Depois de 25 anos sem produzir uma única fita do Bonfim em território baiano, uma pequena cooperativa instalada atrás da Igreja do Bonfim começou, na última quinta-feira (12), a confeccionar modelos feitos da forma antiga. A nova medida é branca, feita de algodão, leva cerca de um mês para se romper, custa R$ 1 a unidade e é hoje, de acordo com o produtor, um dos itens mais procurados da cidade.
O amuleto foi apresentado, na manhã da última sexta (13), durante a realização do Fórum Estadual de Turismo, no Centro de Convenções, em Salvador. "Todo mundo quer a sua. Na quinta-feira, dia em que começamos a produzir, fizemos mil unidades e vendemos tudo. As pessoas lotaram a porta do casarão. Hoje aconteceu a mesma coisa. E não paro de receber encomendas de hotéis e butiques”, festeja Moyses Cafezeiro, presidente da Cooperativa de Produtores de Artigos Religiosos e Culturais da Bahia (Cooparc), que emprega dez funcionários e produz 30 fitinhas por minuto.
Produção paulista - Já a fitinha colorida, encontrada em qualquer esquina da cidade, é feita em fábricas de tecido de Sumaré (SP). “Eles produzem cerca de 50 milhões de fitas por mês, em rolos”, diz Moyses, que também é guia turístico e pesquisador do assunto.
“Tem fita que vem até da China, vê se pode”, diz ele. A Cooparc investiu R$ 180 mil - “adquiri o casarão ‘no chão’ e reformei todo”, diz Moyses -, que produz outros tipos de amuletos como figas, santos e velas. Enquanto a fitinha produzida lá fora demora até três anos para se partir, a nova leva mais ou menos um mês.
"Acho ótimo. Eu já até esqueci dos meus pedidos”, diz o turista de São Paulo Kairon Rodrigues, 25 anos, que conserva no pulso o que resta de uma fitinha azul que amarrou no Carnaval do ano passado. Em plena sexta-feira 13, ele fazia número entre a multidão que foi à Igreja do Bonfim pedir ou renovar pedidos mediante a amarração da fitas nas grades do templo. “Essa fita no braço não parte nunca”.
E ninguém é louco de cortar, não é mesmo? “A gente quer que rompa rápido para o desejo se realizar logo”, diz o amigo de Kairon, Heitor Castro, 29. A tradição é esperar que a fitinha se ‘quebre’ sozinha, para que os três desejos, feitos na hora de dar cada um dos nós, se realizem. A demora das fitinhas coloridas é culpa do material, o poliéster. Uma das fábricas de São Paulo, que produz cinco milhões de fitas do Bonfim por mês, vende a durabilidade do produto: “O pano, 100% poliéster, não desfie”.
Já a daqui é artesanal. “Tudo é feito à mão, até a trama do tecido é a gente que faz. É quase toda de algodão, mas tem que ter 10% de poliéster, senão a tinta não pega”, explica. A nova é mais larga, mais macia, mais brilhante e lembra aquelas fitas de cetim de fazer laço em cabelo de menina.
Moyses reclama do turismo feito na Bahia. “As pessoas aqui levam o turista para o Mercado Modelo, para uma loja ou outra e só”, queixa-se. Ele se diz um guia diferenteciado. "Quando recebo um turista, não largo ele em loja de pedra preciosa e vou embora. Levo ele pra passear de barco, levo no Museu de Arte Sacra, levo para conhecer a história da minha cidade".
Medida - A fitinha do Bonfim também é chamada de medida porque, quando surgiu, no início do século XIX, media 47 centímetros, comprimento do braço direito da estátua do Senhor do Bonfim, postada no altar-mor da igreja baiana de mesmo nome. A tradição acompanha a família de Moyses. “Meu pai era devoto do Senhor do Bonfim. Ele comprava o algodão puro, pedia para uma costureira fazer fitas e as distribuía entre os amigos”, lembra. Matéria original: Correio* Fita do Bonfim fabricada na cidade será de algodão e romperá com facilidade
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