Projeto prevê reforma completa do Mercado Modelo

Depois que passar a ser administrado pela prefeitura, o Mercado Modelo deve ser reformado. De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), existe um projeto de requalificação geral do equipamento, incluindo o subsolo — que está fechado há mais de quatro anos. Em 2013, foi divulgado que o projeto deveria incluir um museu no subsolo. No entanto, segundo a Secult, ainda não há licitação para a obra, nem previsão de quando deve ser iniciada. "A parte subterrânea do mercado não é utilizada. Precisamos mesmo disso, porque a última reforma faz tempo. Claro que precisamos conservar as características originais, mas precisamos atualizar ele também”, opinou o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FBHA), Sílvio Pessoa. Para os turistas, a situação atual do mercado desestimula as visitas. “Se eu não viesse aqui hoje (ontem), e passei porque chegamos do navio, não faria falta. Não é como Pelourinho, Farol da Barra. Achei os preços um pouco salgados. Viemos de Búzios, que é uma cidade cara, mas as coisas lá estavam mais baratas do que aqui”, avaliou a empresária paulista Nalva Menezes, 48. Turista dos Estados Unidos, a assistente administrativa que se identificou apenas como Linda criticou a estrutura dos banheiros e restaurantes. “Precisam muito de uma reforma. E também não como aqui porque tenho medo de passar mal depois”, reprovou. O banheiro feminino, apesar de limpo, tem a descarga de um dos reservados quebrada. Duas das quatro torneiras também não funcionam. A assessoria da Secult informou que, atualmente, os banheiros do mercado passam por reforma - o masculino do 1º andar, inclusive, está fechado por conta das intervenções. Grupo gestor irá propor soluções à sazonalidade Segundo a prefeitura, a gestão do Mercado Modelo será multidisciplinar. “Vamos ter um grupo gestor com um membro da Secult, um da Vigilância Sanitária, um membro da Fundação Gregório de Mattos e Semop, que envolve Guarda Municipal, Limpurb”, indicou a secretária Rosemma Maluf. Para o artesão Deco Santos, 44, os apoios são bem-vindos. “Não sei como é que a Vigilância Sanitária deixa aqueles bares funcionando ali. Outro dia, lá, apareceu uma barata no meu prato”, ilustrou. O objetivo do grupo gestor, além de discutir o espaço, será manter o local movimentado. “Um mercado daquele porte não pode ser sazonal, tem que ter uma sustentabilidade. Temos que ter programação constante para atrair os soteropolitanos”, adiantou Rosemma, que pretende buscar apoio do Sebrae para capacitar os permissionários e “fazer uma curadoria do acervo”.

Mercado Modelo, um dos principais pontos turísticos da cidade, construído no antigo prédio da Alfândega (Foto: Marina Silva/CORREIO)

“Precisamos fortalecer o artesanato da Bahia. Não é possível lá estar vendendo capinha de celular da China”, declarou. Incêndios e visitas ilustres marcam história do local O Mercado Modelo nem sempre teve a aparência que tem hoje, tampouco a mesma função. Em 1912, foi inaugurado numa antiga sede, em frente à rampa que abastecia o Centro — ao lado do Distrito Naval. “Esse mercado abastecia a cidade, vendia de tudo para alimentação, candomblé, cerâmica”, comentou o arquiteto e historiador Francisco Senna. Até ser completamente destruído por um incêndio, em 1969, recebeu visitantes como o filósofo francês Jean Paul Sartre e a rainha da Inglaterra, Elizabeth II. Em 1971, foi inaugurado o novo mercado, no antigo prédio da Alfândega, onde está até hoje. “Ele deixa de ser de abastecimento para vender produtos para turismo”, contou. Em 1984, outro incêndio destruiu o local. Após 10 meses, foi reaberto reformado no final do mesmo ano. “A imagem que ficou é que é um espaço não para o baiano, mas para o turista”. E só para esclarecer: o andar subterrâneo nunca manteve escravos presos. O tráfico de escravos foi proibido em 1850, enquanto o prédio foi construído em 1861.