Sabor, alegria e inclusão são palavras-chave da sorveteria il Sordo, que é administrada e tem 100% do quadro de colaboradores surdos. Localizado no bairro da Barra, em Salvador, o estabelecimento se tornou um point para a comunidade surda e um local de aprendizado para os ouvintes, que acabam descobrindo junto com os funcionários a melhor forma de comunicação para fazer os pedidos.
O iBahia esteve no local e acompanhou alguns atendimentos. Além de apontar e sinalizar detalhes como o tamanho do pote de sorvete e os sabores, clientes e colaboradores ainda têm a opção de escrever em um quadro e até mesmo em uma das paredes da sorveteria, com a ajuda de pilotos. Em uma televisão, aulas de Libras são exibidas, com algumas palavras que podem ajudar na interação.
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Desafio diário para Helena Rodrigues, de 28 anos. Ela é surda e trabalha na franquia há 5 anos, quase dois em Salvador. A sorveteria foi a sua primeira oportunidade de emprego. "Acontece interação, experiência natural também. Clientes aprendem o básico e surdos se comunicam para que os clientes escolham. Qualquer dúvida funcionários sempre respondem e ajudam", contou.
Na capital baiana, a marca chegou em janeiro do ano passado, depois que o professor de Libras e empresário Rafael Andrade, que também é surdo, movimentou a franquia nascida em Aracaju (SE). Em entrevista ao portal, o baiano contou que sempre quis ser empreendedor e que a conquista representou a realização de um sonho antigo, que vem dando certo.
"A aceitação do público é a melhor possível. É uma mistura de curiosidade e surpresa que tem dado muito certo, além do nosso gelato [sorvete] que é o melhor de Salvador. Quanto a comunidade surda, a il Sordo foi acolhida muito bem. Se tornou ponto de encontro dos surdos pelo fato de ser um local onde falamos todos a mesma língua".
O empreendedor conta que os funcionários dão tudo de si para entender os clientes e também serem entendidos. Rafael explica que a equipe busca sempre dar a volta por cima e não se deixam abater quando o preconceito aparece.
"Preconceitos sempre existem. Não deveria, mas já estamos acostumados com isso. O bom é que podemos mostrar que somos capazes como qualquer outra pessoa. Não nos deixamos abater pela falta de sensibilidade de alguns. Pelo contrário, quando sofremos algum tipo de preconceito, apesar de nos entristecer no primeiro momento, nos dá força e gana para lutar mais, nos mostrar ainda mais capazes e procurarmos sair dessa situação de invisibilidade na sociedade", explicou.
Para o futuro, o empresário estima ainda mais espaços e oportunidades. O objetivo é expandir o negócio e abrir mais vagas de empregos para surdos. "O que espero e desejo é ampliar a Il Sordo para dar mais oportunidade de emprego e dignidade para, os que como eu, enfrentam dificuldades para encontrar um trabalho decente e ser respeitado na sua condição".
E, se depender de Silvia Maria Clara de Souza, de 56 anos, outras lojas da franquia virão no futuro. Moradora do bairro da Barra, ela é ouvinte e se tornou cliente assídua do estabelecimento há alguns meses, desde a primeira vez que experimentou o sorvete do il Sordo e teve contato com a proposta do lugar.
"Eu acho muito interessante porque é um lugar para as pessoas que têm a deficiência e também a gente acaba tendo uma experiência, né? Nessa experiência que não é o nosso mundo, mas que a gente acaba fazendo parte, aprendendo com as pessoas. Eu achei muito interessante de cara e fiquei vindo. A cada dia que a gente vem gosta mais", define.
O estabelecimento funciona diariamente, a partir das 12h, com exceção dos domingos, quando o funcionamento acontece a partir das 11h. Além do atendimento presencial, os clientes também podem provar o sorvete e outras sobremesas pedindo pelo iFood.
O cardápio traz tortas, picolés artesanais, brownie e pão de ló recheado com gelato, entre outras coisas. Para quem tem algumas restrições alimentares, é possível experimentar sabores sem lactose e sem açúcar. Tudo feito artesanalmente. A produção fica por conta da esposa de Rafael, que também é surda.
"Para mim é um desafio. É como lutar com um leão todos os dias. A sociedade ainda não está preparada para lidar com o diferente. Mas os desafios me fortalecem. As dificuldades existem para serem enfrentadas e os problemas para serem resolvidos. A vida é feita de desafios", ressalta o empresário.
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Alan Oliveira
Alan Oliveira
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