Um traficante identificado pela polícia como Edvan Cerqueira, conhecido como Kiko, é apontado como principal suspeito de ter baleado 11 pessoas na noite de domingo (6), na Rua Sérgio de Carvalho, na região do Vale da Muriçoca, bairro do Engenho Velho da Federação. Ele e seu primo, conhecido como Mon, cercaram as vítimas e abriram fogo, segundo as investigações.“A princípio, Kiko é o principal suspeito. Ele tem envolvimento com o tráfico de drogas na região do Vale da Muriçoca”, afirmou a delegada Jussara Santos, titular da 7ª Delegacia (Rio Vermelho). Ainda conforme Jussara Santos, os bandidos usaram uma metralhadora no ataque às vítimas.
Segundo ela, testemunhas afirmaram que Kiko e Mon foram vistos por moradores chegando ao local dos disparos dentro de um carro vermelho, logo atrás de um ônibus de turismo. “Assim que o ônibus chegou no local, o carro chegou também. Foi um ataque direcionado”, comentou a delegada, que afirmou ainda estar investigando quem seria o alvo dos tiros.
Outra versão, dada por um morador, que preferiu não se identificar, dá conta de que Kiko teria planejado o ataque porque fora expulso da área por outros traficantes. “Ele cresceu aqui no Vale e virou patrão, abastecendo as bocas daqui. Mas por algum motivo foi expulso pelos demais e, domingo, voltou para tomar o lugar de volta, atirando aleatoriamente”, disse a testemunha, que é parente de uma das vítimas. Em nota, a assessoria da Polícia Militar não comentou o caso e informou que as investigações serão concentradas na Polícia Civil. Ontem pela manhã, policiais militares da Rondesp Atlântico (Rondas Especiais) e da 41ª Companhia Independente da PM (Federação) faziam rondas no local. O ataque aconteceu por volta das 20h de domingo. Dos 11 feridos, quatro voltavam de um passeio turístico na praia de Cabuçu, no município de Saubara, no Recôncavo. “O plano era sair do ônibus e ficar na porta do bar conversando e bebendo as cervejas que sobraram do passeio, mas acabou acontecendo isso”, lamentou uma das pessoas que estavam no passeio, mas escapou dos tiros. Vítimas “A gente veio do passeio e tinha acabado de atravessar a pista. Só vi o carro vermelho parando e atirando”, contou o pedreiro Fábio Bispo Almeida, 33, marido de Ana Cláudia Oliveira de Jesus, 35, que foi atingida nas costas. Ela teve alta ontem pela manhã. Além de Ana Cláudia, os casos do pedreiro José Trindade do Nascimento, 42, atingido no pescoço, o porteiro Adailton de Jesus Almeida, 37, baleado na cabeça, e a esposa dele, a merendeira Selmara Barbosa Ferreira, 46, ferida no tórax, braço e glúteo, foram registrados como tentativa de homicídio por conta da gravidade dos ferimentos.
“Ele retornava do passeio e ia para casa de parentes que moram no Vale, quando foi baleado”, contou o genro de José Trindade. A vítima mora no Bairro da Paz. Outras seis pessoas que estavam em frente a um bar foram baleadas e socorridas por testemunhas.
Jane de Jesus Farias, 56, e Itamar Lima de Souza, 41, ambos feridos na perna, Carlos Alberto de Oliveira, 38, com um tiro no rosto, Edvan Xavier da Silva, 27, baleado no braço, e Sidney Lima Santos, 47, foram levados para o Hospital Geral do Estado (HGE). A assessoria da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) informou que Sidney já recebeu alta e que somente o porteiro Adailton corre risco de morte - ele foi submetido a uma cirurgia na cabeça e está em estado grave. Já Leidiane Araújo Alves, 36, que foi atingida no tornozelo, procurou socorro no Hospital Jorge Valente, onde permanece internada. O quadro dela é estável. A 11ª vítima do ataque é uma garota de 12 anos, que tinha acabado de sair da igreja com a mãe. Ela também foi atingida na perna e socorrida por parentes. Levada ao HGE, a menina teve alta na manhã de ontem (7). Por esses casos, os suspeitos devem responder por lesão corporal. MarcasAs marcas do ataque ficaram também em casas, carros e estabelecimentos comerciais. A dona de um bar, que funciona na frente da própria casa, disse que ficou apavorada. “Quando começaram os tiros, foi uma correria só. Muita gente sangrando. Dois homens caíram na minha porta. Pensei até que eles estavam mortos, mas foram socorridos para o HGE”, relembrou. Apesar do clima de tensão no bairro, o comércio local funcionou ontem. “A gente trabalha, mas morrendo de medo. Ninguém sabe se vai acontecer de novo. E o jeito é rezar e tocar a vida”, disse o dono de uma barbearia.
Moradores limpam sangue no chão: área é disputada por duas facções |
Carro estacionado na rua com vidro estilhaçado após tiros no Vale |
Polícia registrou 57 tiroteios na região esse anoEm junho, o CORREIO publicou uma reportagem sobre a violência no Engenho Velho da Federação, provocada pela guerra entre as facções Comando da Paz (CP), que domina a localidade do Forno, e Caveira, que comanda a Lajinha, ambas próximas ao Vale da Muriçoca. A matéria demonstrava, segundo dados da polícia, que de janeiro até 7 de junho foram registradas 52 trocas de tiros no bairro – de lá até ontem, houve ainda mais cinco registros. Ainda conforme a polícia, a disputa se acirrou com a morte de Igor Mercês, que comandava a Lajinha. Ele foi morto no início do ano, em uma emboscada feita por Manoelzinho, integrante do próprio bando, na tentativa de se tornar o líder. A morte de Igor e a prisão de Manoelzinho por conta do crime despertaram o interesse dos rivais do Forno, comandado por Tricolor e Nêgo Black. Os dois querem o domínio total do bairro. Apesar de estar preso no Complexo da Mata Escura, quem controla a Lajinha hoje é o traficante Leozinho, irmão de Igor.
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