Os recentes casos de violência em Salvador têm gerado impactos negativos para a área da educação. Segundo o balanço da Secretaria Municipal da Educação (Smed), entre janeiro de 2023 e sexta-feira (22), cerca de 21.968 alunos foram afetados em decorrência de operações da polícia e sensação de insegurança em bairros da capital.
No mesmo período, 70 escolas tiveram que suspender as atividades, por um ou quatro dias, dependendo da região.
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Somente nas últimas três semanas, ao menos 10 mil estudantes da rede municipal ficaram sem aulas em bairros como Alto das Pombas, Valéria e Águas Claras devido a operações contra grupos criminosos.
De acordo com o coordenador da Associação dos Professores Licenciados do Brasil na Bahia (APLB-BA), Rui Oliveira, a rede municipal vem sendo mais afetada que a estadual, devido às creches e faixa etária contemplada pelo sistema educacional do município.
Além disso, Rui Oliveira destacou que a orientação é de prezar pela segurança de alunos, professores e servidores.
"A recomendação da APLB-BA tanto faz a nível estadual quanto municipal, é de que qualquer trabalhador e a comunidade escolar não sejam expostos nessa violência que ocupa a Bahia e Salvador também. Então, a nossa orientação é bem clara. Em áreas de conflito, não tem que expor a comunidade, as crianças, os professores. A nossa luta, em primeiro lugar, é a nossa vida", declarou o coordenador do sindicato.
O iBahia entrou em contato com a Secretaria de Educação do Estado para comentar sobre o assunto, mas até a publicação desta reportagem, não obteve respostas.
O Secretário de Segurança Pública, Marcelo Werner, afirmou ao iBahia que é natural a preocupação das pessoas em relação às ações policias, principalmente dos moradores das comunidades envolvidas, mas destacou que a população enxerga de forma positiva o trabalho das operações.
"De imediato quando a gente realiza uma operação como essa é até natural que haja uma preocupação da população, mas essas ações são justamente para garantir a segurança da população. Nós temos tido muitos retornos positivos da população em relação a isso. [...] Num primeiro momento, até por conta da ação, [serviços são impactados] mas de imediato os serviços começam a funcionária já com o policiamento reforçado, já sem uma atividade intensa das facções criminosas ali naquele local", destacou.
Balanço
No início do mês de setembro, no dia 4, escolas interromperam as atividades no Alto das Pombas devido aos inúmeros tiroteios registrados na região.
Na ocasião, a Secretaria de Educação (Smed) informou que as escolas municipais Conjunto Assistencial Nossa Senhora de Fátima, Casa da Amizade, Professor Antônio Carlos Onofre e os Centros Municipais de Educação Infantil Tertuliano de Góis e Calabar tiveram atividades suspensas. Cerca de 1.042 estudantes ficaram sem aulas.
Uma semana depois, no dia 15 de setembro, um novo confronto entre policiais e grupos criminosos aconteceu no bairro de Valéria. À época, segundo a Secretaria Municipal de Educação (Smed), quase 7 mil alunos de 18 escolas espalhadas pelo subúrbio de Salvador e da região de Valéria ficaram sem aulas.
Na região do Subúrbio, 4,6 mil estudantes ficaram sem aulas nas escolas Professora Olga Mettig, Esther Félix da Silva, Fazenda Coutos, Santo Antônio Das Malvinas, Professor Antonio Pithon Pinto, Graciliano Ramos, Ítalo Gaudenzi, Darcy Ribeiro, Escolab 360, Cmeis Abdias Nascimento, Educar é Viver e Paulo Bispo Braz tiveram as atividades suspensas.
Já no bairro de Valéria, foram 2.368 alunos impactados nas unidades São Francisco de Assis, Batista de Valéria, Nossa Senhora Aparecida, Milton Santos, Afonso Temporal e Cmei João Paulo I. No bairro, as aulas só foram retomadas quatro dias após a operação que resultou na morte do agente federal Lucas Caribé de Monteiro, de 42 anos e quatro suspeitos. Dois policiais, um civil e outro federal, ficaram feridos.
Duas instituições de ensino da rede estadual de Educação também não tiveram aulas no dia 15 de setembro: Dinah Gonçalvez, em Valéria; e Nossa Senhora de Fátima, em Periperi.
Na última sexta-feira (22), uma nova operação foi deflagrada em Salvador e Feira de Santana. Na capital baiana, forças policiais da Bahia junto com a Polícia Federal estiveram no bairro de Águas Claras à procura de um grupo criminoso suspeito de envolvimento em tráfico de drogas e mais de 30 homicídios em Salvador.
Logo após o início das ações no bairro, a Smed divulgou um comunicado informando que cinco escolas estão sem aulas: Eduardo Campos, Cantinho das Crianças, São Damião, Iraci Fraga e Francisco Leite. Com isso, cerca de 1.769 estudantes foram afetados.
A Secretaria de Educação do Estado informou que o Colégio Estadual Santa Rita de Cássia, em Águas Claras, chegou a abrir na sexta, mas por precaução, os alunos que compareceram foram dispensados para voltar para casa. Os colégios estaduais Noêmia Rego e Dinah Gonçalves, em Valéria, e o Nossa Senhora de Fátima, no Derba, abriram, mas registram baixa frequência. Não foi informado número de estudantes impactados.
Levando em consideração esses dados das últimas três semanas, neste período, ao menos 10.419 estudantes chegaram a ficar ao menos sem aulas durante um dia ou turno.
De acordo com Rui Oliveira, a suspensão não afeta de modo geral o calendário letivo, mas as escolas que tiveram aulas suspensas terão um cronograma específico para repor os dias em que estiveram fechadas. A Secretaria Municipal de Educação informou também que a reposição das aulas é definida pela gestão escolar.
Escalada da violência
A Bahia vive uma escalada de violência. Segundo balanço do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, referente à 2022 e divulgado em julho deste ano, o Estado registrou 6.659 mortes intencionais no último ano.
Além disso, o Monitor da Violência, produzido por jornalista do g1, indica que a Bahia lidera, pelo 5° ano consecutivo, como o estado com mais mortes violentas no país.
Os casos de violência na Bahia também têm repercutido nacionalmente. No dia 18 de agosto, a yalorixá e líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, Maria Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete foi assassinada em Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador.
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Cerca de uma semana depois, dia 28 de agosto, uma Chacina em Mata de São João, também na Região Metropolitana, deixou 10 mortos, sendo oito da mesma família. De acordo com a Polícia Civil, o crime foi motivado por ciúmes, considerado crime de passionalidade. Um homem foi preso e outros dois morreram em confronto com a polícia.
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Em Salvador, a incidência de ações policiais cresceu em setembro. No dia 4 deste mês, cinco suspeitos morreram em troca de tiros com a polícia militar na região do Alto das Pombas. Os homens estariam envolvidos com as ações que resultaram em tiroteios e situações com reféns na área e no bairro do Calabar. No mesmo período, ao menos 17 pessoas foram feitas de reféns pelos criminosos.
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Na semana seguinte, no dia 15, uma operação integrada da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO) deixou um agente federal, Lucas Caribé de Monteiro, de 42 anos, e quatro suspeitos mortos. Dois policiais, um federal e um civil também ficaram feridos.
Desde o crime, as ações para localizar os envolvidos no caso seguem intensificadas, com uma força tarefa montada por policiais federais, militares e civis na "Operação Fauda". Pelo menos 14 suspeitos já morreram em confrontos e outros 3 foram presos.
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Já na sexta-feira (22), seis suspeitos morreram e 15 pessoas foram presas durante "Operação Saigon", em Águas Claras e Feira de Santana. Participaram da ação forças policiais da Bahia e a Polícia Federal.
Na capital baiana, a operação aconteceu em uma área que liga a região do final de linha de Águas Claras e Cajazeiras 7 e apresenta diversas saídas para a rua principal, a Estrada do Matadouro.
A Secretaria de Segurança Publica (SSP-BA) informou em balanço que ao todo foram 43 mandados de busca e apreensão. Armas, drogas e dinheiro também foram apreendidos durante as ações.
Nathália Amorim
Nathália Amorim
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