A polícia trabalha com uma nova linha de investigação para a morte do deficiente físico Waldir Santos, 48 anos, ocorrida no domingo. Novas testemunhas do Conjunto Morada da Lagoa, ouvidas pelo CORREIO, nesta terça (13), indicam que a morte de Gordo, como a vítima também era conhecida, pode não ter sido acidental. Os nove tiros que atingiram o comerciante, de acordo com os relatos, seriam fruto de uma retaliação do atual chefe da boca de fumo, o traficante conhecido como Negão. “Quando Waldir estava voltando para casa, um homem atirou para cima e disse: ‘é você mesmo desgraça que tô querendo pegar’. Em seguida atirou pra valer nele. Essa é a única lei que vale aqui. A lei do tráfico”, diz uma moradora. Na versão relatada por parentes ao CORREIO, Waldir teria passado no meio de um tiroteio entre gangues de traficantes e não conseguiu escapar porque a sua cadeira de rodas motorizada descarregou. Mas um morador apontou como autor do homicídio um traficante conhecido como Galego. Outro vizinho conta que um criminoso chamado Galha estava no momento do crime e que os dois são do bando de Negão. No entanto, tanto a família, quanto os vizinhos atestam que o comerciante morto não tinha envolvimento com o tráfico e era um cidadão de bem. O motivo da execução seria porque ele era amigo de Duzinho, antigo comandante da área e rival de Negão. “Duzinho frequentava o bar dele, trocavam algumas palavras, nada demais. Em bairro perigoso como esse é preciso cumprimentar os traficantes. É uma questão de sobrevivência. O problema é que Duzinho morreu ano passado e agora Negão extermina quem acha que era amigo do rival”, ressalta um vizinho. SaúdeO titular da 5ªDT (Periperi), Antônio Carlos Magalhães Santos, confirma que Duzinho morreu numa troca de tiros com a polícia, mas garante que, apesar de existir o tráfico na área, os relatos de medo dos moradores não procedem. “No Subúrbio não tem poder paralelo. Se tiver eu mordo”. No entanto, pelo boletim de ocorrência sobre o caso, também imagina que se trata de uma execução. Mas o delegado não confirma a liderança de Negão no tráfico do Conjunto Morada da Lagoa. O presidente da Associação Municipal e Metropolitana das Pessoas com Deficência (Ampdef), Cledson Cruz, confirma a proximidade do amigo com o ex-comandante da área e revela que parte da comunidade já sabia que Waldir estava ameaçado de morte. “Após a morte de meu amigo, alguns moradores me contaram que há algum tempo ele estava jurado de morte. Mas ninguém avisou”, afirma. A assessoria de comunicação da Polícia Civil diz que a DHPP não comentará o caso para não atrapalhar as investigações. “Enquanto a polícia diz que aqui está tudo bem e enquanto o governo nos ignora, só podemos recorrer a Deus mesmo para continuarmos vivos. Quem pode se mudar, se muda. Quem não pode, fica aqui com medo”, lamenta uma moradora.
Silêncio No sepultamento do corpo de Valdir, ontem, no cemitério Quinta dos Lázaros, no bairro da Baixa de Quintas, o silêncio era uma condição. A cada parente, amigo ou vizinho que chegava para a última despedida, antes mesmo dos pêsames, era dada a recomendação: “Ninguém sabe de nada, ninguém viu nada, ninguém comenta nada”, diziam parentes. Antes do fim do velório, Valdir foi aplaudido e era lembrado pelos vizinhos pela simpatia. O sepultamento, previsto para as 15h30, só foi realizado quase duas horas depois. A demora para o corpo chegar ao cemitério, segundo contaram parentes, ocorreu porque o corpo de Valdir, que estava pesando 140 quilos, não coube no caixão inicialmente preparado para ele. Família diz que casa foi invadidaA família do comerciante Waldir Santos conta que a casa dele foi invadida ontem de madrugada. “Arrombaram e levaram a TV, dois DVDs, a geladeira, um aparelho de som e até o ventilador. As janelas estavam quebradas. Ligamos para a ex-mulher de meu pai e ela foi com uma carreta buscar o que restou”, conta a filha, Vanuza Santos. “Os traficantes quebraram a cadeira de rodas e jogaram no meio da rua porque não conseguiram levar. Também tentaram atear fogo na casa, mas os vizinhos logo apagaram os focos do incêndio”. Já a subcomandante da Base Comunitária de Segurança no local, tenente Carla Souza, afirma que o Conjunto Habitacional Morada da Lagoa, onde foi encontrado o corpo do comerciante, na realidade faz parte do bairro Valéria. “Fazenda Coutos tem aproximadamente 6km² e uma das áreas limites é a BA-528. O Morada da Lagoa está fora do bairro, localizado do outro lado da BA e, portanto não é uma zona coberta pela base”, explica. Ela ressalta que a Base Comunitária possui 120 agentes da PM e só atua dentro dos limites do bairro em que está instalada. A tenente acredita que as áreas que fazem fronteira com Fazenda Coutos, como Bate Coração, em Paripe, e Morada da Lagoa, em Valéria, ainda têm alguns confrontos diretos e são mais complicadas para o cidadão circular porque não têm a presença de uma Base Comunitária. “Isso talvez explique essas zonas terem mais registros de violência que o bairro de Fazenda Coutos. Aqui o tráfico não acabou, mas há uma melhora no ir e vir da população. Estamos fechando o cerco”, afirmou a tenente Carla Souza.
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