O laudo necroscópico do produtor Leonardo Moura mostra que a vítima foi morta por instrumento contundente - que provocam lesões por pressão exercida, batendo ou chocando. Leonardo morreu em julho, dois dias depois de ser achado desacordado em uma praia no Rio Vermelho. A Polícia Civil chegou a concluir o inquérito como caso acidental, mas o Ministério Público pediu novas investigações sobre o caso.
"O laudo diz que ele teve lesões provocadas por instrumento contundente. Isso pode ser uma paulada. Pode ser a pessoa caída no chão, levando chutes repetidamente. Pelo laudo e pelos depoimentos, ele foi colocado no local. É completamente incompatível com uma queda", diz o advogado Leite Matos ao CORREIO.
O laudo, que teve conclusão enviada pelo defensor à reportagem, diz que Leonardo morreu de anemia aguda devido a lesão renal direita e hematoma retroperitonial, com trombose cardíaca. A possibilidade da queda não é descartada de maneira categórica. O MP-BA deu um prazo de 30 dias para a Polícia Civil concluir as novas diligências, que incluíam, além do laudo, novos depoimentos, entre outros. O prazo se esgota na próxima semana. Quando o inquérito for reenviado, caberá ao MP decidir o que fazer. "O que posso fazer é buscar a verdade real. Na minha opinião, já tem elementos para denúncia, mas eu não posso dizer o que o MP tem que fazer", acrescenta o advogado, que questiona os depoimentos de algumas testemunhas. "Basta ler com atenção para ver que têm depoimentos adestrados". A Polícia Civil já havia se manifestado informando que não vai se pronunciar mais sobre o caso.
Espancamento ou queda
A família de Leonardo desde o princípio acredita que o rapaz morreu vítima de espancamento. Ele foi encontrado desfalecido depois de sair da boate gay San Sebastian, no Rio Vermelho, e a possibilidade de um ataque homofóbico foi cogitada. Mas a Polícia Civil concluiu em seu inquérito que o produtor morreu vítima de uma queda. Um perito ouvido pelo CORREIO afirmou que as lesões eram características de agressão.
Segundo a Polícia Civil, um total de 14 testemunhas foram ouvidas na 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico) para a elaboração do inquérito. Entre elas, socorristas, policiais militares, familiares, moradores da região e a médica do Hospital Geral do Estado (HGE) que prestou o primeiro atendimento ao rapaz.
De acordo com a médica do HGE, Leonardo quando chegou ao hospital tinha lesões condizentes com o relato de queda feito pelos socorristas do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu). “Ele estava cheio de areia e com escoriações simétricas e discretas. Não havia sangramento aparente, nem lábios partidos. Não se queixava de dor”, afirmou a profissional.
Ela disse ainda que Leonardo estava relutante. “Ele não queria ficar na maca, saía o tempo todo. Tanto que fui avisar ao chefe do plantão que ele estava inquieto e, por isso, difícil de intermediar a solicitação dos exames (tomografia da região da bacia, tronco, pescoço e cabeça). Ao voltar para sala de sutura, onde Leonardo estava, não o encontrei e relatei o sumiço”, explicou a cirurgiã.
Questionada sobre as bolsas de sangue na parte inferior do olho de Leonardo, a médica explica que uma lesão na região óssea do nariz é compatível com a equimose (acúmulo de sangue) tão simétrica que o estudante apresentava no dia seguinte a sua entrada no Hospital. Segundo a Polícia Civil, a versão coincide com a de três testemunhas que viram o estudante cair com o rosto voltado para a areia.
Ainda segundo o inquérito, havia um pequeno sangramento no nariz de Leonardo, logo após ele cair da balaustrada. “Não existem imagens no local onde ele caiu, mas as informações coletadas, principalmente as testemunhas e os profissionais de saúde, são suficientes para fecharmos o caso”, explicou a delegada Mariana Ouais, titular da 1ª DH, que presidiu o inquérito.
Boate
Horas antes de ir para a boate, Leonardo estava na Barra com a irmã, a designer de interiores Adriana Moura, 33. “Estávamos no Farol, com duas amigas, quando ele decidiu ir para a boate com amigos”, contou. Leonardo entrou na San Sebastian por volta das 3h. “Vi quando ele entrou. Já tinha parado o fluxo de gente entrando”, disse um funcionário ao CORREIO. Segundo ele, o produtor chegou a ter um problema na consumação, mas foi resolvido com a gerência. A assessoria da boate, no entanto, diz não ter registrado nenhum incidente com ele naquela noite. Tiago, um dos amigos, contou que se despediu de Leonardo, na frente da boate, às 4h50. Menos de uma hora depois, a 1 km dali, o produtor foi achado ferido e desacordado.
Resgate
Encontrado na praia por moradores e PMs, e socorrido pelo Samu, Leonardo deu entrada às 8h do dia 9 de julho, um sábado, no HGE, com relato de intoxicação por bebida alcoólica e perda da consciência. Foram pedidos exames de trauma, mas, por conta própria, ele deixou a unidade às 10h. Foi para casa, mas, após se queixar de dores, voltou ao HGE, às 15h30. Foi direto para o centro cirúrgico e, na operação, perdeu um rim. Após dois dias internado, teve dispneia — dificuldade para respirar — e morreu após parada cardiorrespiratória.
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Redação iBahia
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