Promover e preservar a cultura foi o desafio escolhido pelo Projeto Oxente Encantado, iniciativa sem fins lucrativos que atua no bairro da Federação, em Salvador. O grupo oferece atividades educativas para crianças em uma sede, localizada na Rua Mata Maroto. Entretanto, o projeto pode perder o espaço, que é alugado e está à venda.
Desde 2012, a iniciativa acolhe crianças com idade de 3 a 11 anos. Em 2019, os projetos Oxente e Tom de Percussão se unem e estabelecem uma sede denominada de Oxente Encanto. A partir daí, aulas gratuitas de capoeira e percussão, assim como espaços de leitura e para brincar passam a ser oferecidos na sede do grupo.
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Atualmente, cerca de 90 crianças são atendidas, entretanto, com a casa à venda, todo o trabalho realizado até o momento pode ser perdido. "Hoje, a nossa maior dificuldade é que nós não temos o dinheiro para comprar o espaço onde está o Oxente Encantado", conta Rodrigo Rodrigues, de 26 anos, um dos coordenadores do projeto, em entrevista ao iBahia.
Na tentativa de reverter essa situação, o Oxente Encantado abriu uma vaquinha online para arrecadar doações e manter as atividades do projeto no local. "É única sede que a gente tem para poder acolher as crianças e as famílias", pontua Rodrigo.
O objetivo é arrecadar R$75.000 reais para comprar o imóvel. Até o momento, a vaquinha conta com 75 apoiadores e arrecadou mais de R$11 mil. A importância do espaço vai além de sua constituição física, uma vez que através do local, o projeto acolhe as crianças e, consequentemente, presta assistência às famílias.
Relevância Social
A relevância do papel desempenhado pelo Oxente Encantado na comunidade vai além das aulas e do espaço de lazer gratuito. Também criado no local, Rodrigo parte de sua própria experiência com projetos sociais para mensurar a importância da iniciativa.
"Desde os seis anos eu faço parte de projetos sociais, então meu sentimento pelo projeto vai além do de um coordenador, mas também de alguém que já foi muito ajudado por iniciativas sociais. São inúmeras as mudanças na vida das crianças, principalmente através da capoeira", enfatiza Rodrigo.
A capoeira é um dos principais segmentos oferecidos pela iniciativa e a filosofia do esporte - que também é um patrimônio cultural do Brasil - promove a valorização da cultura afro-brasileira e contribui para a construção emocional e psicológica das crianças.
"A importância da capoeira está na filosofia de abrasileirar a criança e ensinar a cultura afro-brasileira. Isso traz uma autoestima para elas, além do acolhimento, que é um dos objetivos do espaço físico do Oxente Encantado", exemplifica Rodrigo, que também dá aulas do esporte.
Essa construção pode transformar a vida de uma criança e abrir oportunidades através da arte e da cultura. Foi o que aconteceu com Dielden Alves, apelidado de Envergado na roda de capoeira do projeto Tom de Percussão.
Hoje com 23 anos, o jovem entrou no projeto ainda muito novo e através dos ensinamentos adquiridos na capoeira foi apresentado oportunidades ao redor do mundo.
"Porque eu estava na capoeira e na percussão apareceram para mim várias outras oportunidades. Por estar no projeto eu fui visto e recebi uma proposta para ser bailarino de um coreógrafo francês", conta Dielden, que atualmente mora no Rio de Janeiro, mas já viajou para Europa trabalhando com iniciativas artísticas no Balé Contemporâneo.
Através dessa oportunidade, Dielden chegou a morar fora do Brasil e visitou países como a França e Luxemburgo. Entretanto, ele destaca que, para além das oportunidades internacionais, foi importante representar a cultura baiana em outros lugares.
"Foi uma experiência incrível poder viajar o mundo com a nossa cultura. Acredito que se eu não tivesse entrado na capoeira e na percussão isso não teria acontecido, porque essas oportunidades vieram para mim através do projeto. Foi muito bom para mim", enfatiza.
Outros egressos do projeto atualmente vivem do que aprenderam na capoeira, seja no Brasil ou fora dele. Essa perspectiva profissional também é um dos objetivos do Oxente Encanto e do Tom de Percussão, que hoje possui representantes em países como a Grécia, EUA, Bélgica, Alemanha, México, entre outros países.
Atividades
Todas as atividades do projeto são realizadas sem financiamento ou ajuda governamental. As doações são a base do funcionamento do Oxente Encantado, assim como o trabalho voluntário realizado pela equipe do projeto que, devido a pandemia, atualmente conta com apenas cinco pessoas.
Para além das aulas, os voluntários buscam estar envolvidos na comunidade de muitas formas, criando laços com as famílias das crianças acolhidas. Dessa forma, o grupo criou uma rede de acolhimento que proporciona oportunidades e ajuda não só para as crianças, mas também para seus pais.
"Hoje a maioria das crianças que atendemos são de famílias com mães solo e através do cadastro delas no projeto nós conseguimos distribuir cestas básicas quando fazemos campanhas", destaca Rodrigo.
Aulas de reforço para crianças que tem dificuldades para ler e banca para ajudar a resolver as tarefas de casa também fazem parte da assistência oferecida à comunidade. "É um projeto que tem vários setores para que possamos ajudar o máximo possível", finaliza o coordenador.
Como ajudar
*Sob supervisão do repórter Lucas Salles.
Iamany Santos
Iamany Santos
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