Tonho vive no Pelourinho há dois anos. Ele diz não saber seu nome de batismo nem a idade, muito menos onde era sua casa antes de se tornar viciado em crack. Com a proximidade do Carnaval, ele mudou de endereço. Trocou as ruas de paralelepípedo do Pelô pela brisa do mar da Barra. A migração tem uma explicação: com mais turistas circulando, aumentam as chances de conseguir dinheiro por doações ou até mesmo por pequenos furtos.
“Vou pedindo na moral. Só ‘panho’ dos outros quando tô no saci”, admite Tonho, que costuma passar os dias dormido no ponto de ônibus do Porto da Barra, próximo de um caixa eletrônico. “Os barão ‘tira’ os dinheiro e daí boto moral pra cima. Rola sempre uma ponta”, completa. O delegado João Cavadas, titular da 14ª Delegacia, na Barra, explica que houve uma migração desses usuários de drogas do Pelourinho e outras áreas da cidade para a Barra, principalmente nas imediações da praia do Porto, em meados de janeiro. “Eles sabem que não vão ser mais reprimidos pela polícia pelo uso de drogas. Os moradores de rua não são um problema policial. São uma questão de saúde pública. Porém, sabemos que acabam acontecendo furtos realizados por essas pessoas no momento de abstinência do uso”, pontua. Cavadas indica que o Porto é escolhido para a migração dos chamados “sacizeiros” em função da maior circulação de pessoas. “Se aumenta a circulação de turistas, aumenta a quantidade dos chamados sacizeiros. Como tem mais gente circulando, aumenta a probabilidade de conseguir moedas de doação”, destaca. AssédioPoliciais que atuam na Barra indicam que a rua Barão de Sergy é uma das mais usadas pelos sacizeiros. “Aqui, eles pintam e bordam. Muitos são de lá do Pelourinho mesmo. Passam o dia igual a zumbis, dormindo, e quando acordam começam a pedir dinheiro e comida para as pessoas. Quando a pessoa não dá, eles fazem furtos e até mesmo roubos”, diz um PM que prefere não se identificar. Os comerciantes da região reclamam da frequência desses usuários no bairro no período carnavalesco. “Isso afugenta o turista. Está acontecendo, como tem no Pelourinho, daquela esculhambação em cima dos turistas. A sorte é que aqui tenho segurança na porta do restaurante para evitar que eles entrem, mas na rua não tenho o que fazer”, explica um gerente de um restaurante na Barra que pediu anonimato. O major Sandes Júnior, comandante da 11ª Companhia Independente da Policia Militar - Barra/Graça, percebeu que depois do Reveillon houve um aumento na área. “Muitos têm uma tendência de vir pra cá fazer a reserva de espaços para trabalhar de maneira informal no Carnaval. São guardadores de carro e ambulantes de uma forma geral. Alguns, sabemos, têm uma relação com o crack. Mas depois do Carnaval não tem mais ninguém”, estima. OperaçãoO aumento do número de usuários de drogas no bairro da Barra foi alvo de reclamação de moradores e comerciantes, segundo Maurício Trindade, titular da Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps). “Começamos a fazer uma abordagem social na Barra, na segunda-feira, depois de pedidos do trade turístico, de comerciantes e moradores afirmando que cresceu o número de usuários de drogas, principalmente crack, naquela região”, diz o secretário. A prefeitura tem 150 vagas em abrigos próprios, além de parcerias com instituições da sociedade civil.
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