Uns para cá, outros para lá. Mais alguns para lá. Só não podem ficar onde estão. Quando começar o reordenamento proposto pela Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) para os vendedores ambulantes no Centro da cidade, a meta é deixar as calçadas das principais vias livres para quem estiver só de passagem. A Semop e a Fundação Mário Leal Ferreira identificaram 11 pontos para abrigar cerca de mil camelôs. O CORREIO percorreu os locais para ter uma noção de como a área está atualmente e como pode ficar, se o projeto for aprovado. A proposta, apresentada aos ambulantes essa semana, inclui inicialmente as ruas Salvador Pires, Pedro Autran, 11 de Junho, Nova de São Bento, 21 de Abril, Portão da Piedade e do Cabeça. A lista prevê ainda o Largo do Rosário e os becos das Quebranças, do Mocambinho e da Maria Paz.
Entretanto, os vendedores do comércio informal sugerem, ainda, que mais quatro áreas sejam incluídas nos estudos da prefeitura: ruas Coqueiros da Piedade, Junqueira Ayres, Carneiro Ribeiro e 24 de Fevereiro. Segundo a titular da Semop, Rosemma Maluf, nada é definitivo ainda. “Nosso objetivo é ordenar, mas ainda estamos dialogando com as lideranças para chegar a uma decisão”. CamelôsPara quem vai para a Praça da Piedade pela Avenida Sete, o primeiro ponto listado pela prefeitura é a Travessa Salvador Pires. Fechada para os carros da Avenida Sete e servindo de estacionamento para veículos que chegam pela Carlos Gomes, a travessa tinha apenas três ambulantes com barracas armadas ontem. Um deles era o vendedor de brinquedos Saturnino de Jesus, 64 anos. Há cinco anos na travessa, ele diz que desde que chegou, o lugar serve para os veículos e não para os vendedores informais. Saturnino acha que não pode competir com os colegas que montam suas bancas nas calçadas da Avenida Sete. “O comércio é bastante fraco, porque não tem movimento”. No entanto, ele tem esperanças de que a situação mude. “Se todo mundo estiver no beco como a gente, o comércio vai ser outro”, completou.
Não muito longe dali, está o Beco das Quebranças, que tem uncionado como retorno da Avenida Sete para a Carlos Gomes. Na entrada do local, uma placa identifica o beco como “Ambulantes – Área 14”. Se atualmente apenas o vendedor de relógios Edilson Oliveira, 50, pode ser encontrado por lá, no máximo na companhia de um colega, depois do ordenamento, as coisas podem mudar. Uma vez que podem chegar novos trabalhadores, Edilson espera que o movimento em seu ponto cresça . “Mas quero só ver se eles vão aceitar ficar aqui, porque muita gente acha que é um lugar morto”. Já no Largo do Rosário pode receber mais de 180 ambulantes, de acordo com o vendedor de bijuterias Valmir Fonseca, 48, que faz parte da Associação de Ambulantes da Região Metropolitana de Salvador (Asfaerp) e participou das reuniões com a Semop. “Não sei se vai comportar tanta gente, porque também precisamos de circulação. Quando viemos para cá, tinha 48 aqui (na Avenida Sete) 94 atrás (na Rua Direita da Piedade)”, contou. Atualmente, 15 ambulantes trabalham no Largo, segundo Valmir. Segundo ele, os ambulantes só conseguem algum lucro se estiverem junto à Avenida Sete, onde são mais vistos. Ficar de frente para a Rua Direita da Piedade dá prejuízo. “Com essas mudanças, pode acabar tendo evasão. Mas se for feito como foi apresentado para a gente, com piso, iluminação, pode ficar bonito e com atrativos para os clientes. Daí pode funcionar”, acredita Valmir. Na Rua Portão da Piedade, o que preocupa o ambulante Antônio Marinho, 63, é a superlotação. “Aqui não temos problema com o movimento. Na época de festas, chega até a ter fila”, disse. Entretanto, ele defende que a chegada dos novos colegas seja feita de maneira organizada. “Ou pode acabar até prejudicando o atendimento”, observa. IncertezaPor outro lado, muita gente que não tem seu ponto nas ruas, que podem vir a ser as áreas definitivas para os ambulantes, anda apreensiva com a futura localização. É o caso do vendedor Antonio Joaquim, 21. “A depender do local, tem que compensar muito. Aqui é bastante movimentado e a gente depende disso aqui. É esperar pra ver o que acontece”, disse o rapaz, que trabalha nas escadarias da Estação da Lapa. No meio da Rua Coqueiros da Piedade, o vendedor Mário, 46, carrega seus Pega Tudo (uma espécie de ratoeira, em forma de adesivo), debaixo de um guarda-sol, e aborda os potenciais fregueses. “Não faço bagunça, não incomodo ninguém. Na minha idade, é difícil conseguir emprego. Só quero manter a minha família”, explicou. Em horários de pico, a Coqueiros da Piedade fica intransitável. “Os pedestres se apertam entre as barracas. Todo mundo tem o direito de trabalhar, mas não pode fazer isso de qualquer jeito, botando as mercadorias no meio da rua”, definiu a ambulante Elisabete Alves, 55. Não muito longe dali, na Rua Barão do Rio Branco – caminho para o Relógio de São Pedro – as bancas também tomam o espaço do pedestre. E no próprio entorno do Relógio, a confusão é generalizada. Ao lado do módulo policial, a vendedora de mingau Ana Cristina dos Santos, 45, concordou que o negócio, por lá, anda embolado. “Tô de acordo para reorganizar. Todo mundo chega e se instala de qualquer jeito. Tem que botar ordem, mas desde que dê condição pra gente sobreviver. Só não podemos ir para lugar sem movimento”, argumentou Ana. ConfusoEntre os dribles para conseguir andar no Centro de Salvador, a ocupação desordenada dos ambulantes gera opininões diferentes também entre quem passa pela região, apesar de todos os transeuntes ouvidos pelo CORREIO defenderem que os camelôs precisam de um local para trabalhar. “A mim, não incomoda. Todo mundo aí, certamente é pai e mãe de família e precisa do seu ganha-pão”, disse o enfermeiro Lucas Rocha, 26. Já Francisco Mangueira, 75, defende que o espaço do pedestre precisa ser privilegiado. “Todo mundo precisa trabalhar, mas andar por aqui nessa área é bastante complicado”, comentou.
Ambulantes pretendem desenvolver projeto próprioPriscila Chammas Para definir os 11 pontos em que os camelôs vão trabalhar no Centro da capital baiana, primeiro a prefeitura precisa chegar a um acordo com a categoria. É que, durante a reunião realizada quarta-feira com as associações de ambulantes, algumas entidades não concordaram com o projeto, por acreditarem que parte das ruas escolhidas não tenha movimento suficiente para garantir as vendas. “São áreas que lá atrás não deram certo, então não tem por que dar agora”, justificou o presidente do Sindicato dos Feirantes e Ambulantes de Salvador, Marcílio Costa Santos. Segundo ele, as associações e sindicatos voltarão a se reunir no dia 6 de março para elaborar um novo projeto e, em seguida, irão apresentá-lo à prefeitura. “Estamos estudando algumas áreas entre o Campo Grande e a Avenida Sete que possam abrigar esses ambulantes. Ali depois da Piedade e no São Bento são duas opções que estamos estudando, porque tem muitas ‘paredes cegas’”, disse, se referindo às áreas em que não existem lojas. Outra alternativa encontrada pelos sindicatos é a de revitalizar as áreas abandonadas. “Sugerimos que se coloque atrativos nessas ruas, uma baiana de acarajé, sinaleiras...”, completa. Procurada, a secretária da Ordem Pública, Rosemma Maluf, preferiu não entrar em detalhes sobre o assunto. “A negociação é um processo demorado. Estamos dialogando”, disse, sem cravar uma data para a decisão. Uma coisa que já está definida, porém, é a capacitação dos ambulantes pelo Sebrae. “Vamos trabalhar na capacitação e formalização desses ambulantes. Explicar o que é ser empreendedor individual, ensinar a prestar um bom atendimento, lidar com o dinheiro, comprar e vender melhor...”, descreve a analista do Sebrae Indimara Dantas. Segundo ela, o curso acontecerá em cinco módulos de três ou quatro horas cada um, além de um outro curso de higiene e manipulação de alimentos, para os ambulantes que trabalhem nesse ramo. “Contribuindo com o INSS, ele passa a ser assistido pelo governo”, completa. Cidades têm boa experiência com camelódromosPriscila Chammas Reunir todos os camelôs em um lugar só não é novidade. No Brasil, diversas cidades já fazem isso através dos camelódromos, que funcionam como shoppings populares. E tem dado certo. O de Goiânia, inaugurado em dezembro de 1995, é um exemplo disso. O funcionário Roney Carlos conta que o camelódromo fica numa região central da cidade, num bairro comercial, com acesso facilitado pela proximidade com um terminal de ônibus. “Aqui vive lotado, mas o dia de pico é sábado”, conta. O local tem estacionamento e aceita cartão de crédito. “Funcionamos de segunda a sábado e alguns domingos perto de datas comemorativas. Os lojistas que estão aqui desde o início têm o direito de locação”, explica Roney. Em Porto Alegre, o sistema é parecido. A diferença é que os clientes podem consultar num site todas as lojas disponíveis no camelódromo. Esse também funciona de segunda a sábado, tudo informado no site. O site do camelódromo de Londrina, no Paraná, também tem informações sobre lojas e horário de funcionamento. Matéria original Correio 24h Prefeitura quer camelôs em 11 pontos fixos no Centro da cidade
Previsão é que ambulantes tenham que sair da escadaria da Lapa |
Área próxima ao Relógio de São Pedro já não comporta tantos ambulantes e mal há espaço para caminhar |
Veja também:
Leia também:
AUTOR
AUTOR
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade