Você passa pelo Campo Grande e respira fundo. Ao chegar no Dique do Tororó, faz a mesma coisa. Pra que preocupação se os equipamentos que monitoram a atmosfera de Salvador apontam que, em 98% do tempo, a qualidade do ar está boa? Entretanto, especialistas ouvidos pelo CORREIO dizem que este não é um indicativo para que a população respire aliviada. Segundo eles, a lista de poluentes medidos é limitada e algumas substâncias que podem causar até câncer ou desregular o sistema endócrino não são monitoradas. “Os padrões de qualidade, que estabelecem valores limites dos poluentes que asseguram a qualidade do ar, aqui no Brasil, estão completamente defasados em relação ao que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda”, diz Tânia Tavares, coordenadora do Núcleo de Química Analítica Ambiental da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Patrocinado pela empresa Braskem e executado pela Cetrel, o serviço de monitoramento é fruto de um convênio envolvendo a prefeitura e o Governo do Estado. Segundo Tânia Tavares, as substâncias medidas em Salvador (Monóxido de Carbono, Dióxido de Nitrogênio e de Enxofre, Ozônio e Particulado Inalável) estão relacionadas ao agravamento de doenças do sistema respiratório. “Quando soube que teria esse sistema de monitoramento, sempre soube que a qualidade ficaria quase todo o tempo boa. Salvador tem boas condições de dispersão. Ou seja, é um investimento caro para medir o que já se sabe que não vai dar, enquanto outros poluentes relevantes estão de fora”, avalia a pesquisadora. Por sua vez, Eduardo Fontoura, responsável pela operação das estações, diz que nunca houve um monitoramento com aparatos tecnológicos tão avançados como os usados pela Cetrel, que mantém também 14 equipamentos de medição na região do Polo de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. “É um grande avanço termos estas estações, precisávamos ter começado, não adianta esperar a situação ficar caótica para se preocupar”, diz. Já Eduardo Topázio, coordenador de monitoramento dos recursos ambientais do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), argumenta que com o estações da Cetrel, é possível acompanhar os dados para que o Governo do Estado possa realizar ações. “Já podemos dizer, por exemplo, que a maior parte dos poluentes no estado vêm de fontes veicular”. Riscos “Em Salvador se usa muito veículo a álcool e a combustão desta substância não é medida. Assim como a combustão do diesel, que gera uma substância conhecida como HPA, que pode causar câncer”, rebate Tânia Tavares. Os HPAs têm maior concentração, de acordo com a cientista, nas áreas de menor dispersão atmosféricas. Exemplos destes locais são o Corredor da Vitória e trechos das Avenidas Antonio Carlos Magalhães e da Paralela onde há muitos prédios concentrados. “Os índices às vezes são baixos, mas uma pessoa que trabalhar em uma rua dessas todos os dias pode ser prejudicado”, adverte a pesquisadora Universidade de São Paulo (USP) Nelzair Vianna, que estuda os riscos para a saúde decorrentes da poluição atmosférica em Salvador. Atualmente, a rede de aferição do ar da capital baiana tem estações no Campo Grande, Paralela (próximo ao CAB), Avenida Juracy Magalhães Júnior, Pirajá e Dique do Tororó. O investimento foi de R$ 15 milhões e as estações processam dados a cada hora. Árvores Quem passa por estas estações percebe que todas estão em locais arborizados, o que para as especialistas ouvidas pelo CORREIO pode ter interferência no resultado. “Um estudo que pretende apontar uma média da realidade deve ter priorizar situações diversas, de maior ou menor exposição a poluentes”, lembra Vianna. O responsável pelos equipamentos, Eduardo Fontoura, afirma que todos os requisitos para o monitoramento foram atendidos e as árvores não têm grande interferência. “O levantamento foi por circulação de veículos, não há nenhum desvio de resultado”. Segundo Fontoura, a previsão é que três novas estações entraem em funcionamento nos próximos 60 dias: Calçada, Iguatemi e Parque da Cidade. Um nono ponto de monitoramento deve ser implantado na Rótula do Abacaxi, mas ainda sem previsão. “Nesta última preferimos aguardar um pouco mais, já que está havendo muitas obras na região. Se instalar agora, mediremos os impactos da obra e não do local”, explica. Um estação móvel completa o serviço, que é usado para monitorar a qualidade do ar em eventos como o Carnaval ou para espaços com demandas específicas. Matéria original Correio 24 Medidores de qualidade do ar não seguem determinação da OMS
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