No sobe e desce das ladeiras, no entra e sai dos becos, os meninos filiados ao novo “partido” são chamados de “parceiros”. Munidos de pistolas e fuzis, falam, andam, seguem à risca o “sistema”. A facção Comando do Boqueirão (CB) representa para muitos a possibilidade de pertencer a um grupo que tem prestígio e poder na localidade da Santa Cruz. O grupo criminoso ganhou força há um ano no complexo do Nordeste de Amaralina, apesar das três Bases Comunitárias (inauguradas em setembro de 2011) e de uma Companhia da Polícia Militar. Hoje, os moradores do Boqueirão se declaram acuados. O CB foi fundado por um dos ex-integrantes do alto escalão do Comando da Paz (CP) - identificado pela polícia como Leandro, que nunca foi preso. “O homem de confiança dele, hoje, é o Elias”, afirma um agente da 28ª Delegacia (Nordeste de Amaralina), referindo-se a Marcelo Henrique Menezes dos Santos, o Ás de Ouro do Baralho do Crime, instrumento da Secretaria de Segurança Pública (SSP) que reúne os bandidos mais procurados do estado. Elias - também conhecido por Marcelo ou Pinto, de acordo com o baralho - é o gerente do tráfico no Boqueirão.
OrganizaçãoO Comando do Boqueirão é formado por pouco mais de 20 integrantes, a maioria de jovens entre 14 e 17 anos, além de crianças. A facção domina uma região próxima às Bases Comunitárias de Nordeste de Amaralina e Santa Cruz. Com o aval de Leandro, Elias comandou várias execuções no complexo do Nordeste. Investigadores da 28ª DP afirmam que, ele, Eli Sandro Santos Xavier, o Delícia, e Francisco Barbosa dos Santos Filho, o Chico Malta, sentenciaram a morte rivais da Chapada do Rio Vermelho. “O Elias consegue fazer com que a comunidade tenha temor através das ameaças. Ao mesmo tempo, ele compra moradores com remédios e dinheiro para ter uma rede de informantes”, conta o delegado da 28ª DP, Marcelo Sansão. Elias tem mandado de prisão em aberto por roubo e porte ilegal de arma, enquanto Sandro e Francisco foram presos pela polícia. Outros conhecidos da quadrilha pela polícia são Chouriça, Tchaco, Belisco, Da Bruxa e Michel. Facção A principal entrada para o Boqueirão é pela Rua Pará. A Base Comunitária do Nordeste está instalada em uma transversal da rua, o Beco da Cultura. Apesar da proximidade, moradores afirmam que a polícia aparece pouco no Boqueirão.
“Aqui, na Rua Pará, é a Pituba. Mas quero ver eles (policiais) entrarem no miolo. Não vão. A polícia comunitária é fachada”, diz a dona de um bar na Rua Pará. O major Marcelo Barbosa, da 40ª CIPM e comandante das bases do complexo do Nordeste de Amaralina, disse que tem conhecimento de um grupo organizado no Boqueirão. “Pelo nome (CB), ainda não ouvi falar, mas existe uma facção organizada por moradores da região”. Ele reconhece que para a polícia é difícil circular na região. “A iluminação fraca e em 60% do território não dá para entrar com carros ou motos. As incursões são realizadas a pé”, explica. A dona do bar diz que, quando a polícia entra no território do CB, as guarnições costumam circular até o Largo de Carvalho, final da Rua Pará, onde a rua dá acesso a outras ruas da comunidade, mais estreitas e de difícil mobilização, como a Rua Emídio Pio, onde funciona o QG da facção. “De frente a uma padaria, há um beco e nele uma casa. É lá que todos eles do CB se reúnem à noite. Mas se você passar por lá durante o dia vai encontrar uns três rapazes com armas na cintura”, contou outro morador. Segundo ele, é comum meninos de 10 anos circularem com armas na cintura, fumando e bebendo. “Eles se acham homens porque foram recrutados pelo tráfico. São capazes de matar por qualquer motivo. Eles são mais perigosos que os mais ‘plantados’”, completa. Um rapaz que mora há poucos metros da Rua Emídio Pio, disse que certa vez voltava para casa num táxi de um amigo que também mora no Boqueirão. “Entramos com o farol ligado, como de costume, pois eles nos obrigam a dar jogo de luz como senha para o acesso, mas ainda assim dois homens apontavam as armas para nós e gritavam para ligar a luz interna”, conta o rapaz. Segundo ele, um dos bandidos já apontava a arma para sua cabeça quando foi reconhecido pelo homem armado. “Naquela hora pensei que seria meu fim. Ele olhou pra mim, me cumprimentou e mandou seguir”, lembra. Os moradores contam que são ameaçados constantemente. Os bandidos costumam fazer festas regadas a muita bebidas e drogas nos finais de semana. “A gente tem que engolir tudo isso calado. Quem afronta morre”, denuncia uma dona de casa. Origem e futuro O Comando do Boqueirão nasceu de uma cisão no Comando da Paz. Segundo agentes da 28ª Delegacia, a partir das transferências dos líderes CP, Cláudio Campanha, o Perna, e Joseval Bandeira, o “Val Bandeira” - da Unidade Especial Disciplinas (UED) para presídios federais em 2009 -, Leandro usou o prestígio que gozava no CP para obter a confiança de uma parte da quadrilha que dominava o complexo de Nordeste de Amaralina. Instalado no Boqueirão, o líder de CB teria ordenado a morte de rivais e daqueles do próprio CP que se rebelavam contra ele, tentando instalar no Boqueirão bocas independentes. Apesar de o número de homicídios ter caído no Nordeste desde a instalação das Bases Comunitárias (veja ao lado), hoje a polícia alerta que numa eventual soltura de Val Bandeira a situação pode complicar na região. “Se ele sair do presídio federal a gente não sabe como será a reação do grupo de Leandro e Elias. Ele (Val) não tem mais ascendência no grupo e pode gerar mais problemas”, afirma o delegado da 28ª. Câmeras de vigilância foram destruídas duas vezes pelo tráficoMoradores do Boqueirão relatam que a situação de insegurança era bem diferente até fevereiro deste ano. Com a greve dos policiais militares, o as 25 câmeras que foram instaladas em setembro de 2011 na montagem das bases comunitárias foram destruídas por traficantes.
“Aqui no Boqueirão, todas estão quebradas. As câmeras pelo menos intimidam a bandidagem”, afirma um aposentado. Os ataques às lentes de monitoramento foram feitos com pedras, paus e barras de ferro. Coordenador das Bases Comunitárias do Estado, o coronel Zeliomar Almeida reconheceu o problema em relação às câmeras de segurança no Nordeste. “Durante a greve, houve a depreciação. Nós acionamos a equipe técnica que consertou, mas houve novamente a ação dos delinquentes”, diz o coronel, que prometeu providencias o conserto dos equipamentos a partir de hoje. Polícia reconhece dificuldade no combate ao tráfico na Santa CruzO delegado Marcelo Sansão, da 28ª Delegacia, afirma que as Bases Comunitárias estão sendo eficazes na diminuição dos crimes contra a vida, mas reconhece dificuldades no combate ao tráfico especificamente na Santa Cruz. “As bases impactaram na redução de homicídios. A diminuição veio através da presença policial e como consequência da diminuição do tráfico. Além disso, Na Chapada do Rio Vermelho e no Vale das Pedrinhas, realizamos várias prisões. Mas, na Santa Cruz, ainda temos dificuldade por causa da organização da quadrilha (CB)”, afirma. Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) mostram uma redução de 50% no número de homicídios na região este ano. De janeiro até sexta-feira, a SSP contabilizou 12 assassinatos no complexo este ano, contra 23 no mesmo período do ano passado. O delegado Marcelo Sansão destaca que o trabalho das polícias Civil e Militar é constante no Nordeste de Amaralina, mas que os bandidos têm apoio de outras quadrilhas. “Isso aqui é muito complexo. Os grupos daqui têm ligação com outros bandos, com o de Ia, do Bairro da Paz”, afirma. Segundo ele, quando a polícia aperta o cerco, as quadrilhas migram temporariamente para outras localidades da cidade. Matéria original Correio 24h Nova facção se forma em área da Base Comunitária do Nordeste de Amaralina
Sem as câmeras de vigilância nos postes, população fica mais acuada |
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