Embora seja irregular, o transporte clandestino de passageiros da capital para o interior do estado não acontece às escondidas. O serviço é divulgado aos gritos e é facilmente identificado nas proximidades da rodoviária de Salvador e de Feira de Santana e na BR-324, na altura da Brasilgás. O CORREIO acompanhou, na manhã desta terça-feira (31), a rotina dos clandestinos da região do Iguatemi. Ontem, um acidente grave na BR-324 deixou cinco mortos e três feridos, na altura do município de Candeias. Um dos envolvidos fazia transporte clandestino. Antes das 10h, oito clandestinos se reuniam na passarela ao lado do Shopping da Bahia. Apenas um deles anunciava o serviço, abordando quase que individualmente as pessoas que passavam andando no sentido da rodoviária. "Feira, Feira. Uma vaga, saindo agora", gritava. Outro, mais tímido, também tentava atrair clientes com a redução do nome da cidade que já virou bordão dos clandestinos. "Feira, Feira!". Perto de 12h, não se via mais o primeiro grupo, que já havia dado espaço para outros que se organizavam em uma espécie de fila, na própria passarela, definindo a ordem de saída. Os motoristas clandestinos aguardam ali os passageiros enquanto se entretém nos celulares, um trio deles em que um tinha um jornal na mão comentava o assunto do dia. “O cara não podia ter jogado para o outro lado?!”, perguntava, inconformado, um dos clandestinos, referindo-se ao motorista do caminhão que no dia anterior se envolveu no acidente com seu colega de atividade.
Abaixo da passarela e no acesso ao terminal de ônibus urbanos da rodoviária, um outro grupo de clandestinos bate ponto diariamente. Os motoristas quase sempre são conhecidos dos passageiros, que chegam a se dirigir diretamente a eles. Em média, um carro “completa” o número de passageiros em vinte minutos, dando rotatividade a fila de motoristas.Rapidez e preçoUma mulher de meia idade se aproximou do grupo e deixou claro a motivação para buscar o serviço: precisa sair de Salvador e chegar em Feira de Santana a tempo do trabalho, pela rodoviária acredita que se atrasaria. Uma outra passageira com quem o CORREIO conversou também afirmou que a motivação para se arriscar com o serviço é o tempo de viagem reduzido. “Oxê, aqui em 50 minutos no máximo a gente está lá em Feira”, estimou. Depois de combinar o serviço, o passageiro fica próximo do motorista, aguardando que ele conquiste outros cliente para sair. Os veículos, segundo contam os motoristas, ficam estacionados ao lado da rodoviária, em outro ponto. Há também quem aposte na economia ao buscar o serviço irregular. Um homem, acompanhado de um garoto que aparentava ter cerca de 10 anos, tenta negociar o valor levando o garoto no colo. O motorista recusa, defende que o menino tem que ir no cinto de segurança, eles negociam e saem com outros dois passageiros.O serviço é ligeirinho, mas não necessariamente é mais econômico. Os motoristas cobram R$ 22 pelo transporte de Salvador até Feira de Santana, o valor é igual ao que as empresas Santana e Camurujipe oferecem na tarifa sem o seguro de vida, que é opcional. Com o seguro a tarifa pela rodoviária, nos ônibus regulamentados pela Agerba, saí por R$ 24,80 na primeira empresa ou R$ 24,75 na segunda. Os clandestinos não escondem isso, alguns ao ouvirem uma pechincha respondem “lá dentro estão cobrando R$ 24”. O serviço Executivo da Santana é R$ 32,40. Na rodoviária, os clandestinos se recusam a negociar o valor.O CORREIO aguarda posicionamento da Agerba, responsável pela fiscalização do transporte intermunicipal e da PRF. Questionado, o secretário da Mobilidade Urbana (Semob), Fábio Mota, afirmou que existe fiscalização. "Nós temos uma operação que é todos os dias, diariamente na cidade contra o transporte clandestino. Nessa operação, já passamos de 250 veículos apreendidos e o Uber está dentro disso. Temos uma força tarefa formada pela Semob, Transalvador, Detran e apoio do Esquadrão Águia, desde janeiro desse ano. Tem mais de 30 pessoas. Os principais pontos são Aeroporto, rodoviária, São Cristóvão (perto do shopping Salvador Norte), Largo do Tanque, Largo do Luso (av. Suburbana) e em Dom Despacho. O apoio do Esquadrão Águia foi após a integração dos ônibus com o metrô, e tem ajudado muito".
Foto:Correio |
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Redação iBahia
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