O povo banto conhecia bem a agricultura – essencial para a colonização brasileira dos tempos da cana e do café. Os jejes sabiam como escavar a terra, tendo se tornado bons mineradores. “O terceiro ciclo foi a pólis (a cidade), por isso, trouxeram os malês, que eram negros islâmicos”, explica a diretora da Escola Parque São Cristóvão, Jacilene Nascimento. Tudo isso faz parte das aulas de História que os 458 alunos da instituição, que funciona em tempo integral, assistem. Desde 2002, a escola conta com um projeto pedagógico próprio – o Baobá – que busca promover o resgate da identidade e da cultura africana.
Estudantes aprendem um novo olhar sobre a colonização do país |
“O menino entende, assim, que o povo dele contribuiu para a organização do país. Nós mostramos que é diferente dos livros que mostram o negro como alguém escravizado que não aprendia, que não sabia nada. Os malês, por exemplo, falavam iorubá, mas sabiam ler o Alcorão, em árabe”. Aluna do 4º ano, Graziele Santos, 9, diz que o modelo de ensino fez com que ela enxergasse a si própria de maneira diferente. “Aqui, eles não deixam que nenhum aluno discrimine o outro. Se eu pudesse, teria vindo estudar aqui desde pequena”, conta a garota, que está na instituição desde os 5 anos.
“Fora da escola, os meninos lá da rua me chamavam de ‘café’ e eu ficava um pouco triste. Saía, ia para casa, ficava só dentro de casa. Hoje, eu sei responder que todo mundo é igual. Ninguém é diferente”. Em 2013, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) da escola era 4.9. O de Salvador era 4. Pastora faz curta na escola sobre Iansã e a democraciaHá pouco mais de um ano, o quadro de professores da escola conta com a presença de uma profissional que, à primeira vista, pode ser um tanto inesperada. Professora do 4º ano, Ana Paula Borges é pastora, mulher de pastor e tem pós-graduação em Africanidades e Cultura Afro-brasileira. Por isso, antes mesmo de começar a ensinar lá, Ana Paula já conhecia o projeto pedagógico da escola. “Não teve choque porque a gente não ensina religião. A gente ensina cultura africana e é muito importante para as crianças desmitificarem algumas coisas”, diz. No mês passado, Ana Paula e seus alunos chegaram a produzir um curta-metragem chamado Iansã e a Democracia, que também discutia a divisão do poder entre homens e mulheres. Encenado pelos próprios alunos, o curta teve o figurino todo produzido pela professora: todas as roupas eram de orixás. “Meu marido até perguntou o que eu estava fazendo, porque foi um trabalho de madrugadas. Mas eles (os alunos) gostam muito dessa igualdade, que é o que a gente trabalha aqui”. A diretora da instituição, Jacilene Nascimento, reforça que o objetivo da escola não é ensinar religião africana. “Ensinamos o respeito à ancestralidade e à cultura. Em todas as escolas que você for agora, vai ver algum trabalho com São João e ninguém discrimina. Não ensinamos aqui a rezar o Pai Nosso, nem a cantar para Oxalá. Nós ensinamos valores”, diz.
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Redação iBahia
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