte. Porque além de forrozeiro, Zelito era musicista, compositor, escritor, ator, um artista completo."

Ao site, Verlando Gomes, vocalista da banda Flor Serena, pontuou um comportamento de Zelito que o fazia perceber o quanto o artista valorizava a cultura local. "Ele era um cara inquieto e insistia que a gente cantasse nossas próprias canções, que não ficasse cantando demais músicas de outros cantores de forró de outros estados da Bahia".

Adelmário Coelho também falou sobre o amigo, que foi uma grande inspiração para a carreira dele. "Zelito era um cara generoso, ele tinha essa parte de ter um coração grande. Um grande artista, mas com um coração maior do que a habilidade artística dele. Sempre foi assim. Foi uma perda precoce, que ninguém esperava (...) Ele deixa o legado da sede de viver. Além de ser um grande artista, era uma pessoa muito generosa, de coração grandioso".

Em sua última entrevista ao iBahia, em junho de 2022, Zelito celebrou a retomada do São João após dois anos sem a realização da festa devido à pandemia e falou sobre as mudanças no forró.

"Meu forró é temperado, eu gosto da mistura. Mas eu tenho uma coisa, eu mantenho a raiz de triangulo, sanfona e zabumba, porque eu acho que é super importante, é essa a raiz que dá universalidade. É a raiz que abraça gerações e motiva as pessoas"

O primeiro São João sem Zelito Miranda deve ser de muito tempero e boas memórias, para deixar para trás o amargor da saudade. Enquanto o forró existir, o artista, que deixou um legado para a cultura nordestina, com suas mais de 200 canções registradas e gravadas, será lembrado pelos seus.

"Zelito é um eterno amigo que mora no meu coração, e dentro do São João, no nosso show, vai ter uma homenagem a ele. É mais que justo, ele tem uma contribuição marcante na nossa história. (...) Deixa muita saudade, mas ao mesmo tempo deixa um legado e a gente continua aqui nessa mesma estrada, com o tempero de Zelito Miranda que tanto contribuiu com a nossa cultura nordestina".

Confira vídeo em homenagem a Zelito Miranda: