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SALVADOR

Moradores do Santo Antônio querem redução nos dias de festa

A comissão formada acusa a Associação de Moradores do Bairro do Santo Antônio de transformar a festa em um pandemônio

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20/05/2012 às 9:20 • Atualizada em 01/09/2022 às 10:10 - há XX semanas
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Rezar 13 dias seguidos, duas horas por dia, vá lá. Mas, passar 13 noites sem dormir, ver a porta da casa ser feita de mictório e chegar a ser impedido de estacionar o carro na própria garagem já é demais. Os moradores do aprazível Santo Antônio Além do Carmo estão fartos da maneira como é organizado atualmente o lado profano da Trezena de Santo Antônio, que há mais de 240 anos acontece no bairro. Enquanto dentro da igreja a trezena de cânticos e orações acontece do jeito que Deus e a comunidade gostam, do lado de fora o descaso das autoridades e a falta de educação do povo fazem o diabo com uma das mais tradicionais festas litúrgicas e populares de Salvador.
Moradores do Santo Antônio querem redução nos dias de festa
No ano passado, relatam os moradores, um homem foi assassinado após uma briga. Revoltados com a insegurança, o excesso de barracas, a sujeira, a falta de banheiros e a depredação do patrimônio, eles se organizaram para propor um novo modelo de Trezena. A comissão formada acusa a Associação de Moradores do Bairro do Santo Antônio (Amabasa) de transformar a festa em um pandemônio. Segundo Tânia Pastore, uma das líderes da comissão, a Amabasa é antiga, sem qualquer representatividade hoje, e explora a festa há dez anos. Desde então, a festa profana passou a ser realizada ao longo dos mesmos 13 dias da festa religiosa. Antes, os festejos duravam só cinco dias. Um morador conhecido como Idalmar Gaspar, que seria o presidente e único integrante da Amabasa, estaria centralizando a organização do evento e descumprindo normas da prefeitura. “Ele consegue 40 autorizações da Sesp para montar barracas e coloca mais de cem. O espaço não suporta. A festa dura mais tempo que o Carnaval. Tem sido muito prejudicial não só para os moradores, mas para o sítio histórico em que está instalado o Santo Antônio”, diz Tânia. Durante dois dias, o CORREIO tentou entrar em contato com Idalmar, mas um homem atendia seus celulares e dizia que ele estava ocupado. A reportagem também foi na casa do presidente da Amabasa, na Rua dos Carvões, no próprio Santo Antônio, mas ninguém abriu a porta.
Exagero O novo projeto de Trezena, enviado à Secretaria de Serviços Públicos e Prevenção à Violência (Sesp), prevê não só a redução da quantidade de barracas como a diminuição do número de dias da festa de largo. Seriam 40 estabelecimentos, metade bares, metade quermesses. “Ninguém quer acabar com a festa. Gostamos do que acontece no largo, mas não precisa exagerar, né?”, diz Tânia Pastore. Mais de 600 moradores assinam um abaixo-assinado contra o fim dos festejos, mas radicalmente a favor das mudanças. Entre os problemas, os moradores ouvidos pelo CORREIO citam a venda de bebidas alcoólicas a menores de idade, a poluição sonora, a falta de ordenamento do trânsito e do solo, brigas generalizadas e até mortes. “O povo faz sexo na porta das casas. Você sai de manhã e vê as camisinhas pelo chão. Meu portão vira urinol. Um mau cheiro insuportável. Tem que tomar Lexotan para dormir”, diz Aguinaldo Inácio de Oliveira, 66 anos, que há 40 mora na Rua Direita do Santo Antônio. “Para os moradores entrarem de carro é um inferno. Já estacionaram na frente do portão da minha garagem. Quando a gente consegue botar o carro para dentro, fica preso”, reclama Aguinaldo. A aposentada Tereza Pereira, 57, reclama da falta de banheiros. “Pode ser homem ou mulher, eles se abaixam aqui na frente e fazem necessidades. O som é altíssimo e de baixa qualidade. São 13 dias sem dormir, meu amigo. Precisa disso? Tudo tem limite. Essa festa antes era uma beleza”. Uma senhora que mora bem ao lado da igreja até se emociona. Cuida de uma mãe doente que passa 24 horas em cima da cama e sofre muito com a festa. “Já encontrei fezes no meu quintal. Precisa dizer mais alguma coisa? Não quero que acabe a festa. Quero que melhore”, pede. Os esforços para transformar a Trezena de Santo Antônio iniciaram em setembro do ano passado. A intenção da comissão é que a festa de largo seja realizada apenas nos primeiros cinco dias da trezena religiosa, que acontece entre 1º e 13 de junho. Na igreja, as rezas costumam iniciar às 20h e terminam duas horas depois. “Aí é hora de ir para o largo. Se Deus quiser, esse ano conseguiremos fazer uma festa bonita e sem problemas”, finaliza Tânia Pastore. Reunião com MP nesta quartaEstabelecida a pendenga, a comissão formada pelos moradores encaminhou abaixo-assinado ao Ministério Público, que marcou uma reunião com todos os envolvidos para essa quarta-feira. Vão estar presentes a Secretaria de Serviços Públicos (Sesp), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e diversas representações de moradores. Inicialmente, a Sesp se colocou a favor das mudanças. À ouvidoria da Câmara, o subsecretário Emerson Palmeira disse que o pedido de licença seria negado à antiga associação. Mas, ontem, Palmeira sequer opinou. “Antes da reunião não falo mais nada”. Por outro lado, a comissão de moradores revelou que, apesar de tudo, o Iphan já emitiu parecer para a antiga associação realizar o evento em 2012.

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