A arte é uma das muitas maneiras de nos posicionarmos politicamente. E, desde julho do ano passado, algumas mulheres de Salvador resolveram se unir e usar o grafite para divulgar suas ideias. Sista Katia, Quel, Tata, Su, Singa, Gata_Xis e outras meninas se reuniram em uma rede social e começaram a marcar saídas para pintar muros pela cidade. “A ideia era ter um contato fora do virtual para a gente se conhecer, criar uma ligação afetiva para além da pintura”, comenta Sista Katia, a mais experiente do grupo, que já grafita há oito anos.
A maioria das outras garotas se conheceu no curso de formação Feminismo e Grafitti, promovido pela Rede Mumbi – Mulheres Militantes do Bairro à Internet. Quel, 22 anos, lembra que sempre quis grafitar, mas tinha medo da rua, o que mudou depois do curso. Tata, 32, fez a formação porque queria saber mais sobre grafite. Com Su, também de 32 anos, foi o contrário, queria entender mais de feminismo e, segundo ela, só sabia desenhar boneca palito. Gata_xis, 32, já pintava, mas não pensava muito nas questões feministas. E Singa também só fez seus primeiros traços durante o curso. Quatro meses depois, elas saíram pela cidade pintando muros com desenhos que trazem figuras femininas e mensagens feministas. “Pra mim, o grafite é um porta-voz do empoderamento feminino. Estou no rolê para quando uma menina vir minha bonequinha preta se enxergar e se achar bonita”, afirma Su. Para Tata, esse é um dos papéis da arte. “Valorizo muito a questão da estética e da cultura porque ela tem um poder muito importante”, pontua ela, que é professora de Arte e Tecnologi
Essa foi a forma que elas encontraram para ocupar a rua. “A gente sai com a proposta de protagonizar e representar a mulher dentro da sociedade e no cenário do grafite”, comenta Singa. As garotas observam que não era tão comum a presença feminina nas saídas, nem nos muros. “Apesar de ter mulheres pintando, o trabalho não era tão divulgado. Essa é uma forma de quebrar barreiras, chegar nos lugares e alertar outras pessoas que não estão atentas ao preconceito”, completa.
Opressão internaO grupo também é uma forma de lutar contra o machismo dentro do próprio movimento. Sista lembra que, assim como qualquer lugar, no grafite, práticas machistas ainda persistem. “É um reflexo da sociedade. Tem essa expressão da periferia, mas não quer dizer que tenha desconstruído patriarcado, xenofobia, transfobia, homofobia, gordofobia e outras”, explica. Para ela, a arte foca em discutir pautas específicas, como racismo e desigualdades sociais, mas esquece outros temas. “Quando você não dá importância a outras coisas, repercute, perpetua opressões e fecha os olhos para coisas que também são importantes”, diz. Apesar disso, ela lembra que, por ser uma arte marginalizada, prefere que essas questões sejam tratadas internamente. “A gente tem que discutir isso dentro da cena, não é algo que eu goste de fazer fora do grafite”, conta.
IrmandadeAs meninas pontuam algumas diferenças entre os rolês que fazem entre elas e aqueles acompanhados de homens. A principal delas é o tratamento que recebem. “A gente chapa muro, divide sprays. Com eles não é bem assim”, revela Sista. Su entende isso como uma forma de colocar em prática o discurso feminista. “Pra mim isso é sororidade. Quando Tata me oferece carona se vamos pintar, quando Sista me dá uma máscara porque eu acho que estou com alergia à tinta ou quando Quel me empresta uma lata, entende?”, finaliza.
Da esquerda para a direita: Sista Katia, Su, Quel, Gata–Xis, Tata e Singa. Ideias feministas espalhadas pelos muros da cidade através de grafites (Fotos de Alex Dantas/Divulgação) |
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